quarta-feira, 10 de julho de 2013

FLEXÕES E DERIVAÇÕES DAS PALAVRAS NO PORTUGUÊS - MORFOLOGIA



Luciara Lourdes de Assis
Raquel Teles Yehezkel
Virgínia Junqueira







FLEXÕES E DERIVAÇÕES DAS PALAVRAS
NO PORTUGUÊS






Trabalho requisitado pela disciplina Morfologia do Português, ministrada pela professora doutora Eunice Nicolau.                                                                              






Faculdade de Letras
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte, 21 de novembro de 2006



QUESTÃO I: Explicite e ilustre a distinção entre cada um dos pares abaixo:

a)         Sufixo flexional: tipo de morfema que se anexa ao lado direito do radical das palavras variáveis (nomes, verbos e pronomes), também chamado de desinência. As flexões dividem-se em nominais, que expressam variação de gênero e número [ex: garoto – garot + o(a) + (s)], e verbais, que expressam variação de modo, tempo, número e pessoa [ex: falávamos – fal + á + va + mos]. Os sufixos flexionais carregam propriedades gramaticais
            Sufixo derivacional: tipo de morfema que se anexa ao lado direito do radical, mudando-lhe o sentindo, formando um novo vocábulo [galinha – galinh (eiro)].

b)         Baseando-se em textos literários, a GT trata dos fatos lingüísticos de modo normativo, ao preocupar-se com o modo no qual as palavras se apresentam constituídas, misturando as perspectivas sincrônica e diacrônica. Está organizada em compêndios de regras gramaticais, com fins pedagógicos. Cunha e Cintra (1984) dividem os fatos lingüísticos em “fonéticos e fonológicos” e “morfo-sintáticos”, as flexões nominais e verbais encontram-se no segundo grupo, dentro das classes de palavras variáveis.
Flexão nominal (GT): Conforme Rocha Lima (2005), os substantivos e os adjetivos flexionam-se em gênero, número e gradação [ex. de subs.: boneco – bonec + o(a) + (s) + (inho); ex. de adj.: bonito – bonit + o(a) + (íssimo)]. Os numerais, artigos e pronomes podem ser flexionados em gênero e número [ex: um(a)(s)(uns); o(a)(s); ele(s)/ela(s);]. Os pronomes, particularmente, podem tbém flexionar em pessoa (comigo/contigo/consigo].
            Flexão verbal (GT): Conforme Rocha Lima, os verbos podem se flexionar para expressar cinco idéias: modo, tempo, número, pessoa [ex: cozinhávamos – cozinh + á + va + mos; verbo cozinhar, flexionado no pretérito perfeito do indicativo, na segunda pessoa do plural] e voz [ex: Escrevi o livro (voz ativa); O livro foi escrito por mim (voz passiva)].

c) Segundo Mattoso Câmara, a língua portuguesa apresenta duas classes de palavras: a estrutura do nome e a estrutura do verbo.
            Flexão nomininal (Câmara): Os nomes flexionam-se em gênero e número [ex.: gato – gat + a(o) + (s)]. A variação de grau no português supõe a criação de um novo vocábulo.
            Flexão verbal (Câmara): Os verbos são formados pelo tema (radical + vogal temática) e por sufixos flexionais constituídos por um sufixo modo-temporal e outro sufixo número-pessoal [ex – gritávamos: grit(R) + a (VT) + va (SMT) + mos (SNP)]. A flexão verbal, além das características modo-temporal, contém também a de “aspecto” (per./imperf./+q.perf.), mas essas três características podem se resumir na marca do tempo verbal (T); enquanto as características número-pessoal podem-se resumir na marca da pessoa verbal (P).

d)         Morfema: Segundo Rocha Lima (2005), o morfema “representa a menor unidade de significação que pode figurar numa palavra” (p.192). Valter Kehdi (1990) assinala que “os morfemas de valor lexical, como, p. ex., os substantivos, pertencem a um inventário aberto (seu número é indeterminado e é sempre possível acrescentar um novo membro à série); os morfemas de valor gramatical (p. ex., os afixos, as preposições etc.) constituem inventários fechados, representados por elementos de número reduzido, cuja listagem figura nas gramáticas.” (p. 68)
Alomorfe: De acordo com Valter Kehdi, para os lingüistas americanos, de orientação distribucionalista, “alomorfe é a designação que se dá às diferenças de um mesmo morfema. [ex: forma básica {mim}, alomorfe /migo/].” (p. 65). Para Mattoso Câmara (1968, p.62-64), alomorfe é o tipo de morfema que consiste na substituição de um fonema dentro do semantema. [ex: observa-se a alternância (alomorfia) ô/ó em avó/avô, na formação do gênero feminino; formoso/formosa.] Assim, a alternância é comumente um alomorfe em redundância com o básico.

e)         Vogal temática: Acrescentam-se, normalmente, ao radical para constituir uma base, à qual são anexadas as desinências. Podem ser nominais, com temas em -a, -e, -o ou verbais -a, -e, -i, respectivamente, 1a, 2a e 3a conjugação. Em substantivos deverbais são freqüentes duas VTs, uma verbal e uma nominal [ex: armamento].
Vogal de ligação: ocorre no interior do vocábulo, normalmente entre o radical e o sufixo. Sua utilização está, geralmente, ligada à eufonia; evitam encontros consonantais não aceitos pela língua. Em português, a rigor, existem apenas duas: /i/ e /o/.




QUESTÃO II

A)    Distribua esses nomes considerando as seguintes formas de formação do feminino:




FLEXÃO
DERIVAÇÃO
1 masc. Æ x morf.aditiv.-a
2 mor
subt.
flex
3 morf.alternart.
(ñ redundant.)
4 morf.aditiv.
e alternat.
(redundante)
5 gên. dif. c/ flex. lat
6 fem. Ñ. Flexional/ morf. Deriv. Fem.
7 heteronímia
8 nom.
gên. únic
fem/mas
9 gên. único/
coisa
Pastor/-a

Bisavô/-ó
Formoso/osa
dentista
Duque/duquesa
Zangão/abelha
cônjuge
vitrine
marquês/-a


Charmoso/osa
cliente
Abade/abadessa
Genro/nora
Sapo

Reitor/-a




Solteirão/solteirona

baleia

Juiz/-a




Cortesão/cortesã



Garoto/-a




Herói/heroína








Patrão/patroa








Alemão/alemã








Galinha




B) Comparação da classificação dos nomes quanto ao gênero, de acordo com a gramática tradicional de Rocha de Lima ( 2005, p.70-79) e a classificação proposta no item A, da questão II.


LEGENDA: As classificações da GT estão enumeradas com letras de “A” a “I”, seguidas dos números correspondentes à classificação de Mattoso Câmara (ver numeração da questão II, letra A).

A/1. Indicação do gênero por meio de flexão / tipo 1: acréscimo à forma masculina do substantivo da desinência a (com supressão da vogal temática aos nomes de tema -o e em -e. Ex: lobo/loba; mestre/mestra. [Corresponde ao item 1, porém a GT não menciona a alternância dos alomorfes -ô/-ó conforme descreveu Mattoso nos itens 3 e 4.]

B/5. Substantivos de dois gêneros, sem flexão (comuns-de-dois-gêneros): possuem uma só forma para os dois gêneros: o artigo ou a terminação do determinativo acompanhante é que os apontarão como masculinos, ou femininos. Ex: o artista/a artista. [Corresponde ao item 5, porém Mattoso entende a oposição entre os artigos a/o como flexão latente.]

C/6. Indicação do gênero por meio de flexão / tipo 2: substantivos terminados em ão acentuados, que se distribuem nos seguintes tipos: Terminações oa (ex: leitão/leitoa); ã (ex: anão/anã­); ona (ex: valentão/valentona). [Corresponde ao item 6, porém a GT considera este caso como sendo de flexão, enquanto Mattoso o considera morfema derivacional fem.]

D/6. Formas femininas dignas de notas: fora da sistematização acima formulada.  Ex: ator/atriz; conde/condessa. [Corresponde ao item 6. Também a GT não os consideram casos de flexão; Mattoso os classificam como acréscimo de morfema derivacional feminino.]

E/7. Pares de substantivos semanticamente opositivos: à forma masculina relaciona-se outro substantivo exclusivamente feminino. Ex: bode/cabra; touro/vaca. [Corresponde ao item 7, caso de heteronímia.]

F/8. Substantivos de gênero único / 1o tipo (sobrecomuns): apresentam um só gênero gramatical para designar pessoas de um e outro sexo. Ex: o indivíduo; a vítima. [Corresponde ao item 8 – ver observação no item G/8]

G/8. Substantivos de gênero único / 2o tipo (epicenos): apresentam um só gênero gramatical para designar animais de um e outro sexo. Ex: o rouxinol; a onça. [Obs.: Também corresponde ao item 8, já que Mattoso não divide o gênero único entre pessoas e animais como a GT.]

H/9. Substantivos de gênero único / 3o tipo: apresentam um só gênero gramática para designar coisas. Ex: o diamante; a alma; o livro. [Corresponde ao item 9.]

I/10. Substantivos cuja significação varia com a mudança de gênero. Ex: o cabeça/a cabeça.










Mattoso Câmara

GT

Flexões e Deriv-MC

1.pastor/pastora
1
A/1
Æ/-a
2.duque/duquesa
6
D/6
morf. deriv. fem.
3.zangão/abelha
7
E/7
4.bisavô/bisavó
3
A/1
-ô-/ó
5.abade/abadessa
6
D/6
morf. deriv. fem.
6.dentista
5
B/5
o/a (artigos)*
7.marquês/marquesa
1
A/1
Æ/-a
8.vitrine
9
H/9
9.genro/nora
7
E/7
10.cônjuge
8
F/8
11.solteirão/solteirona
6
C/6
morf. deriv. fem.
12.sapo
8
G/8
13.cortesão/cortesã
6
C/6
morf. deriv. fem.
14.reitor/reitora
1
A/1
Æ/-a
15.formoso/formosa
4
A/1
ôzuÆ / óza
16.charmoso/charmosa
4
A/1
ôzuÆ / óza
17.baleia
8
G/8
18.juiz/juíza
1
A/1
Æ/-a
19.herói/heroína
6
D/6
morf. deriv. fem.
20.cliente
5
B/5
21.patrão/patroa
6
C/6
morf. deriv. fem.
22.alemão/alemã
6
C/6
morf. deriv. fem.
23.garoto/garota
1
A/1
Æ/-a
24.galinha
6
D/6





* Nota: Aparentemente, não há flexão. A flexão é expressa pela oposição dos artigos o/a (morfemas latentes).
QUESTÃO III

a) À sistematização do conjunto dos acidentes gramaticais do verbo dá-se o nome de conjugação; no português, existem três conjugações verbais. A terminação de cada uma delas é formada pela consoante -r (desinência do infinitivo), precedida de uma vogal que caracteriza a conjugação. (ROCHA LIMA, 2005)
1a conjugação: vogal temática -a-; terminação -ar.
2a conjugação: vogal temática -e-; terminação -er.
3a conjugação: vogal temática -i-; terminação -ir.
Obs: Apesar de não apresentarem a vogal temática -e-, o verbo pôr e seus derivados pertencem à segunda conjugação, uma vez que, na sua conjugação, a vogal aparece em alguns modos e tempos verbais. Ex: pus[e]ste.

b) T (R+VT) + DF (DMT+DNP)
T:         tema
R:         radical
VT:      vogal temática
DF:      desinências flexionais
DMT:   desinência Modo-temporal
DNP:   desinência número-pessoal

c) Exemplo 1: Observe-se o verbo amar, conjugado no pretérito perfeito do indicativo:


T   (R+VT)
DF  (DMT+DNP)
Eu amava
     am + a
        va + Æ
Tu amavas
     am + a
        va + s
Ele amava
     am + a
        va + Æ
Nós amávamos
     am + a
        va + mos
Vós amáveis
     am + a
        ve + is
Eles amavam
     am + a
        va + m

O R está sempre presente e, neste exemplo, também a VT. Quanto às desinências, a DMT aparece em todas as formas, porém sofre variação, apresentando o alomorfe -ve- na segunda pessoa do plural. Já as DNP não aparecem em todas as pessoas; estão ausentes na primeira e na terceira pessoas do singular.

Exemplo 2: Considere-se o verbo crer conjugado no presente do indicativo.


T  (R+VT)
VL
DF  (DMT+DNP)
Eu creio
     cr + e
i
             o
Tu crês
     cr + ê

             s
Ele crê
     cr + ê

              Æ
Nós cremos
     cr + e

          mos
Vós credes
     cr + e

          des
Eles crêem
     cr + e

          em

Como se pode ver no exemplo acima, o R está sempre presente (e também, nesse caso, a VT), mas as desinências flexionais DMT e DNP vêm cumuladas em um mesmo morfema, (característica do presente do indicativo). Nota-se, também, que há uma variação formal, com o aparecimento da vogal de ligação -i-, (por motivos eufônicos) na forma do verbo na primeira pessoa do singular.

d) De acordo com Cegalla (2002), esses tempos são chamados primitivos porque formam todos os outros tempos verbais. Os tempos derivados são formados a partir do radical dos primitivos.
O infinitivo impessoal forma: (1) o pretérito perfeito do indicativo, (2) o futuro do presente, (3) o futuro do pretérito, (4) o infinitivo pessoal, (5) o gerúndio e o (6) particípio. Exemplo: caber
(1) cabia, cabias, cabia, cabíamos, cabíeis, cabiam
(2) caberei, caberás, caberá, caberemos, cabereis, caberão
(3) caberia, caberias, caberia, caberíamos, caberíeis, caberiam
(4) caber, caberes, caber, cabermos, caberdes, caberem
(5) cabendo
(6) cabido
O presente do indicativo (1a e 2a pessoas do singular e 2a pessoa do plural) forma: (1) o presente do subjuntivo e (2) o imperativo afirmativo. Exemplo: digo, dizes, dizeis
(1) digo ® diga, digas, diga, digamos, digais, digam
(2) dizes ® dize / dizeis ® dizei
Do pretérito perfeito do indicativo (3ª pessoa do singular) derivam: (1) o pretérito mais-que-perfeito do indicativo, (2) o pretérito imperfeito do subjuntivo e (3) o futuro do subjuntivo. Exemplo: disseram
(1) dissera, disseras, dissera, disséramos, disséreis, disseram
(2) dissesse, dissesses, dissesse, dissessem, disséssemos, dissésseis, dissessem
(3) disser, disseres, disser, dissermos, disserdes, disserem

e) DMTs

indicativo
pretérito imperfeito:
I) -va- (1a conj.) (var: -ve-)
II) -ia- (2a e 3a conj.) (var: -ie-)
pretérito perfeito:
III) -ra- (3a pess. do pl.)
pret. mais-que-perfeito:
IV) -ra- (átono) (var: -re-)
futuro do presente:
V) -rá- (tônico) (var: -re- tônico)
futuro do pret.
VI) -ria- (var: -rie-)
subjuntivo
presente:
VII) -e- (1a conj.)
VIII) -a- (2a e 3a conj.)
pretérito imperfeito:
IX) -sse-
futuro:
X) -r- (var: -re-)
formas verbo-nominais
XI) infinitivo: -r (var.: -re-)
XII) gerúndio: -ndo
XIII) particípio. passado: -do





f) DNPs
singular
1a pessoa:
I) Æ      {var.: -o- (presente do indicativo)
-i (pretérito perfeito e futuro do presente)}
2a pessoa:
II) -s     {var.: -ste- (pret. perf.)}
3a pessoa:
III)Æ    (var.: -u- (pret. perf.))
plural
1a pessoa:
IV) -mos
2a pessoa:
V) -is   {var.: -stes- (pretérito perfeito)
                        -des (futuro do subjuntivo e infinito flexionado)}
3a pessoa:
VI)-m


QUESTÃO IV

Formas verbais
R
VT
DMT
DNP
choras
chor-
-a-

-s
chorem
chor-

-e-
-m
chorarei
chor-
-a-
-re-
-i
chorasse
chor-
-a-
-sse

falou
fal-
-o-
-u

faláramos
fal-
-á-
-ra-
-mos
falariam
fal-
-a-
-ria-
-m
faleis
fal-

-e-
-is
venço
venç-


-o
vencemos
venc-
-e-

-mos
vencerão
venc-
-e-
-rão

vençam
venç-

-a-
-m
sobem
sob- (sub-)


-em
subas
sub-

-a-
-s
subirdes
sub-
-i-
-r-
-des
subíamos
sub-
-i-
-[i]a-
-mos
trago
trag- (traz-)


-o
traríamos
trar- (traz-)
-í-
-[i]a-
-mos
trouxessem
trouxe- (traz-)

-sse-
-m
traga
trag- (traz-)

-a-

fugiu
fug-
-i-

-u
fugirias
fug-
-i-
-ria-
-s
foge
fog- (fug-)


-e
fujas
fuj- (fug-)

-a-
-s

Referências bibliográficas:


CAMARA Jr, Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1970.
________. Filologia e Gramática. 3 ed. Rio de Janeiro: J.Ozon, 1963. p.63-64.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 45 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002.

CUNHA, C.; CINTRA, L.F.L. Novíssima Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

KEHKI, Valter. Morfemas do Português. São Paulo: Ática, 1990.

LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 44 ed. Rio de Janeiro, 2005.

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