sábado, 20 de julho de 2013

CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS



Raquel Teles Yehezkel








CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS





Trabalho final do curso de Filologia Românica:
Formação Histórica das Línguas Românicas (LET 022 / M1),
ministrado pelo prof. dr. César Nardelli Cambraia.








Faculdade de Letras
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte 03 de julho de 2008

CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS

Raquel Teles Yehezkel


1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS 

            Segundo Rodolfo Ilari (1992: 41), para os romanistas, a história romana se divide em três fases correspondentes às três formas de governo e que servem como pontos de referência obrigatórios para os estudos das línguas românicas, a saber: da Realeza (das origens, aproximadamente 753 a.C, data fixada pela tradição como a fundação de Roma a 509 a.C.), da República (de 509 a.C. a 27 a.C.) e do Império (de 27 a.C. a 476 d.C.).    
            A expansão do Império Romano pode ser dividida nos seguintes momentos (idem, p.42-45): conquista da Itália penisular, após consolidação de poder no Lácio (assimilação de povos vizinhos: sabinos, volscos, equos, etruscos, etc) e a conquista das populações samnitas (349-290 a.C.) e gregas (282-272 a.C); conquista da Europa mediterrânea através das três Guerras Púnicas, contra os fenícios de Cartago (os púnicos) que até então dominavam o comércio desde o Líbano até Portugal: 1ª Guerra: 264-238 a.C, dominaram a Sicília, Sardenha e Córsega /  entre guerras: 230-228 a.C, dominaram a Itália do Norte: Ligúria, Ilíria (costas da Iuguslávia), e Gália Cisalpina (bacia hidrográfica do Pó) /  2ª Guerra: 219-201 a.C., vencedores, estabelecem colônias não italianas: Bética e Terraconese em 197-183 a.C. (atuais Andaluzia e Castela, Múrcia, Valência), “Ásia” (pequena parte da Anatólia), Macedônia e Grécia / 3ª Guerra: destroem Cartago em 146 a.C., incorporando a região da Tunísia, depois os lusitanos em 139 a.C., e a Gália Narbonense em 118 a.C. (atual Provença); Gália e Europa Central, Ásia  Menor e África: até 60 a.C submeteram Chipre, Bitínia, Galácia, Capadócia e Síria (incluindo a Palestina), na África conquistaram Cirenaica e Creta (74 a.C.), Numídia (46 a.C.), Mauritânia (42 a.C) e Egito (30 a.C.), e na Europa continental, sob o comando de Júlio César, conquistaram a região mais importante desse período: a Gália (58-51 a.C), sob Augusto, tomaram a região do Danúbio e Récia (17 a.C), tendo então o Império Romano como limites naturais o Reno e o Danúbio e o Mar Mediterrâneo como uma espécie de lago interno, cercado pelas províncias da Ásia e da África; conquistas tardias: a Caledônia em 85 d.C (atual Escócia), a Dácia em 106 d.C. (atual Romênia) e a Arábia Pétrea.
            A decadência do Império e suas perdas territoriais podem ser resumidas da seguinte forma (ibidem, p.46): ao poder central sucedeu uma descentralização progressiva concedida às regiões mais afastadas, com ampla autonomia militar e administrativa, e, finalmente com Diocleciano em 286 d.C, “a tetrarquia”, repartição do Império em quatro regiões administrativas, consumando em 395, com Constantino, a repartição do Império entre Império Romano do Oriente, tento a capital em Constantinopla, e Império Romano do Ocidente, tendo a capital em Roma, consagrando, assim, uma divisão já completamente consolidada do ponto de vista cultural e lingüístico, ao separar um Estado de fala e cultura latinas e um Estado de fala e cultura gregas. A partir de então, o poder central opôs cada vez menos resistência às invasões bárbaras (povos não romanizados) que demandavam parte do Império, pressionadas por migrações de povos de origem asiática. Esses povos estabeleceram-se primeiro às margens do rios Danúbio e Reno e progressivamente infiltraram-se em hordas, invadindo e conquistando territórios romanos. Por volta de 270 a Gália foi invadida pelos francos e a Récia pelos alamanos. Os godos adentraram pela Penísula Balcânica, causando o abandono das terras além do Danúbio na Dácia; cem anos depois a Panômia foi ocupada pelos ostrogodos, a Nórica pelos érulos e a Britânia pelos ânglios e pelos saxões. Em 476 há uma incursão dos visigodos pela Itália, causando a deposição do imperador Rômulo Augústulo (data que serviu como marco cronológico para o fim do Império Romano), ainda que os novos “conquistadores germânicos da Itália faziam com que lhes fossem conferidos, pela corte de Constantinopla, títulos que os enquadrassem no sistema romano”. A partir de Carlos Magno, muitos reis alemães vinham a Roma fazer-se coroar “imperador romano”; este título, “símbolo da dominação universal, só desapareceu em 1803, na crise napoleônica” (p.46, texto: FR 16, s/ referências bibliográficas), tamanha era a difusão da cultura romano, tornada, entre os governantes, modelo e símbolo de poderio político e de métodos de governo.


2. CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DAS LÍNGUAS ROMANAS

            Após a divisão do império entre Oriente e Ocidente, o Império do Oriente, dominado pela cultura grega ainda que produzisse seus documentos em latim, se manteve durante um milênio até a conquista turca no século XV. Quanto ao Império do Ocidente, a queda do império não pôs fim à influência cultural romana, que já estava muito bem enraizada.

                “A língua latina, a lembrança das instituições políticas, jurídicas e administrativas romanas, a            imitação das formas políticas e artísticas da Antiguidade sobreviveram; até nos tempos             modernos, toda reforma, todo renascimento da civilização européia se inspirou na civilização         romana, que representava, para a Europa central e ocidental, a totalidade da civilização antiga;          pois tudo quanto se podia saber sobre a Grécia antiga chegou à Europa, até o século XVI, por            intermédio da língua latina.” (p. 45: FR 16)

            Os romanos nunca foram uma nação ou um povo no sentido moderno dessas palavras, nem uma noção geográfica ou racial. A terminologia de “povo romano” serve como “termo jurídico que designa um símbolo político e um sistema de governo” (FR16: p.45), já que eram considerados romanos todos os habitantes livres da Itália e, mais tarde, com o recrutamento militar entre as províncias conquistadas, o título de civis romanus se disseminou cada vez mais, separando-se inteiramente de sua base geográfica no século III, quando os habitantes livres de todas as partes do império o adquiriram.
            A colonização romana se fez pela “romanização” das regiões conquistadas, já que os povos submetidos tornaram-se, pouco a pouco, romanos. Mesmo que muitas vezes fossem explorados pelos funcionários e pelo fisco, geralmente, puderam conservar suas terras, cidades, cultos e até mesmo administração local própria. Como os conquistadores não eram ávidos por terras, a colonização não foi feita pela desapropriação de terras, mas por romanos que se apoderavam da administração central, estabelecendo províncias romanas, anexando-as ao império.
            A língua da administração e dos altos negócios se tornava o latim, e assim o prestígio da civilização romana e os interesses comerciais cooperavam para fazer com que o latim fosse aceito primeiro pelas classes mais altas, que enviavam os filhos para estudar em escola romanas, acompanhadas em seguida para as classes mais baixas; romanizadas as cidades, o campo, que nessa época dependia mais que hoje das cidade central, ser romanização também, embora mais lentamente.
            Segundo Ilari (p.49), seria ingenuidade crer que os povos vencidos trocaram com facilidade sua língua materna pelo latim. Ao contrário, a fala dos vencedores conviveu por décadas e mesmo por séculos com as locais, sendo o bilingüismo a situação típica da conquista. Seja como for, o latim presente nas regiões submetidas era uma variedade popular da variedade erudita, escrita usada por magistrados, em jurisdições e nas escolas. Era o latim falado pelo exército, comerciantes e por veteranos assentados como colonos que foi se impondo como uma língua de prestígio que exprimia uma cultura mais avançada e que abria melhores perspectivas de negócios e de ascensão política e social. No século III, a absorção do latim pelas populações do Império Romano do Ocidente era um fato consumando e essa unidade lingüística representava para os povos latinizados o traço mais evidente de uma forte unidade cultural, quando o império, como constituição política, começava a se esfacelar.
            O desaparecimento político do Império Romano não impediu que ele se tornasse exemplo de ordem universal que caberia imitar e se possível restaurar e o cristianismo romano herda esse ideal de universalidade, enquanto a igreja constrói uma estrutura aproveitando, em grande parte, as divisões administrativas do império. Mesmo Estados instaurados pelos bárbaros em antigas províncias romanas se autodenominavam romanos, com o propósito de restaurar o império, como se a restauração do império fosse a “condição necessária para que o mundo reencontrasse uma ordem política estável” (1992:50).
           

                “Se o Império sobreviveu como um ideal de ordem política durante toda a Idade Média, a   unidade lingüística e cultural dos territórios romanizados não impressionou menos os antigos,     romanos ou bárbaros. Para denominar essa unidade lingüística e cultural, emprega-se o termo             România, cujo registro mais antigo está nesta passagem do historiador Paulo Orósio (séc. V). [...]     Este foi o termo que naturalmente recorreram os povos latinizados, para distinguir-se das     culturas barbáricas circunstantes: assim, os habitantes da Dácia, isolados entre povos eslavos,               autodenominavam-se romîni e os réticos se autodenominavam Romauntsch, para distinguir-se                 dos povos germânicos que os haviam empurrado contra a vertente norte dos Alpes suíços. Sobre   romanus formou-se o advérbio romanice, “à maneira romana”, “segundo o costume romano”, e a            expressão romanice loqui se fixou para indicar as falas vulgares de origem latina, em oposição a              barbarice loqui, que indicava as línguas não românicas dos bárbaros, e a latine loqui que se                 aplicava ao latim culto da escola. Do advérbio romanice, derivou o substantivo romance, que na     origem se aplicava a qualquer composição escrita em uma das línguas vulgares.” (Ilari,             p.50)





3. A ROMÂNIA MODERNA

            Modernamente o termo România serve para designar a área ocupada por línguas de origem latina, apesar de os limites da România atual não coincidirem com os do Império Romano. Boa parte das regiões dominadas pelos romanos falam hoje línguas germânicas (Britânia), gregas (Grécia), semíticas (Síria e grande parte da África do Norte), e, em oposição, regiões onde nunca houve domínio romano falam hoje línguas românicas, como a América Latina e países da África.
            As razões por que o latim não conseguiu manter-se como língua falada em todo o império são várias: a romanização superficial em regiões mais afastadas ou inóspitas, ou de baixa densidade demográfica (Caledônia / Escócia, Alpes, Albânia); superioridade cultural dos vencidos (Grécia e Mediterrâneo oriental); superposição maciça de populações não-romanas (África mediterrânea: superposição dos vândalos, dos árabes, restando apenas em dialetos árabes antigos como o berbere resquício vestígios latinos).
            Por outro lado os movimentos colonialistas iniciados no século XVI ou os movimentos de propagação do catolicismo alimentado por Portugal e Espanha levaram línguas românicas para novos continentes onde se impuseram como línguas de cultura ou como línguas oficiais, como o português (Brasil, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Ilhas da Madeira e São Tomé e Príncipe; portos: Macau, Timor, Goa, Malaia) espanhol (América do Sul, exceto: Brasil, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; América Central, exceto: Haiti e Jamaica; e estados bilíngües dos EUA: Flórida, Califórnia e Texas), francês (Quebec, Louisiana, Guiana Francesa, Haiti, Senegal e Madagascar) e italiano (Eritréia, Somália, Líbia).
            Certos lingüistas, baseados na uniformidade que as línguas latinas alcançaram nas regiões colonizadas (Brasil, por exemplo) enquanto havia alta fragmentação dialetal no país de origem (português europeu), muitos lingüistas acham que o latim também devia ser mais variado na Itália do que nas colônias da România Antiga.


4. LÍNGUAS ROMÂNCIAS: CLASSIFICAÇÃO

            Os critérios para se classificar as línguas românicas podem ser político, geográfico, literário e lingüístico, mas nem sempre um ou dois desses critérios são capazes de explicar, sozinhos, as diferenças dialetais, sendo muitas vezes necessário a junção de alguns deles para se dar conta de uma análise mais precisa.
            Baseadas nesses critérios há várias propostas de classificação das línguas românicas, mas este trabalho adotará a proposta de Ângelo Monteverdi, 1952, que propõe a seguinte divisão: Daco-românia: romeno e dalmático; Ítalo-românia: ladino, alto-italiano, italiano e sardo; Galo-românia: francês, franco-provençal e provençal; e Ibero-românica: catalão, espanhol e português.

4.1. ÍBERO-ROMÂNIA

Português: galego (ocidental e oriental), setentrional (alto-minhoto e baixo-minhoto) e centro-meridional (litoral e interior).
Diferenças dialetais: Desaparecimento da oposição fonológica entre /v/ e /b/ e sua fusão em /b/, realizado como [b] ou [β]; realização do /s/ e do /z/ como ápico-alveolares; distinção fonológica entre /ê/ e /ζ/; e conservação do ditongo /ou/ no galego e dialeto setentrional (não ocorrendo no cento-meridional). Monotongação de /ei/ no centro-meridional (não ocorrendo nos galego e sententrional). Inexistência de fricativa palatal surda e sonora, e menor fechamento e grau de redução das vogais átonas no galego.

Espanhol / Dialetação: Átur-Leonês: conservação de f- latino: filiu > fillu; palatização do pl-, cl-, fl- latinos em [t∫] plovere> chover; palatização do l- em [t∫]u [λ]locale- > chugar, língua > llingua. Aragonês: conservação do f- latino: faba > faba; conservação do pl-, cl-, fl- latinos: planu-> plan; conservação de consoantes surdas intervocálicas: apicula- > apella Extremenho: manuntençao do grupo –mb-: lambere > lamber; aspiração de [s] em [ђ]: niño[ђ]; Murciano: conservação esporádica de consoantes surdas intervocálicas: pescatero; palatização de l-: língua-> llengua; aspirçaão de [s]. Andaluz: perda do elemento oclusivo de [t∫]: muchacho > mu[∫]a[∫]o; seseo (pré-dorsodentais) e Ceceo (interdentais); aspiração de [s]. Canário: Seseo (pré-dorsodentais); influências portuguesa no léxico: cañoto, millo. Latino-americano: Seseo (pré-dorsodentais). Judeo-espanhol.


Catalão / Dialetação: Oriental (central, balear, rossilhonês e alguerês): manutenção de [a,e] pretônicos: mandare > [ma’na], minare > [me’na]; conservação de consoante nasal no plural de antigas proparoxítonas: homines> homens. Ocidental (leridano e valenciano): fusão de [a,e] pretônicos: mandare > [mә’na], minare [mә’na]; perda de consoante no plural de antigas proparoxítonas: homines> homens.

4.2. Galo-România

Francês / Dialetação: franciano, normando, picardo, valão, loreno, champanhês, borgonhês e pictavino.

Franco-provençal / Dialetação: lionês, franco-condês e savoiano: consonantismo do francês (palatização de /k/ e /g/ antes de /a/); vocalismo do ocitânico (manutenção de /a/ final).

Traços diferenciadores entre francês e provençal: alçamento de /u/ > /ü/ e declinação de bicasual na fase arcaica ocorrem em ambos os dialetos. /a/ (tônico em sílaba aberta) > /e/ lat. amare > aimer (francês) (provençal: amar), palatização de /k/ e /g/ antes de /a/ lat. cantare> chanter (francês) (provençal: cantar), ditongação de /e/ e /o/ em sílaba aberta lat. flore > fluor > fleur (francês) (provençal: flor), queda da consoante intervocálica resultante de sonorização lat. maturo > meür > mur (provençal: madur), /au/ > /o/ lat. auru > or (francês) (provençal: aur)

Ocitânico / Dialetação: gascão; languedociano (ocidental e oriental); limosino e alverniano, piemontês, massifiano (ocitânico do norte).

4.3. Ítalo-România

Rético / Dialetação: ocidental ou romanche (sobresselvano e engadino), central ou tirolês e oriental ou friulano.
Características dialetais: conservação dos grupos consonantais oclusiva + l-: plenum> plein, clamore> clamare; palatização de /c/ e /g/ antes de /a/: canem> t∫an; passagem de l em final de sílaba a u: alterum> auter (sobrevalvano); evolução u> y: duro> dyr> dir; conservação de ditongo au: pauper> paper.

Italiano / Dialetação: a) setentrionais (galo-itálicos [piemontês, lígure, lombardo, emiliano-romanholo] e do grupo vêneto [veneziano, paduano, vernoês e ístrio] );
            b) centrais e meridionais (umbro-romano, marquesano, abruzo-molissano, lucano, campânio, apuliano, siciliano e sardo do norte).
            c) toscanos (florentino, pisano, luquês, pistoiês, senês, arentino).
Características dialetais: ausência das vogais da série híbrida; conservação das consoantes geminadas; palatização de pl-, cl-, etc com retenção da forma comi-: planum> piano, clavem> chiave; -iamo como desinência de 1ª pessoa do plural do presente do indicativo para todoas as conjugações: cantiamo, vendiamo, poniamo, udiamo; condicional é formamdo por meio do perfeito do auxiliar: amare habui> amarei

Sardo: campidanês e logudorês (obs: sassarês e galurês enquadram-se nos dialetos italianos).
Características dialetais: tratamento diferenciado de e- longo e i- breve, de o- longo e u- breve: pilum> pilu, buccam> bukka; conservação do valor velar de c- antes de e- e i-: centum> kentu, cinque> kimbe; conservação de grupos cl-, gl-, bl-, fl-; passagem de l- a r-: plangere> prangere; passagem de qu- e de gu- a b-: cinque> kimbe, linguam> limba; conservação das surdas intervocálicas: ripa> ripa, artigo definido derivado de ipsum/ipsam: so, sa, sos, sas; tendência a reconstruir na terceira conjugação verbos da segunda: debére> dépere; existência de arcaísmos lexicasi: doman> domo, scire> iskire.

4.4. Daco-România
Dalamático / Dialetação: velhoto (extinto no século XIX) e ragusano (extinto no século XV)
Características dialetais: numerosas ditongações: seniorem> sinawr; manutenção das oclusivas surdas intervocálica: tata> twota; manutenção dos grupos consonantais kl-, gl, fl-, bl-; palatização de c- e g- antes de e- e i-: cinque> t∫ink

Romeno / Dialetação: daco-romeno (valáquio, moldavo e transilvano), macedo-romeno e istro-romeno.



5. CONCLUSÃO

            Pode-se dizer que muitas vezes as classificações se mostram arbitrárias, já que as línguas não seguem sempre as características dialetais regulares, pois há muitos fatores que podem corroborar para mudanças irregulares (Ex: tridicu> trigo: a queda de /d/ intervocálico no português é uma mudança imprevista. Segundo Lausberg (1987: 192), na România ocidental o -d- latino passa à fricativa [δ], qual evolui diferentemente nas diversas áreas. Em castelhano, assim como na língua escrita espanhola, encontramos, essa queda é uma mudança regular (pede pié, videre ver, audire oir). Fatores como as línguas faladas antes da dominação romana (substratos: como o celta, na região ibérica) ou as línguas adquiridas após a queda do império romano (superstratos: como o árabe, na região ibérica) influenciam mudanças irregulares na língua. A existência da queda do -d- em outras línguas, talvez em dialeto de substrato, mesmo que de outro dialeto românico, poderia ser a justificativa da queda do -d-, mudança irregular em trigo, no português.).
            Também é sabido que são as isoglossas que demarcam a diferenciação dos dialetos e o que determina a classificação da língua falada ser ou não um dialeto depende essencialmente do número de isoglossas que se sobrepõem na região, independentemente das fronteiras políticas instituídas. Por exemplo, na parte meridional da România ocidental, em espanhol moderno e catalão, [g] é afrouxado para [γ] (securu esp. Seguro [-γ-], cat. Segur [-γ-]), enquanto em português este afrouxamento só se encontra esboçado (seguro). (Lausberg (1987:197 [§ 401]))
            Concluindo, é possível fazer um paralelo entre as situações de uso e de mudanças por que as línguas neolatinas passaram e continuam passando nas regiões colonizadas como a América Latina e as colônias africanas e as situações por que passou o latim nas colônias romanas, chegando à conclusão de que as mudanças ocorridas nas línguas, embora sigam certas regularidades que lhe são peculiares, são também, muitas vezes, imprevisíveis.

6. BIBLIOGRAFIA
ILARI, Rodolfo. Lingüística românica. São Paulo: Ática, 1992.
FR 16. Texto número 16, do curso: Filologia Românica, ministrado pelo prof. César Nardelli, sem referências bibliográficas.
FR 20 e 21: Prof. César Nardelli Cambraia
FHLR, slides 2, 3, 3 e 5: Ibero, Galo, Ítalo e Daco: Prof. César Nardelli Cambraia

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