Raquel Teles Yehezkel
Gênero
Textual:
CARDÁPIO
Trabalho
requisitado pela disciplina “Tópicos de Lingüística Aplicada: Gêneros Textuais
(LET151)”, ministrada pela profa. dra. Regina Peret Dell’Isola.
Faculdade de Letras
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte 28 de março de 2007
GÊNERO TEXTUAL: CARDÁPIO
Resumo
Este trabalho tem como objeto de estudo o gênero textual “cardápio”, com o objetivo de conceituá-lo, descrever suas características, usos e funções, relacionando-o ao universo dos gêneros textuais e suas práticas sociais e comunicativas.
Esquema
- Conceito de gênero textual: classificação dos textos, orais ou escritos, segundo seu uso e função nas práticas sociais e comunicativas.
- Conceito de cardápio: de modo geral, cardápio é uma listagem de comidas e bebidas preparadas e disponíveis para consumo, podendo ou não conter suas composições e preços.
- Características: listagem; texto ordenado; especificação ou não da composição e dos preços dos alimentos; com ou sem imagens; só de imagens; texto e imagens.
- Funções: função social e comunicativa de informar ao consumidor sobre as comidas e bebidas oferecidas; a ordem do que será oferecido; a composição dos alimentos; os preços.
- Suportes: papel (folheto ou livreto); madeira (quadro pequeno/manual ou grande/na parede), papel plastificado.
INTRODUÇÃO
Com o intuito de chegar à concepção
específica do gênero textual “cardápio”, apresento, em forma de introdução,
proposições sobre os conceitos de gênero textual de forma geral.
Partindo de um conceito mais amplo
para “gênero”, o “Dicionário Houaiss”
(2004) propõe – na entrada de número 1: “conceito geral que engloba todas as
propriedades comuns que caracterizam um dado grupo ou classe de seres ou de
objetos”. E, mais especificamente, propõe – na entrada de número 12 (ret):
“divisão e classificação dos discursos segundo os fins que se tem em vista e os
meios empregados”.
Os conceitos de gêneros textuais, em geral, partem dos
estudos de Bakhtin, filósofo e lingüista russo. Segundo Bakhtin (in: MARCUSCHI,
2005: 96), as atividades humanas estão relacionadas ao uso da língua, que se
efetiva através de enunciados (orais ou escritos). Por sua vez, cada enunciado
(situação comunicativa) teria suas particularidades, mas ao mesmo tempo estaria
restrito a determinado “campo de utilização”. Esses enunciados apresentam tipos
“concretos e únicos, que emanam dos integrantes de uma ou de outra esfera da
atividade humana”. Assim sendo, quando um falante escolhe um ou outro modo de
enunciar estaria, sempre, optando por estruturas já existentes no uso da
língua, estabelecidas por meio de relações sócio-culturais concretas entre os
usuários da língua. Os gêneros textuais seriam então formas “relativamente
estáveis” de discurso e, também, finitos.
Partindo de Bakhtin, Marcuschi (2005) afirma que os
gêneros são “entidades empíricas em situações comunicativas”. “Formas textuais
escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas”,
constituindo, em princípio, “listagens abertas”.
As definições de Bakhtin e Marcuschi parecem nos induzir
a dizer que a listagem de gêneros textuais seriam “finitas”, como propôs
Bakhtin, mas “abertas” como propõe Marcuschi, já que novos e infinitos gêneros
textuais podem se formar por meio de novas práticas sociais e novas estruturas
estabelecidas por essas novas práticas comunicativas. Como, por exemplo, o
evento da internet que estabeleceu novas formas de comunicação como os textos
de emails, de chats, de msns.
Na linha de raciocínio de gêneros como uma listagem
“aberta” como quer Marcuschi ou “finita” como propôs Bakhtin, Medeiros (2006)
coloca a seguinte questão: se o discurso está relacionado às práticas sociais
discursivas e estas são mutáveis e os gêneros são relativamente estáveis,
“significa que eles têm uma marca que permite ver as mudanças em determinados
momentos em que os discurso parece estável”, desse modo, o gênero do discurso
deveria ser estudado como função. E conclui que tentar classificar o discurso
enquanto função – “visto que a linguagem é uma prática social interacionista
ligada às práticas sociais e culturais entre os usuários de uma língua” – é
quase impossível.
CARDÁPIOS: ESTRUTURA E FUNÇÃO
De modo geral, o cardápio é uma relação de comidas e de
bebidas preparadas e disponíveis para consumo. Freqüentemente essa relação vem
seguida de seus preços e por vezes com a descrição da sua composição. Pode
também ser a relação das iguarias disponíveis para o serviço nos banquetes,
jantares de gala, festas e afins. A relação pode ser comunicada por escrito ou
pela fala (como por exemplo, os serviços de delivery, por telefone).
Segundo o “Dicionário Houaiss”, a palavra cardápio tem
etimologia latina. Charta: papel; carta + daps “banquete
oferecido aos deuses; refeição, comida” e é um neologismo criado pelo filólogo
brasileiro Antônio Castro Lopes (1827-1901) para substituir a palavra menu
do idioma francês.
A estrutura de um
cardápio tem, normalmente, a forma de uma relação, de lista, de rol. Mas pode
haver exceções e existem cardápios em forma de textos, de poesias, de quadros,
de fotos, desenhos, etc.
O suporte mais comum de um cardápio é o papel, mas
também há cardápios em madeira ou similares. Muitas vezes, o suporte no qual o
cardápio é veiculado serve para dar pistas do que é servido no restaurante.
Como por exemplo, materiais recicláveis ou naturais na confecção do cardápio podem servir para
indicar que aquele é um restaurante de comidas naturais.
A função social e comunicativa seria, normalmente, a de
informar ao consumidor sobre:
- as comidas,
- a ordem do que será oferecido,
- a composição dos alimentos,
- os preços.
Os cardápios nem sempre têm apenas a função explícita de
informar. Eles podem também ter outras funções não explícitas, como, por
exemplo, aguçar o apetite ou a vontade do consumidor, por meio de fotos,
descrições, frases ou poemas que contenham alusões à comida daquele lugar (como
no caso do cardápio do restaurante “Tragaluz” de Tiradentes -MG, que contém
trechos em prosa de personalidades expressando o que sentiram ao degustar a
comida ou apenas estar naquele restaurante).
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