Costumo seguir alguns linguistas e professores de literatura. E esta não é uma atividade entediante, sou constantemente pega por surpresas e discussões incríveis.
Por exemplo, em 3.3.2023, o professor Marcos Bagno falou sobre o episódio de Fernanda Torres ter citado que a etimologia de "coitado" seria de coito, quando, segundo ele, qualquer consulta a um dicionário mostraria que se origina de "coita" que significa "sofrer". Em 4.3.23, o professor Sírio Possenti aproveitou essa discussão para acrescentar que leu numa revista uma resenha interressante sobre a língua, à qual fez a ressalva de que o autor não utiliza o conceito de "português popular", mas de "português errado", conceito este inadequado na linguística moderna ao se referir a um falante nativo de uma língua.
Nesta mesma linha, Bagno fez outra postagem em 4.3.2023 criticando escolhas no uso da língua, por uma revista que ele costuma ler, dizendo que nela foi abolido o uso legítimo do gerúndio, amplamente difundido na língua brasileira, em prol da forma "a + verbo no infinitivo" como usado em Portugal. E que também estariam abolindo o uso da oração adjetiva (relativa), como em: "a reforçar as desigualdades", quando deveria ser "que reforça as desigualdades".
Ainda sobre língua e literatura, a postagem mais interessante, que despertou este texto, foi feita em 4.3.2023 pelo professor Deonisio da Silva. Ele postou um documento levantado numa pesquisa de Claudio Soares, mostrando que o conto "O Alienista" de Machado de Assis, originalmente publicado em "folhetim", tinha um fim diferente daquele que conhecemos dos livros de Machado. Nos comentários do post, Cláudio Soares, autor da pesquisa, afirma que isso não surpreendeu os pesquisadores, pois é sabido que entre a publicação em folhetins de então até a publicação em forma de livro, o texto poderia sofrer revisões. E cita como exemplo dessas mudanças um "lapso" existente em Dom Casmurro, cuja história no folhetim começaria em Cantagalo enquanto no livro que conhecemos, começa em Itaguaí.
Todas essas observações me levaram à reflexões sobre os saberes e informações disponíveis nas redes, me conectando a uma conversa com meu filho que recentemente optou por se desconectar delas com o objetivo de se dedicar à atividades mais significativas do seu dia a dia e se afastar das superficialidades difundidas pelas redes. Pelas muitas informações preciosas que recolho das mídias sociais, umas mais relevantes outras menos, tendo a enxergá-las como meio de colher informações, e não apenas como fonte de distração, que também são, sem dúvidas. Informações que chegam em pílulas, cabendo a cada um se aprofundar ou não conforme seu interesse. Tudo ali disposto como em um bufê self-service onde cada um, a princípio, escolhe entre o joio e o trigo o que quer ler e ver. Mesmo consciente de que nem todos podem escolher, tendo a achar que a rede deveria nos servir, nos ser útil, abrir nossas cabeças para conhecimentos múltiplos, possíveis de serem filtrados por meio de mecanismos reguladores diversos. Caberia a quem regular o que ali se deposita? A quem caberia regular o seu uso? Esta é mais uma discussão desafiadora na pauta das atualidades...
É incrível poder acompanhar em tempo real as mais modernas discussões sobre a nossa língua e literatura e, ao mesmo tempo, a ampla discussão sobre o uso das mídias sociais... Mas haja cérebro...
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P.S. As reflexões que levanto nas mídias sociais, que os professores trazem às redes, muitas vezes são as sementes que vão gerar estudos, resenhas ou artigos. Com algumas mudanças...
Israel 5.3.2023
Raquel Teles Yehezkel:
Fontes:
- Postagem de Deonisio da Silva sobre o final do conto "O Alienista" de Machado de Assis e sobre mudanças em Dom Casmurro, em trabalhos de Cláudio Soares. Link acessado em 5.3.2033:
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid04ih6uVPhG23GrKN6jnJSenDYdYAmDJYubzjDu6H6YyNzfqMDVGfkkU3LWrfRoH9Ql&id=100000369896973&mibextid=Nif5oz
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid0uimzSxFgzSTNuLK3nbstfeR7LDCQPdGJeMueLAYG874VAi3oVD9q1G4cuj4TkmN2l&id=100000369896973&mibextid=Nif5oz
- Link das postagem de Marcos Bagno, acessadas em 5.3.2023 de
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid02vTuukYqQRdVAH8njiBLTa5xcpQNTDDFnQwV6CbmPJMLunhXtDDYg4YmpkhdEsVgMl&id=100002532385353&mibextid=Nif5oz
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid02nwWW4guzf5YyENH4qzVPKXFqzT7HRLsZjU2NJU4WecMckTbX2v89bv4UvXa8uLrzl&id=100002532385353&mibextid=Nif5o
- Link da postagem de Sírio Possenti acessadas em 5.3.2023:
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid0GnQEXyyjKirnyESBJ5zDjCGPPi8GnN4VZT48JhbX83BQBsvnoPguWzbDLkv6j5P2l&id=100012193955602&mibextid=Nif5oz
- Link para postagem de Cláudio Soares sobre as mudanças ocorridas em Dom Casmurro entre o folhetim e o livro, acessado em 5.3.2023:
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid024nBm7zHRNjzgVS16yPretQxLn8m3T3FGnmfsDvSw6FMfnEauLpfGvNGRJ2p8A6rol&id=589386353&mibextid=Nif5oz