sábado, 20 de julho de 2013

ESTUDOS LINGUÍSTICOS E ESTUDOS LITERÁRIOS DE BETH BRAIT



ALUNO: RAQUEL TELES YEHEZKEL
CURSO: PRÁTICA DE ENSINO DE PORT. / MTE 605: PROFa. GRAÇA PAULINO
TAREFA: FICHAMENTO 2

FONTE: BRAIT, Beth. “Estudos lingüísticos e estudos literários: fronteiras na teoria e na vida”. In: FREITAS E CASTRO (org.). Língua e literatura – ensino e pesquisa. São Paulo: Contexto, s/d.


ESTUDOS LINGUÍSTICS E ESTUDOS LITERÁRIOS:
FRONTEIRA NA TEORIA E NA VIDA

- Reflexão sobre as confluências entre estudos lingüísticos e literários, a partir de análise textos literários, poéticos.

1) “O assassino era o escriba”, de Paulo Leminski, de 1983: Por que achamos graça e nos simpatizamos com o eu-poético?
- Faz uma primeira leitura descompromissada e uma segunda mais crítica e detalhista (o poeta concretiza sua visão através de uma organização léxico-sintática: nomenclatura, metalinguagem → motivo de tortura, morte, subversão e criatividade, que produz humor.
- Está-se diante de um poema (linhas interrompidas, sem pontos; criando novo ritmo e rimas). Por que é importante saber que é um poema? Que nossa postura será diferente de estarmos diante de um romance, artigo, propaganda, etc. Ao saber que vai produzir um poema escolhe-se um plano específico para a mensagem, configurando-a, articulando forma e conteúdo, prevendo e constituindo o seu leitor.
- Somos submetidos pelo autor a alunos submetidos a um velho e tradicional padrão de análise sintática, incluindo-nos no poema. Mobiliza de forma criativa o mesmo léxico que nos torturou como aluno aparece em nova organização que mostra uma face diferente e nos causa riso, lançando mão de uma outra dimensão de nosso conhecimento, da nossa memória discursiva, nos constitui leitores de um tipo específico.
- Poema organizado em narrativa (o termo ‘assassino’ aponta para uma narrativa), ‘escriba’ → mistério (termo pouco usual). Narrador de 1ª pessoa descreve o sujeito como professor/torturador. Pronome possessivo ‘meu’, indica um narrador/ aluno/ torturado/ escriba → assassino. A última cena mostra que o narrador /aluno é o assassino, o professor a vítima e o a arma do crime o ‘objeto direto’.
- Verdadeiro tema do poema: a sintaxe, que desvenda a natureza dos protagonistas (professor/ sujeito inexistente). A morte também se realiza sintaticamente: o sujeito inexistente é morto por um objeto direto; o aluno é o sujeito ativo, que apesar de torturado domina a sintaxe com destreza e criatividade. Ambiguamente, em vez de ser um poema contra a sintaxe, torna-se homenagem a ela, exibindo um aluno que mata o professor e revela-se como escriba.

2) “Erro de português”, “O gramático”, “Vício na fala”, “O capoeira”, “Promnominais”, de Oswald de Andrade, tematiza a rica variedade da língua.
- Articulação de língua e literatura, língua e cultura, linguagem e vida: expressam a identidade lingüística brasileira sem mostrá-las como exotismo ou regionalismo, mas como transformação e marcas de uma identidade nacional. O uso recuperado na linguagem literária ganha status de existência e reconhecimento.
- Constrói um panorama de imagens brasileiras, do ponto de vista de um eu-poético crítico a determinados aspectos da colonização. Mistura de raças e suas particularidades é que designam a brasilidade: negros, mulatos, capoeiristas, índios, brancos, formam um coletividade pronta a desafiar, de forma carnavalizada, as normas do impostas pelo poder (regras gramaticais, religiosidade), desestabilizando os discursos fundadores da nacionalidade e sua história oficial.

3) Placa de trânsito (“Liberdade / Interditada → Paraíso / V. Marian).
- Texto institucional (Detran), deveria ser: objetivo, sem ambigüidades ou efeitos de sentidos inesperados, sem dimensão ideológica.
- Fotografado e colocado em livro de poema (José Paulo Paes: “Um por todos”, 1973): muda-se a forma de produção, de circulação e de recepção, gênero: poético: assinala um período da história do Brasil.

- O fazer literário: língua utilizada para expressar e justificar a existência humana.

4) Guimarães Rosa: o direito à criação de palavras, prática de neologismo.
- A literatura pode revelar interessantes aspectos da língua, de sua forma de organização, de seus laços com a vida e com os falantes, aspectos nem sempre decifrados pela lógica analítica.
- Existência de forte laço entre língua e cultura.
- Olha para a materialidade verbal e extraverbal constitutivas de uma enunciação para reinstaurar a discussão a respeito da estilística e da gramática/lingüística esuas fluidas fronteiras.

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