Raquel Teles Yehezkel
CLASSIFICAÇÃO
DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Trabalho final do curso de Filologia
Românica:
Formação Histórica das Línguas Românicas
(LET 022 / M1),
ministrado pelo prof. dr. César Nardelli
Cambraia.
Faculdade de Letras
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte 03 de julho de 2008
CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Raquel Teles Yehezkel
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Segundo Rodolfo
Ilari (1992: 41), para os romanistas, a história romana se divide em três fases
correspondentes às três formas de governo e que servem como pontos de
referência obrigatórios para os estudos das línguas românicas, a saber: da Realeza
(das origens, aproximadamente 753 a.C, data fixada pela tradição como a
fundação de Roma a 509 a.C.), da República (de 509 a.C. a 27 a.C.) e do Império
(de 27 a.C. a 476 d.C.).
A expansão do
Império Romano pode ser dividida nos seguintes momentos (idem, p.42-45): conquista
da Itália penisular, após consolidação de poder no Lácio (assimilação de
povos vizinhos: sabinos, volscos, equos, etruscos, etc) e a conquista das
populações samnitas (349-290 a.C.) e gregas (282-272 a.C); conquista da
Europa mediterrânea através das três Guerras Púnicas, contra os fenícios de
Cartago (os púnicos) que até então dominavam o comércio desde o Líbano até
Portugal: 1ª Guerra: 264-238 a.C, dominaram a Sicília, Sardenha e Córsega / entre guerras: 230-228 a.C, dominaram a Itália
do Norte: Ligúria, Ilíria (costas da Iuguslávia), e Gália Cisalpina (bacia
hidrográfica do Pó) / 2ª Guerra: 219-201
a.C., vencedores, estabelecem colônias não italianas: Bética e Terraconese em
197-183 a.C. (atuais Andaluzia e Castela, Múrcia, Valência), “Ásia” (pequena
parte da Anatólia), Macedônia e Grécia / 3ª Guerra: destroem Cartago em 146
a.C., incorporando a região da Tunísia, depois os lusitanos em 139 a.C., e a
Gália Narbonense em 118 a.C. (atual Provença); Gália e Europa Central,
Ásia Menor e África: até 60 a.C
submeteram Chipre, Bitínia, Galácia, Capadócia e Síria (incluindo a Palestina),
na África conquistaram Cirenaica e Creta (74 a.C.), Numídia (46 a.C.),
Mauritânia (42 a.C) e Egito (30 a.C.), e na Europa continental, sob o comando
de Júlio César, conquistaram a região mais importante desse período: a Gália
(58-51 a.C), sob Augusto, tomaram a região do Danúbio e Récia (17 a.C), tendo
então o Império Romano como limites naturais o Reno e o Danúbio e o Mar
Mediterrâneo como uma espécie de lago interno, cercado pelas províncias da Ásia
e da África; conquistas tardias: a Caledônia em 85 d.C (atual Escócia), a Dácia
em 106 d.C. (atual Romênia) e a Arábia Pétrea.
A decadência do
Império e suas perdas territoriais podem ser resumidas da seguinte forma
(ibidem, p.46): ao poder central sucedeu uma descentralização progressiva
concedida às regiões mais afastadas, com ampla autonomia militar e
administrativa, e, finalmente com Diocleciano em 286 d.C, “a tetrarquia”,
repartição do Império em quatro regiões administrativas, consumando em 395, com
Constantino, a repartição do Império entre Império Romano do Oriente, tento a
capital em Constantinopla, e Império Romano do Ocidente, tendo a capital em
Roma, consagrando, assim, uma divisão já completamente consolidada do ponto de
vista cultural e lingüístico, ao separar um Estado de fala e cultura latinas e
um Estado de fala e cultura gregas. A partir de então, o poder central opôs
cada vez menos resistência às invasões bárbaras (povos não romanizados) que
demandavam parte do Império, pressionadas por migrações de povos de origem
asiática. Esses povos estabeleceram-se primeiro às margens do rios Danúbio e
Reno e progressivamente infiltraram-se em hordas, invadindo e conquistando
territórios romanos. Por volta de 270 a Gália foi invadida pelos francos e a
Récia pelos alamanos. Os godos adentraram pela Penísula Balcânica, causando o
abandono das terras além do Danúbio na Dácia; cem anos depois a Panômia foi
ocupada pelos ostrogodos, a Nórica pelos érulos e a Britânia pelos ânglios e
pelos saxões. Em 476 há uma incursão dos visigodos pela Itália, causando a
deposição do imperador Rômulo Augústulo (data que serviu como marco cronológico
para o fim do Império Romano), ainda que os novos “conquistadores germânicos da
Itália faziam com que lhes fossem conferidos, pela corte de Constantinopla,
títulos que os enquadrassem no sistema romano”. A partir de Carlos Magno,
muitos reis alemães vinham a Roma fazer-se coroar “imperador romano”; este
título, “símbolo da dominação universal, só desapareceu em 1803, na crise
napoleônica” (p.46, texto: FR 16, s/ referências bibliográficas), tamanha era a
difusão da cultura romano, tornada, entre os governantes, modelo e símbolo de
poderio político e de métodos de governo.
2. CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DAS LÍNGUAS ROMANAS
Após a divisão do império
entre Oriente e Ocidente, o Império do Oriente, dominado pela cultura grega
ainda que produzisse seus documentos em latim, se manteve durante um milênio
até a conquista turca no século XV. Quanto ao Império do Ocidente, a queda do
império não pôs fim à influência cultural romana, que já estava muito bem
enraizada.
“A língua latina, a lembrança das instituições
políticas, jurídicas e administrativas romanas, a imitação das formas políticas e artísticas da Antiguidade
sobreviveram; até nos tempos modernos,
toda reforma, todo renascimento da civilização européia se inspirou na
civilização romana, que
representava, para a Europa central e ocidental, a totalidade da civilização
antiga; pois tudo quanto se podia
saber sobre a Grécia antiga chegou à Europa, até o século XVI, por intermédio da língua latina.” (p. 45:
FR 16)
Os romanos nunca
foram uma nação ou um povo no sentido moderno dessas palavras, nem uma noção
geográfica ou racial. A terminologia de “povo romano” serve como “termo
jurídico que designa um símbolo político e um sistema de governo” (FR16: p.45),
já que eram considerados romanos todos os habitantes livres da Itália e, mais
tarde, com o recrutamento militar entre as províncias conquistadas, o título de
civis romanus se disseminou cada vez mais, separando-se inteiramente de
sua base geográfica no século III, quando os habitantes livres de todas as
partes do império o adquiriram.
A colonização
romana se fez pela “romanização” das regiões conquistadas, já que os povos
submetidos tornaram-se, pouco a pouco, romanos. Mesmo que muitas vezes fossem
explorados pelos funcionários e pelo fisco, geralmente, puderam conservar suas
terras, cidades, cultos e até mesmo administração local própria. Como os
conquistadores não eram ávidos por terras, a colonização não foi feita pela
desapropriação de terras, mas por romanos que se apoderavam da administração
central, estabelecendo províncias romanas, anexando-as ao império.
A língua da
administração e dos altos negócios se tornava o latim, e assim o prestígio da
civilização romana e os interesses comerciais cooperavam para fazer com que o
latim fosse aceito primeiro pelas classes mais altas, que enviavam os filhos
para estudar em escola romanas, acompanhadas em seguida para as classes mais
baixas; romanizadas as cidades, o campo, que nessa época dependia mais que hoje
das cidade central, ser romanização também, embora mais lentamente.
Segundo Ilari
(p.49), seria ingenuidade crer que os povos vencidos trocaram com facilidade
sua língua materna pelo latim. Ao contrário, a fala dos vencedores conviveu por
décadas e mesmo por séculos com as locais, sendo o bilingüismo a situação
típica da conquista. Seja como for, o latim presente nas regiões submetidas era
uma variedade popular da variedade erudita, escrita usada por magistrados, em
jurisdições e nas escolas. Era o latim falado pelo exército, comerciantes e por
veteranos assentados como colonos que foi se impondo como uma língua de
prestígio que exprimia uma cultura mais avançada e que abria melhores
perspectivas de negócios e de ascensão política e social. No século III, a
absorção do latim pelas populações do Império Romano do Ocidente era um fato
consumando e essa unidade lingüística representava para os povos latinizados o
traço mais evidente de uma forte unidade cultural, quando o império, como constituição
política, começava a se esfacelar.
O desaparecimento
político do Império Romano não impediu que ele se tornasse exemplo de ordem
universal que caberia imitar e se possível restaurar e o cristianismo romano
herda esse ideal de universalidade, enquanto a igreja constrói uma estrutura
aproveitando, em grande parte, as divisões administrativas do império. Mesmo
Estados instaurados pelos bárbaros em antigas províncias romanas se
autodenominavam romanos, com o propósito de restaurar o império, como se a restauração
do império fosse a “condição necessária para que o mundo reencontrasse uma
ordem política estável” (1992:50).
“Se o Império sobreviveu como um ideal de ordem
política durante toda a Idade Média, a unidade
lingüística e cultural dos territórios romanizados não impressionou menos os
antigos, romanos ou bárbaros. Para
denominar essa unidade lingüística e cultural, emprega-se o termo România, cujo registro mais antigo
está nesta passagem do historiador Paulo Orósio (séc. V). [...] Este foi o termo que naturalmente recorreram
os povos latinizados, para distinguir-se das culturas
barbáricas circunstantes: assim, os habitantes da Dácia, isolados entre povos
eslavos, autodenominavam-se romîni
e os réticos se autodenominavam Romauntsch, para distinguir-se dos povos germânicos que os
haviam empurrado contra a vertente norte dos Alpes suíços. Sobre romanus formou-se o advérbio romanice,
“à maneira romana”, “segundo o costume romano”, e a expressão romanice loqui se fixou para indicar as
falas vulgares de origem latina, em oposição a barbarice
loqui, que indicava as línguas não românicas dos bárbaros, e a latine
loqui que se aplicava
ao latim culto da escola. Do advérbio romanice, derivou o substantivo romance,
que na origem se aplicava a qualquer
composição escrita em uma das línguas vulgares.” (Ilari, p.50)
3. A ROMÂNIA MODERNA
Modernamente o
termo România serve para designar a área ocupada por línguas de origem latina,
apesar de os limites da România atual não coincidirem com os do Império Romano.
Boa parte das regiões dominadas pelos romanos falam hoje línguas germânicas
(Britânia), gregas (Grécia), semíticas (Síria e grande parte da África do
Norte), e, em oposição, regiões onde nunca houve domínio romano falam hoje
línguas românicas, como a América Latina e países da África.
As razões por que o
latim não conseguiu manter-se como língua falada em todo o império são várias:
a romanização superficial em regiões mais afastadas ou inóspitas, ou de baixa
densidade demográfica (Caledônia / Escócia, Alpes, Albânia); superioridade
cultural dos vencidos (Grécia e Mediterrâneo oriental); superposição maciça de
populações não-romanas (África mediterrânea: superposição dos vândalos, dos
árabes, restando apenas em dialetos árabes antigos como o berbere resquício
vestígios latinos).
Por outro lado os
movimentos colonialistas iniciados no século XVI ou os movimentos de propagação
do catolicismo alimentado por Portugal e Espanha levaram línguas românicas para
novos continentes onde se impuseram como línguas de cultura ou como línguas
oficiais, como o português (Brasil, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique,
Cabo Verde, Ilhas da Madeira e São Tomé e Príncipe; portos: Macau, Timor, Goa,
Malaia) espanhol (América do Sul, exceto: Brasil, Guiana, Suriname e Guiana
Francesa; América Central, exceto: Haiti e Jamaica; e estados bilíngües dos
EUA: Flórida, Califórnia e Texas), francês (Quebec, Louisiana, Guiana
Francesa, Haiti, Senegal e Madagascar) e italiano (Eritréia, Somália,
Líbia).
Certos lingüistas,
baseados na uniformidade que as línguas latinas alcançaram nas regiões
colonizadas (Brasil, por exemplo) enquanto havia alta fragmentação dialetal no
país de origem (português europeu), muitos lingüistas acham que o latim também
devia ser mais variado na Itália do que nas colônias da România Antiga.
4. LÍNGUAS ROMÂNCIAS: CLASSIFICAÇÃO
Os critérios para
se classificar as línguas românicas podem ser político, geográfico, literário e
lingüístico, mas nem sempre um ou dois desses critérios são capazes de explicar,
sozinhos, as diferenças dialetais, sendo muitas vezes necessário a junção de
alguns deles para se dar conta de uma análise mais precisa.
Baseadas nesses
critérios há várias propostas de classificação das línguas românicas, mas este
trabalho adotará a proposta de Ângelo Monteverdi, 1952, que propõe a seguinte
divisão: Daco-românia: romeno e dalmático; Ítalo-românia: ladino,
alto-italiano, italiano e sardo; Galo-românia: francês, franco-provençal e
provençal; e Ibero-românica: catalão, espanhol e português.
4.1. ÍBERO-ROMÂNIA
Português: galego (ocidental e
oriental), setentrional (alto-minhoto e baixo-minhoto) e centro-meridional
(litoral e interior).
Diferenças dialetais: Desaparecimento da
oposição fonológica entre /v/ e /b/ e sua fusão em /b/, realizado como [b] ou
[β]; realização do /s/ e do /z/ como ápico-alveolares; distinção fonológica
entre /ê/ e /ζ/; e conservação do ditongo /ou/ no galego e dialeto setentrional
(não ocorrendo no cento-meridional). Monotongação de /ei/ no centro-meridional
(não ocorrendo nos galego e sententrional). Inexistência de fricativa palatal
surda e sonora, e menor fechamento e grau de redução das vogais átonas no
galego.
Espanhol / Dialetação: Átur-Leonês:
conservação de f- latino: filiu > fillu; palatização do pl-, cl-, fl-
latinos em [t∫] plovere> chover; palatização do l- em [t∫]u [λ]locale- >
chugar, língua > llingua. Aragonês: conservação do f- latino: faba
> faba; conservação do pl-, cl-, fl- latinos: planu-> plan; conservação
de consoantes surdas intervocálicas: apicula- > apella Extremenho:
manuntençao do grupo –mb-: lambere > lamber; aspiração de [s] em [ђ]:
niño[ђ]; Murciano: conservação esporádica de consoantes surdas
intervocálicas: pescatero; palatização de l-: língua-> llengua; aspirçaão de
[s]. Andaluz: perda do elemento oclusivo de [t∫]: muchacho >
mu[∫]a[∫]o; seseo (pré-dorsodentais) e Ceceo (interdentais); aspiração de [s]. Canário:
Seseo (pré-dorsodentais); influências portuguesa no léxico: cañoto, millo.
Latino-americano: Seseo (pré-dorsodentais). Judeo-espanhol.
Catalão / Dialetação: Oriental
(central, balear, rossilhonês e alguerês): manutenção de [a,e] pretônicos:
mandare > [ma’na], minare > [me’na]; conservação de consoante nasal no
plural de antigas proparoxítonas: homines> homens. Ocidental (leridano
e valenciano): fusão de [a,e] pretônicos: mandare > [mә’na], minare [mә’na];
perda de consoante no plural de antigas proparoxítonas: homines> homens.
4.2. Galo-România
Francês / Dialetação: franciano,
normando, picardo, valão, loreno, champanhês, borgonhês e pictavino.
Franco-provençal / Dialetação: lionês,
franco-condês e savoiano: consonantismo do francês (palatização de /k/ e /g/
antes de /a/); vocalismo do ocitânico (manutenção de /a/ final).
Traços diferenciadores entre francês e provençal: alçamento de /u/ > /ü/ e declinação de bicasual na fase arcaica
ocorrem em ambos os dialetos. /a/ (tônico em sílaba aberta) > /e/ lat. amare
> aimer (francês) (provençal: amar), palatização de /k/ e /g/ antes de /a/
lat. cantare> chanter (francês) (provençal: cantar), ditongação de /e/ e /o/
em sílaba aberta lat. flore > fluor > fleur (francês) (provençal: flor),
queda da consoante intervocálica resultante de sonorização lat. maturo >
meür > mur (provençal: madur), /au/ > /o/ lat. auru > or (francês)
(provençal: aur)
Ocitânico / Dialetação: gascão;
languedociano (ocidental e oriental); limosino e alverniano, piemontês,
massifiano (ocitânico do norte).
4.3. Ítalo-România
Rético / Dialetação: ocidental ou
romanche (sobresselvano e engadino), central ou tirolês e oriental ou friulano.
Características dialetais: conservação
dos grupos consonantais oclusiva + l-: plenum> plein, clamore> clamare;
palatização de /c/ e /g/ antes de /a/: canem> t∫an; passagem de l em final
de sílaba a u: alterum> auter (sobrevalvano); evolução u> y: duro>
dyr> dir; conservação de ditongo au: pauper> paper.
Italiano / Dialetação: a) setentrionais
(galo-itálicos [piemontês, lígure, lombardo, emiliano-romanholo] e do grupo
vêneto [veneziano, paduano, vernoês e ístrio] );
b) centrais e
meridionais (umbro-romano, marquesano, abruzo-molissano, lucano, campânio,
apuliano, siciliano e sardo do norte).
c) toscanos
(florentino, pisano, luquês, pistoiês, senês, arentino).
Características dialetais: ausência das
vogais da série híbrida; conservação das consoantes geminadas; palatização de
pl-, cl-, etc com retenção da forma comi-: planum> piano, clavem> chiave;
-iamo como desinência de 1ª pessoa do plural do presente do indicativo para
todoas as conjugações: cantiamo, vendiamo, poniamo, udiamo; condicional é
formamdo por meio do perfeito do auxiliar: amare habui> amarei
Sardo: campidanês e logudorês (obs:
sassarês e galurês enquadram-se nos dialetos italianos).
Características dialetais: tratamento
diferenciado de e- longo e i- breve, de o- longo e u- breve: pilum> pilu,
buccam> bukka; conservação do valor velar de c- antes de e- e i-: centum>
kentu, cinque> kimbe; conservação de grupos cl-, gl-, bl-, fl-; passagem de
l- a r-: plangere> prangere; passagem de qu- e de gu- a b-: cinque>
kimbe, linguam> limba; conservação das surdas intervocálicas: ripa> ripa,
artigo definido derivado de ipsum/ipsam: so, sa, sos, sas; tendência a
reconstruir na terceira conjugação verbos da segunda: debére> dépere;
existência de arcaísmos lexicasi: doman> domo, scire> iskire.
4.4. Daco-România
Dalamático / Dialetação: velhoto
(extinto no século XIX) e ragusano (extinto no século XV)
Características dialetais: numerosas
ditongações: seniorem> sinawr; manutenção das oclusivas surdas
intervocálica: tata> twota; manutenção dos grupos consonantais kl-, gl, fl-,
bl-; palatização de c- e g- antes de e- e i-: cinque> t∫ink
Romeno / Dialetação: daco-romeno
(valáquio, moldavo e transilvano), macedo-romeno e istro-romeno.
5. CONCLUSÃO
Pode-se dizer que
muitas vezes as classificações se mostram arbitrárias, já que as línguas não
seguem sempre as características dialetais regulares, pois há muitos fatores
que podem corroborar para mudanças irregulares (Ex: tridicu> trigo: a queda
de /d/ intervocálico no português é uma mudança imprevista. Segundo Lausberg
(1987: 192), na România ocidental o -d- latino passa à fricativa [δ],
qual evolui diferentemente nas diversas áreas. Em castelhano, assim como na
língua escrita espanhola, encontramos, essa queda é uma mudança regular (pede pié, videre ver, audire oir). Fatores
como as línguas faladas antes da dominação romana (substratos: como o celta, na
região ibérica) ou as línguas adquiridas após a queda do império romano
(superstratos: como o árabe, na região ibérica) influenciam mudanças
irregulares na língua. A existência da queda do -d- em outras línguas, talvez
em dialeto de substrato, mesmo que de outro dialeto românico, poderia ser a
justificativa da queda do -d-, mudança irregular em trigo, no português.).
Também é sabido que
são as isoglossas que demarcam a diferenciação dos dialetos e o que determina a
classificação da língua falada ser ou não um dialeto depende essencialmente do
número de isoglossas que se sobrepõem na região, independentemente das
fronteiras políticas instituídas. Por exemplo, na parte meridional da România
ocidental, em espanhol moderno e catalão, [g] é afrouxado para [γ] (securu esp.
Seguro [-γ-], cat. Segur [-γ-]), enquanto em português este afrouxamento só se
encontra esboçado (seguro). (Lausberg (1987:197 [§ 401]))
Concluindo, é
possível fazer um paralelo entre as situações de uso e de mudanças por que as
línguas neolatinas passaram e continuam passando nas regiões colonizadas como a
América Latina e as colônias africanas e as situações por que passou o latim
nas colônias romanas, chegando à conclusão de que as mudanças ocorridas nas
línguas, embora sigam certas regularidades que lhe são peculiares, são também,
muitas vezes, imprevisíveis.
6. BIBLIOGRAFIA
ILARI, Rodolfo. Lingüística
românica. São Paulo: Ática, 1992.
FR 16. Texto
número 16, do curso: Filologia Românica, ministrado pelo prof. César Nardelli,
sem referências bibliográficas.
FR 20 e 21:
Prof. César Nardelli Cambraia
FHLR, slides 2,
3, 3 e 5: Ibero, Galo, Ítalo e Daco: Prof. César Nardelli Cambraia
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