Ana Paula Natividade
Fernanda Santana Gomes
Raquel Teles Yehezkel
ADOLESCÊNCIA
ESTUDO DE CASO
Trabalho requisitado pela disciplina
Psicologia da Educação, ministrada
pela professora Raquel Martins.
Belo Horizonte 27 de novembro de 2007
Faculdade
de Educação – UFMG
1 INTRODUÇÃO
Este estudo de caso pretende abordar a
adolescência sob os aspectos sociológico, psicológico e educacional, pois a
considera como uma fase do desenvolvimento bastante complexa e de essencial
importância para a formação ética e social do ser humano.
A escolha pelo tema decorreu das
discussões realizadas ao longo da disciplina Psicologia da Educação com o
propósito de promover uma reflexão mais ampla a respeito da adolescência, de como
ela interfere nos estados psico-emocional e cognitivo dos jovens, de como eles
se colocam frente às peculiaridades e aos entraves advindos da fase da
adolescência, de como exteriorizam e/ou internalizam seus sentimentos, anseios
e desejos durante o processo de descoberta de si mesmo e do encontro como o
outro, entre outros aspectos relacionados a essa fase.
Como educadoras,
deparamo-nos freqüentemente com jovens adolescentes que apresentam e manifestam
os mais variáveis e difusos comportamentos no contexto educacional, trazendo
questionamentos e desafios constantes ao longo dos processos educativo e de
ensino-aprendizagem. Dessa forma, ressalta-se a necessidade e a importância da
realização de estudos reflexivos que discutam e analisem a adolescência e suas
influências nos processos de desenvolvimentos psico-emocional, cognitivo e
social dos jovens.
Pretendemos confirmar
a verdade da acepção de que durante a fase da adolescência faz-se importante a
existência de redes de apoio social e afetivo, composta de pessoas
significativas; o estabelecimento de elos de relacionamento; as oportunidades
de desempenhar novos papéis, que promovem novas fontes de satisfação pessoal,
bem estar e saúde mental, realizando um estudo de caso com um jovem com
necessidades especiais, aluno de ensino fundamental, que freqüenta uma escola
inclusiva.
A expectativa é de
que este estudo de caso possa fornecer subsídios científicos para a nossa
formação como futuros professores, pois a pesquisa abrange o caráter educativo,
comportamental (biológico e cognitivo) e histórico do jovem adolescente. Os
dados levantados, juntamente com a base teórica abordada poderão nos servir
como referência e auxiliar em nossas futuras atividades profissionais.
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Conhecer
como a fase da adolescência pode interferir nos âmbitos psicológico,
sociológico e cognitivo do jovem.
2.2 ESPECÍFICOS
Compreender
a fase da adolescência;
Apontar a
receptividade do jovem frente a essa fase;
Compreender
as visões e posturas do jovem em relação à adolescência e suas conseqüências ao
seu desenvolvimento global.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia da
pesquisa pauta-se em uma análise qualitativa, que visa a preocupação com a
compreensão, análise e interpretação do fenômeno que é apresentado ao longo da
pesquisa.
A coleta de dados foi realizada por
meio de entrevistas semi-estruturadas e de um roteiro de observação. Tendo como
sujeito da pesquisa um jovem com necessidades especiais (que apresenta uma
pequena lesão cerebral (linguagem mais lenta) e disfunção locomotora, de 18
anos, do Ensino Fundamental de uma escola regular localizada em Belo Horizonte.
Foram realizadas a observação do jovem em seu contexto escolar e as entrevistas
semi-estruturadas com ele e com sua mãe.
A metodologia da
pesquisa pauta-se em uma análise qualitativa, que visa a preocupação com a
compreensão, análise e interpretação do fenômeno que é apresentado ao longo da
pesquisa.
A coleta de dados foi
realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas e de um roteiro de
observação. Tendo como sujeito da pesquisa um jovem com necessidades especiais,
de 18 anos, do Ensino Fundamental de uma escola regular localizada em Belo
Horizonte. Foram realizadas a observação do jovem em seu contexto escolar e as
entrevistas semi-estruturadas com ele e com sua mãe.
Nosso informante
classifica-se como um caso de educação inclusiva, pois o mesmo teve uma lesão
cerebral advinda de convulsão sofrida na hora do parto, o que causou um atraso
na coordenação motora, dificuldade na fala, dificuldade motora e atraso no
aprendizado.
Antes de estudar em
uma escola regular, nosso entrevistado estudou em uma escola especial, na qual
todos os alunos tinham alguma deficiência física e/ou mental. O primeiro
contato de nosso sujeito com a escola foi aos quatro anos em um jardim de
infância, porém, o mesmo foi para um jardim regular onde ele encontrou muita
dificuldade de socialização uma vez que as outras crianças o rejeitavam,
segundo palavras da mãe.
Após esse difícil início, os pais o matricularam em uma
escola especial na qual cursou o ensino fundamental, e mais tarde recebeu alta
para ir para uma escola regular para cursar o ensino médio. O aluno aqui citado
está em seu terceiro ano na escola atual, já cursou a 5ª e a 6ª série sem
repetir, e passou com notas regulares, com média de 70% de aproveitamento. Ele
mora na Zona Noroeste da cidade, com sua família,
constituída pelo pai, mãe, irmão mais velho e avó materna. Moram em uma casa
própria na qual o informante divide o quarto com o irmão.
A observação teve
como objetivo a análise das condutas do jovem no ambiente da sala de aula
diante dos colegas, dos professores e dos conteúdos pragmáticos e durante suas
interações nos momentos de entretenimento social.
A entrevista
semi-estruturada dirigida ao jovem teve a pretensão de ser fonte de dados
relevantes a respeito da dimensão biopsicossocial, salientando aspectos
sócio-afetivo, educacional e cultural. A entrevista com a mãe do jovem teve
como pretensão colher dados importantes sobre o perfil do jovem no contexto
familiar e social.
Dessa forma, foram
realizadas a pesquisa de campo e a revisão de literatura, visando fundamentar a
pesquisa e buscar as informações diretamente com o sujeito-chave do estudo.
A observação teve
como objetivo a análise das condutas do jovem no ambiente da sala de aula
diante dos colegas, dos professores e dos conteúdos pragmáticos e durante suas
interações nos momentos de entretenimento social.
A entrevista
semi-estruturada dirigida ao jovem teve a pretensão de ser fonte de dados
relevantes a respeito da dimensão biopsicossocial, salientando aspectos
sócio-afetivo, educacional e cultural. A entrevista com a mãe do jovem teve
como pretensão colher dados importantes sobre o perfil do jovem no contexto
familiar e social.
Dessa forma, foram
realizadas a pesquisa de campo e a revisão de literatura, visando fundamentar a
pesquisa e buscar as informações diretamente com o sujeito-chave do estudo.
4 REFERENCIAIS TEÓRICOS
Os referenciais teóricos em que se
baseiam este estudo, reportam às leituras e discussões realizadas durante o
curso sobre psicologia do desenvolvimento humano e da educação. Este
estudopretende relacionar os dados colhidos junto ao adolescente com as
concepções de Piaget (construção do conhecimento), Vygotsky (processo de
aprendizagem), Santos (adolescência), Freud (adolescência e desenvolvimento
sócio-afetivo) e Lima (inclusão).
A adolescência é a fase da vida em que a pessoa se descobre como
indivíduo separado dos pais. Isso gera um sentimento de curiosidade e euforia,
porém também gera sentimentos de medo e inadequação. Um adolescente está
descobrindo o que é ser adulto, mas não está plenamente pronto para exercer as
atividades e assumir as responsabilidades de ser adulto. Assim sendo, procura
exemplos, de pessoas próximas ou não – ídolos artísticos ou esportivos, entre
outros – para construir seu caráter e seu comportamento.
Também é visível a
necessidade do adolescente de contrariar a vontade ou as idéias dos pais. Esse
comportamento opositor aos pais acontece em decorrência da necessidade do
adolescente de separar-se simbolicamente dos pais, ser diferente deles, para
construir sua própria identidade como pessoa. Ao mesmo tempo, o adolescente
pode não se ver capaz ainda de separar-se dos pais, gerando nele um sentimento
de medo. De um lado a necessidade de separar-se dos pais para ser um indivíduo
diferente e de outro lado a dificuldade de assumir a posição adulta (com suas
responsabilidades e desejos) levam o adolescente a uma fase de intensa confusão
de sentimentos, com uma constante mudança de opiniões e metas, e com um
comportamento bastante impulsivo. Além do fato de ter que lidar com um novo
corpo e novos papéis sociais.
A
adolescência e, especificamente, a entrada na adolescência por volta dos treze
anos de idade, traz ao jovem, aos pais e professores momentos angustiantes de
“choques” entre gerações. É uma fase em que o futuro adulto já deseja
demonstrar sua pretensa capacidade de gerir as suas ações.
Pais
e professores, ao longo da adolescência dos jovens, os orientam e exercem
influências sobre suas condutas e posturas a fim de que os ajustes
comportamentais que ainda sejam necessários efetivem-se para serem assumidos na
vida e em todos momentos de complexidade. Logo, vislumbram-se os confrontos
entre gerações. Confrontos necessários e vitais para a interação, trocas de
experiências e então, amadurecimento, ajustes e condições para a vida adulta.
Os adolescentes,
naturalmente, enfrentam problemas relacionados a sua auto-imagem e a sua
aceitação em grupos. Podem também apresentar condutas opositoras às regras e
normas da sociedade e constantes questionamentos. Tudo isso faz parte de um
ciclo natural de crescimento e
amadurecimento do indivíduo, através dessa fase ele deixa a infância
para assumir a vida adulta. Entretanto, cabe refletir que alguns adolescentes
podem exacerbar tais comportamentos e atingir um comportamento anti-social que
pode potencializar ocorrências e experiências que os coloquem em risco, além de
trazer enormes dissabores para seus familiares.
Percebe-se que,
muitas vezes, a incapacidade de tolerar frustração que alguns adolescentes
experimentam geram discussões e confrontos constantes. Outras tantas, a
impulsividade é interpretada como desrespeito.
Essa fase de desenvolvimento é caracterizada por uma oposição natural às
regras, através da qual o adolescente anseia tornar-se autônomo e demonstrar
independência. Ele deseja deixar o lugar da criança para tornar-se adulto. Para
tanto, busca desafiar normas e estabelecer outras; pretende com esse comportamento
dizer a todos que tem condições de se responsabilizar por sua vida.
Naturalmente, o
adolescente ainda não está totalmente pronto para assumir tamanha
responsabilidade. Vive-se um ritual de passagem, uma preparação. Então,
ocorre-se o choque entre as gerações. De um lado, os pais, professores e demais
representantes da geração anterior a do adolescente estão sempre a lembrar-lhe
de que normas e regras existem e que às vezes são imutáveis e que a vida na
sociedade prescinde delas. Por outro lado, procura experimentar e testar as
regras para verificar se são imutáveis e necessárias. O adolescente vivencia
densamente essas nuances. A falta de concentração traz uma dificuldade em
refletir sobre o que se é certo ou errado; sobre o que é necessário ou não. A
impulsividade exacerba ainda mais o desafio às convenções sociais.
De acordo com Santos (2004, p. 30): “A
adolescência é uma etapa do desenvolvimento humano, parte do ciclo vital, que
tende a uma universalização, mas ao mesmo tempo, mantém suas particularidades
em cada pessoa e em cada contexto onde ela está inserida e sendo
experienciada”.
Conforme salienta Santos, entre as
Ciências Sociais e a Psicologia, começa a existir um consenso de que:
a
adolescência não pode ser definida somente em termos de mudanças biológicas,
mas sim como um complexo processo de desenvolvimento psicossocial,
caracterizado por importantes mudanças nos mais diversos níveis, desde a
socialização até a inserção em âmbitos característicos da vida adulta, pautados
sobre novas responsabilidades sociais, culturais e afetivas. (....) Por esse
motivo, as fronteiras da adolescência nem sempre podem ser claramente
definidas: ela pode começar antes das mudanças da puberdade e se estender para
além da segunda década de vida, tendo cada vez mais uma tendência a se
expandir, acompanhando mudanças sociais e de configuração familiar nas diversas
populações.
[...]
Há,
na adolescência, um movimento que parte da infância rumo a idade adulta,
caracterizando-se como intenso período de transição, repleto de mudanças nos
níveis biológico, cognitivo e social, que podem ser melhor compreendidas
levando-se em conta o ambiente social e de interação dos adolescentes na
família, no bairro, nas amizades e nos mais variados contextos de
desenvolvimento. (SANTOS, 2004. p. 30-31).
Retratando essa distinção entre
adolescência e juventude, Waiselfisz (1998, p. 17) citado por Santos (2004, p.
32) coloca que, segundo a Organização Mundial de Saúde:
(...)
a adolescência constituiria um processo fundamentalmente biológico durante o
qual se acelerariam o desenvolvimento cognitivo e a estruturação da
personalidade. Abrangeria a as idades de 10 a 19 anos, divididas nas etapas
pré-adolescência (de 10 a 14 anos) e adolescência propriamente dita (de 15 a 19
anos). Já o conceito de juventude resumiria uma categoria essencialmente
sociológica, que indicaria o processo de preparação para os indivíduos
assumirem o papel de adultos na sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional,
estendendo-se dos 15 aos 24 anos.
Nos termos legais do Estatuto da
Adolescência (1990) a adolescência brasileira é postulada entre os 12 e os 18
anos. Silva e Hutz (2002) criticam essa fundamentação etária e enfatizam que:
(...)
a adolescência é um período de fronteiras nem sempre demarcadas com o rigor que
se espera. Ela existe em uma tênue rede de experiências e processos que varia
de pessoa para pessoa, cada qual constituindo o seu processo de formação nas
interações com os contextos de desenvolvimento disponíveis (p.155).
Santos (2004, p.44)
assume a adolescência como: “(...) construção psicossocial subjetiva, pessoal,
tendendo a uma concepção múltipla do termo, identificando as diferenciações e
as características individuais e contextuais como formuladoras de uma síntese,
cujo termo mais apropriado e aproximativo poderia indicar a existência de
adolescências”.
Durante a fase da
adolescência faz-se importante a existência de redes de apoio social e afetivo,
composta de pessoas significativas, o estabelecimento de elos de
relacionamento, as oportunidades de desempenhar novos papéis, que promovem
novas fontes de satisfação pessoal, bem estar e saúde mental. A respeito da
exclusão social Santos (2004, p. 55) assevera que:
Enquanto fenômeno
multidimensional, a exclusão social pode levar a diversas formas de trajetórias
de desvinculação no mundo do trabalho e das relações sociais, como a
fragilização dos vínculos com a família, comunidade, vizinhança e instituições,
produzindo rupturas que conduzem ao isolamento social e à solidão.
Freud, segundo
Miranda (2001, p. 21-22) coloca que:
[...] o “mal-estar do ser humano
na civilização” é originário de três fontes: o corpo, as relações com os outros
e o mundo exterior. Na adolescência, esses três pontos convergem, e o jovem
vivencia uma angústia em dose tripla: o corpo que vê no espelho lhe é estranho,
desconhece a si mesmo na relação com os outros; e o mundo é atraente e
ameaçador ao mesmo tempo. Aprendeu a amar com os pais, mas o que é da ordem do
sensual, assegura Freud, deverá ganhar outro destino fora do enredo familiar.
Aos pais resta a quota de ternura, tão difícil de expressar nesse momento
confuso. Buscando fugir do real avassalador, o adolescente tenta encontrar a
perfeição e a complementaridade na parceria amorosa.
Em relação aos
processos de desenvolvimento e de aquisição de conhecimentos, Piaget citado por
Soares (2005), argumenta que não há “erros”, mas tentativas de compreender o
mundo por meio de perguntas e respostas baseadas na experimentação,
estabelecendo hipóteses e princípios, e reelaborando-os progressivamente.
De acordo com Bee
(1984), Piaget, em seus estudos, argumentou que no decorrer do funcionamento
intelectual do ser humano há processos fundamentais que ocorrem o tempo todo,
sendo estes a adaptação e a organização. Segundo Piaget, é da natureza humana
organizar suas experiências e adaptá-las ao que foi experimentado. A adaptação
consiste em um processo de ajustamento ao meio ambiente. Já a organização da
experiência inclui processos como a combinação das informações provenientes dos
diferentes sentidos.
Para sistematizar
esses processos, Piaget expôs e explorou densamente três principais conceitos:
assimilação, acomodação e esquema.
A assimilação é o
processo de incorporação das novas experiências ou informações; a acomodação
consiste no processo de modificação de suas idéias ou estratégias em função da
nova experiência; e, os esquemas são padrões organizados de comportamento.
Os esquemas podem
consistir em ações visíveis, como agarrar uma bola ou olhar para um rosto; ou
podem se constituir de padrões ou de estratégias internas, como: classificar em
conjuntos objetos, compará-los, somá-los, ou subtraí-los. Piaget utilizou o
termo operação para descrever estes esquemas internos mais complexos.
Um aspecto importante
do conceito de esquema é que os processos de assimilação e acomodação são os
mecanismos pelos quais ele se modifica. A criança assimila as experiências às
estruturas existentes.
Piaget postulou
estágios para o desenvolvimento cognitivo, no qual a criança passa em seu
progresso gradual do raciocínio infantil ao raciocínio adulto.
A teoria
construtivista de Piaget auxilia na compreensão de que o processo de
aprendizagem efetiva do aluno ocorre na interação entre o conhecimento, o
professor e os colegas de sala. Dentro dessa configuração, o processo do
desenvolvimento cognitivo caracteriza-se por ser contínuo na direção de
patamares de conhecimento cada vez mais elevados, através de
equilíbrios-desequilíbrios-reequilíbrios das estruturas assimilativas.
Salientando a
respeito do processo de aprendizagem, Vygotsky citado por Gomes (2005), destaca
que a aprendizagem é um processo mediado, individual e coletivo, o qual faz
despertar processos internos de desenvolvimento que envolvem memória,
consciência e emoção, aos quais se somam o próprio desenvolvimento, a linguagem
e o papel da cultura; com ênfase para o conceito de Zona de Desenvolvimento
Proximal: distância entre o que o aprendiz é capaz de resolver com
autonomia e o nível potencial que ele pode atingir com a mediação de um adulto
ou companheiros mais capazes.
Kohl (1997), argumenta que para
Vygotsky, desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao
desenvolvimento, e é “ um aspecto necessário e universal do processo de
desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e
especificamente humanas.” (Vygotsky, p.101). Através dessa visão, ele frisa que
é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos do indivíduo,
que liga o desenvolvimento da pessoa a sua relação com o ambiente
sócio-cultural em que vive e a sua situação de organismo, que não se desenvolve
plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie.
Ao versar sobre O conceito de zona
de desenvolvimento proximal, a autora apresenta dois níveis de
desenvolvimento denominados por Vygotsky como real e potencial, os quais são
imprescindíveis para a constituição e compreensão do seu conceito de zona de
desenvolvimento proximal.
Vygotsky denomina a capacidade de
realizar tarefas de forma independente, de nível de desenvolvimento real. O
nível de desenvolvimento real da criança caracteriza o desenvolvimento de forma
retrospectiva, referindo-se a etapas já alcançadas e/ou conquistadas pela
criança. As funções psicológicas que fazem parte do nível de desenvolvimento
real da criança em determinado momento de sua vida são aquelas já bem
estabelecidas naquele momento. Já a capacidade de desempenhar tarefas com a
ajuda de adultos ou de companheiros mais capazes, é denominada por ele de nível
de desenvolvimento potencial. Muitas vezes, uma criança não é capaz de realizar
tarefas sozinha, mas se alguém lhe der instruções, fizer uma demonstração,
fornecer pistas, ou der assistência durante o processo, ela se torna capaz de
realizá-las. Essa possibilidade de modificar o desempenho de uma pessoa pela
interferência de outra é fundamental em sua teoria.
A pedagoga Kohl (1997) lembra da
importância extrema que Vygotsky atribui à interação social no processo de
construção das funções psicológicas humanas. Contudo, ela relata que é a partir
da postulação da existência desses dois níveis de desenvolvimento – real e
potencial – que Vygotsky define a zona de desenvolvimento proximal como “a
distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar
através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento
potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.” (Vygotsky, p.97)
A escola tem um papel primordial na
construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades
escolarizadas. Mas para Vygotsky, de acordo com Kohl (1997), o desempenho desse
papel só se manifestará com êxito quando, conhecendo o nível de desenvolvimento
dos alunos, a escola dirigir o ensino não para as etapas intelectuais já alcançadas,
mas para os estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos,
possibilitando a ocorrência de novas conquistas psicológicas.
O processo de ensino aprendizado na
escola deve ser construído, então, tomando como ponto de partida o nível de
desenvolvimento real da criança e, posteriormente ligando ao nível de
desenvolvimento potencial. A escola tem o papel de fazer a criança avançar em
sua compreensão e análise do mundo, a partir de seu desenvolvimento já
consolidado, e tendo como meta etapas posteriores, ainda não alcançadas.
A autora ressalta que para Vygotsky, “o único bom ensino é aquele que se
adianta ao desenvolvimento”. Para ele, o professor tem que interferir na zona
de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam
espontaneamente.
Ao versar sobre a
inclusão, Lima (2006) coloca que:
Nós,
seres humanos, estamos incluídos na sociedade por uma relação de pertencimento,
baseada no princípio da igualdade: há algo que nos aproxima, que nos identifica
como pessoas. Estamos incluídos nesta sociedade humana pelo princípio da
identidade, mas podemos ser excluídos pelo princípio da diversidade. Aí reside
a nossa contradição. Temos de discutir a inclusão, porque há uma sociedade
excludente, que dicotomiza identidade e
diversidade (LIMA, 2006. p. 19).
Além disso, a autora,
problematizando a igualdade, a diversidade e a proposta de uma educação
inclusiva, acrescenta que:
A
proposta de inclusão de todos como participantes da produção social, cultural e
econômica enfatiza a igualdade concreta entre sujeitos, com reconhecimento das
diferenças no aspecto físico, psicológico e cultural. A diversidade não se opõe
à igualdade. A desigualdade socialmente construída é que se opõe à igualdade,
pois supõe que uns valem menos do que os outros. O enfrentamento e a superação
dessa contradição são tarefas cotidianas em uma proposta de Educação Inclusiva
(LIMA, 2006. p. 20).
5 ANÁLISE
DOS DADOS
Através da análise
das entrevistas, pode-se perceber que o adolescente demonstra ser um jovem
bastante autônomo e crítico, ciente do contexto sócio-político e cultural em
que vive. Ao argumentar a respeito da influência da mídia sob a sociedade e do
preconceito frente à diversidade, o jovem mantém um posicionamento reflexivo
diante da realidade, demonstrando que consegue perceber o plano real de forma
ampla, estabelecer boas associações e fazer julgamentos pontuais e pertinentes,
articulando dados de caráter macro e micro do sistema social, desvelando as
mazelas e os estigmas que perpassam o discurso sócio-político e ético da
sociedade.
Nas questões 29 e 30
da entrevista com o jovem pode-se perceber esse olhar crítico e analítico sobre
a realidade:
29-
Quais as coisas em sua vida que o fazem se sentir triste ou preocupado?
De
certa forma, a mídia. Pela influência que ela exerce sobre as pessoas e inibe
um pouco suas próprias opiniões. Isso eu não acho muito legal, porque eu acho
que as pessoas tem que ter um senso crítico.
30-
Quando você fica chateado, o que você faz?
Ah,
ás vezes eu escrevo algumas coisas, acho que de certa forma ajuda, não que seja
a solução, mas de certa forma dá uma ajuda. Aí eu escrevo poesia.
Diante do discurso do
aluno X, foi possível constatar que a família exerce um papel relevante e
indispensável para a configuração e constituição de sua personalidade. A
estrutura familiar estável (mãe-pai-irmão-familiares próximos) juntamente ao
bom ambiente encontrado no convívio familiar (afeto, confiança e respeito)
refletem na postura que ele demonstra frente ao valor que atribui à família, à
responsabilidade que tem com os estudos, à importância que dota aos laços de
amizade, aos princípios éticos (sinceridade, respeito, confiança).
As suas confidências, por exemplo, são
feitas à mãe e aos amigos mais próximos. Faz-se interessante perceber que o
adolescente, em situações mais complexas de tomada de decisões, recorre a sua
rede de apoio (amigos-pais-familiares).
Procuro
ter calma, dependendo do assunto peço opinião dos amigos, dos meus pais e do
meu irmão, e tento fazer a melhor coisa, não que seja a certa, mas tento né,
ver qual seria o melhor caminho (em anexo).
Em relação ao seu
desenvolvimento social e emocional, percebe-se que ele é bastante equilibrado e
consegue manter a autenticidade de seus pensamentos. Ele reforça que a família
e os amigos são muito importantes em sua vida, e que o afeto é essencial para
uma boa convivência. Ele não sai muito, assim, para ele a Internet é um bom
meio para se encontrar pessoas de interesses semelhantes, mas salienta que também, fora da Internet, na
escola, no curso de Inglês, na Academia, têm pessoas legais para se relacionar.
Ele acrescenta que, um dos valores importantes para ele nos relacionamentos
interpessoais, trata da sinceridade. “Saber dar opiniões sinceras, mesmo que
não seja aquilo que você queira ouvir” (anexo).
Analisando as colocações subseqüentes,
a respeito do que é liberdade e com quais pessoas ele consegue aprender mais,
nota-se que suas idéias são bastante autênticas e revelam o estabelecimento de
redes de apoio interpessoal, onde as pessoas são valorizadas e importantes para
sua projeção no contexto social.
“Ter escolhas
próprias, saber o que quer, agir por conta própria, isso é ter liberdade. Ir em
lugares que eu quero com pessoas que eu gosto”.
(liberdade)
“Com os próprios
amigos, educadores, professores que querem realmente ensinar. Com essas pessoas
eu sempre aprendo mais” (melhor aprendizado) (ver anexo).
Outro aspecto a ser
salientado é que em nenhum momento o jovem colocou em foco sua deficiência
física e/ou dificuldades em relação à linguagem (uma comunicação mais lenta)
como um entrave para sua inserção na sociedade. O silenciamento e/ou
esquecimento sobre esse aspecto ao longo da entrevista pode ser considerado
como uma superação ou como uma postura de defesa frente ao julgamento da
sociedade. Pode-se inferir isso, devido ao receio que ele próprio havia
manifestado quando mudara da escola especial para uma escola regular inclusiva.
O trecho subseqüente ilustra essa questão:
“Antes de entrar na escola Y eu
estudava no curso W, escola especial que lida com deficientes físicos e
mentais. Fiquei um vasto período, muito grande, até porque eu tinha um certo
medo de sair de lá e enfrentar de certa forma o mundo aqui fora” (em anexo).
Ao versar sobre a
prática docente, o jovem reforça os aspectos citados e coloca como fundamental
a prática de um trabalho coletivo, dinâmico, interativo. Segundo ele é
fundamental: “A dinâmica nas aulas. O professor querer entender o lado do
aluno, ver qual é a opinião dele. Fazer uma dinâmica que todos participam, não
apenas um grupo, mas a sala inteira” (anexo). Assim, além de nos mostrar que,
conforme Piaget, a questão de erros e acertos não é relevante, mas sim o
processo de experiência que se vive, o jovem demonstra que para ele é
importante a inclusão, a valorização das pessoas, o ato de ouvir, a
compreensão, o acolhimento.
Em relação ao processo de
aprendizagem, o adolescente fala que não se dá muito bem com a disciplina de
matemática, devido ao fato de ter muito cálculo. Frente a esse aspecto, é
importante considerar as necessidades especiais do aluno juntamente a fase pela
qual passa, que remete justamente à formação do pensamento formal, ao
desenvolvimento aguçado das operações abstratas (Piaget). Dessa forma, é
possível compreender porque suas maiores dificuldades decorrem diante de
situações em que necessita explorar o caráter abstrato.
Segundo Piaget citado por Bee (1984),
um fato importante na mudança das operações concretas para as operações formais
refere-se à passagem de uma lógica indutiva para uma lógica dedutiva. Os
adolescentes podem ser capazes de abordar os problemas científicos usando um
método dedutivo, partindo de uma teoria para um experimento que teste alguma
parte da teoria. Eles são competentes para pensar em coisas completamente
abstratas, sem necessitar da relação direta com o concreto. Os adolescentes
freqüentemente levantam hipóteses sobre o mundo, dessa forma, constroem e
ampliam seus conhecimentos.
As disciplinas que ele mais gosta são
inglês, português, ciências e artes. A professora favorita é a Ana Paula
(inglês), com a qual mantém uma relação bastante aberta e amigável. E destaca
que gosta muito do professor de artes Geraldo, pois segundo ele, é bastante
atencioso e procura sempre conversar e preocupar-se com seu desenvolvimento
educacional e emocional. O envolvimento e a receptividade que o adolescente tem
com os professores de inglês e de artes são fatores que interferem na forma
como se dá seu aprendizado, sendo mais efetivo, mais satisfatório e prazeroso.
Atualmente, o jovem estuda em uma
escola pública inclusiva. Antes de entrar nesta escola, ele estudava em uma
escola especial, onde ficou por um longo período, pois tinha um certo medo de
sair dessa escola e enfrentar “o mundo aqui fora”.
Em relação ao preconceito que sofre
pelo fato de ser uma pessoa com necessidades especiais, o aluno X destaca:
“O
preconceito é muito errado. Hoje em dia não muito, antigamente era mais. Hoje
em dia é uma coisa disfarçada, mas você nota que algumas pessoas ainda têm um
preconceito pra determinados assuntos” (anexo).
O adolescente importa-se que
valorizarem seu estilo de vida e, principalmente, como ele é. Assim, nota-se
que para ele faz-se muito importante sentir incluso, querido no grupo de
relacionamentos como explicita a teoria de Lima (2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância da
atenção e preocupação que os educadores demandam aos alunos e a forma como eles
conduzem o processo de ensino-aprendizagem foram fatores que o jovem fez
questão de enfatizar no transcorrer da entrevista, confirmando a concepção de
Vygotsky que vê na mediação dos adultos um papel preponderante para o
desenvolvimento do jovem. A conduta da família e dos profissionais se mostraram
bastante importantes para ele, o estabelecimento de vínculos com os professores
e colegas repercute na forma como se envolve com o ensino e com a significância
que a educação tem em sua vida.
No caso do
adolescente estudado, as acepções de Santos parecem se comprovar ao
constatarmos a importância da rede de proteção familiar e escolar à volta do
sujeito da pesquisa, confirmando a assertiva de que durante a fase da
adolescência faz-se importante a existência de redes de apoio social e afetivo,
composta de pessoas significativas, o estabelecimento de elos de
relacionamento, as oportunidades de desempenhar novos papéis, que promovem
novas fontes de satisfação pessoal, bem estar e saúde mental.
REFERÊNCIAS
BEE, Helen. A
Criança em Desenvolvimento. Tradução: Rosane Amador Pereira. 3.
ed. São Paulo: HARBRA, 1984. 421p.
GOMES, Maria de Fátima; MONTEIRO, Sara Mourão. A aprendizagem e o
ensino da linguagem escrita. Belo Horizonte: Ceale, FAE, UFMG, 2005.
LIMA, P.A. “Contexto e Pressupostos”; “Definindo Educação Inclusiva
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OLIVEIRA, Martha Kohl de. Desenvolvimento e
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ANEXO
ENTREVISTA
COM O ALUNO SOBRE CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO:
A CASA/
FAMÍLIA:
1 – Quantos
anos você tem?
“Dezoito
anos.”
2 – Com que
você mora?
“Com meus
pais, meu irmão e minha avó.”
3 – Como
que você descreve a sua relação com a sua família?
“Bom, a
relação é boa, como toda família tem um pouco de conflito, mas no geral é muito
bom. Dinâmica.”
4– Fale um
pouco da sua relação com sua mãe.
“Bom, minha
mãe é bem compreensiva, procura entender os dois lados da situação e procura
sempre a melhor situação prum determinado assunto.”
5 – Fale um
pouco da sua relação com seu pai.
“Bom, meu
pai, ele é muito legal e um pouquinho menos paciente do que minha mãe, mas
muito legal. Sempre que eu preciso dele ele ta pronto pra me ajudar e tudo.”
6- Fale um
pouco da sua relação com seu irmão.
“O meu
irmão é bem bacana (risos). Antigamente, a gente brigava muito, mas hoje em dia
é tranqüilo.”
7- Brigava
por que?
“Ah,
briguinha de irmão, por causa de jogos, de brinquedo.”
8- Qual é a
diferença de idade de vocês?
“Dois anos
e meio”.
ESCOLA
9 – Como
você descreveria sua escola para um estudante que quisesse vir estudar nela?
“Hum, bom,
uma escola boa, por ser estadual (ééé ), ficam algumas coisas a desejar, mas no
geral é uma escola muito boa por ser estadual né?! Tem gente que quer estudar,
tem gente que está ali mais por obrigação, mas no geral é uma escola boa.”
10- Quantos
alunos tem na sua sala?
“Tem uns
trinta e cinco alunos.”
11- Qual a
idade dos seus colegas de sala?
“Varia de
treze a quinze anos. Eu, por ter saído de uma escola especial, tô com dezoito e
na sétima [série] ainda.”
12- De que
você gosta mais na escola que freqüenta?
“Ah, dos
meus amigos que tenho mais contato, de algumas matérias em especiais inglês,
português, ciências e artes.”
13- Do que
você gosta menos na escola que freqüenta?
“Eu não
gosto muito de geografia. (risos)”
14- E os
professores, o que você pode dizer sobre eles? Você tem algum professor
favorito?
“Eu tenho a
professora de inglês. [Professora da escola de idiomas] Na escola, gosto muito
do professor de artes, é muito bom conversar com ele. O que eu mais converso é
com o professor de artes mesmo.”
15- Por
que? O que você acha que faz um bom professor?
“A dinâmica
das aulas, querer entender o lado do aluno, ver qual que é a opinião deles.
Fazer uma dinâmica, que aí todos participam, não apenas um grupo, mas sim a
sala inteira.”
16- Tem
algum professor que você não gosta?
“Não, me
dou bem com todos.”
OS COLEGAS
17- Quem
você considera que é o seu melhor colega de sala?
“Bom, tem o
T, porque quando eu entrei nesta escola, eu cheguei lá e não conhecia ninguém
porque eu vim de outra escola, então o T. foi o primeiro cara que eu comecei a
conversar. E converso com ele até hoje e ele é bem bacana.
18- Como
era a outra escola que você estudava?
“É uma
escola especial, que lida com deficientes físicos, mentais, onde eu passei um
período muito grande, até mesmo por ter um pouco de medo de sair de lá e
enfrentar, de certa forma, o mundo aqui fora.”
COMUNIDADE
19- Você
participa de alguma atividade em sua comunidade?
“Não.”
20- Você
faz alguma atividade extra escolar?
“Seria
academia e o inglês.”
21- Você
pratica esporte?
“Eu já fiz
hipismo durante quatro anos, porém, hoje em dia eu não pratico mais.”
OUTRAS
INFORMAÇÕES
22- Você
acha que você age ou se sente de maneira diferente em lugares diferentes? Por
exemplo, você acha que você age ou se sente de maneira diferente em casa ou na
escola?
“Bom, em
casa, sempre a gente é mais natural né? Quando nós estamos fora, dependendo do
local e das pessoas, eu fico um pouco tímido.”
23- Qual o
lugar que você fica tímido?
“(risos)
Ah... Mais é... Eu não sei assim...Xô vê...
24- Você
gosta de passear?
“Gosto. Eu
saio com meus amigos.”
25- Onde
você vai com seus amigos?
“Geralmente,
nós vamos na praça da liberdade, ver algum show.”
DESENVOLVIMENTO
SOCIAL E EMOCIONAL
26- O que
faz de uma pessoa um bom amigo?
“Sinceridade,
saber dar opiniões sinceras mesmo que não seja aquilo que você quer ouvir. É
mais a sinceridade que prevalece.”
27- Quais
são as ocasiões e/ou lugares em que você tem mais oportunidade de encontrar
amigos?
“Bom, eu
não saio muito. Então a internet eu acho que é um bom local porque você
encontra pessoas com mesmos interesses que os seus. Mas fora da internet, na
escola, no inglês, na academia, onde também tem pessoas muito legais.”
28- Quais
são as pessoa que o fazem realmente feliz em sua vida nesse momento?
“Bom, eu
acho que são os meus familiares mais próximos e meus amigos.”
29- Quais
as coisas em sua vida que o fazem se sentir triste ou preocupado?
“De certa
forma, a mídia. Pela influência que ela exerce sobre as pessoas e inibe um
pouco suas próprias opiniões. Isso eu não acho muito legal, porque eu acho que
as pessoas tem que ter um senso crítico.”
30- Quando
você fica chateado, o que você faz?
“Ah, ás
vezes eu escrevo algumas coisas, acho que de certa forma ajuda, não que seja a
solução, mas de certa forma dá uma ajuda. Aí eu escrevo poesia”
DESENVOLVIMENTO
DA IDENTIDADE
31- Se você
tivesse que descrever para uma pessoa que você não conhece como você é, por
exemplo, em uma carta, quais são as cinco coisas mais importantes que você
gostaria que essa pessoa soubesse sobre você?
“Bom eu
acho que as coisas que eu gosto, lugares que eu freqüento, sobre o meu estilo
de vida, como eu sou.”
32- Você já
pensou no que gostaria de fazer depois de terminar o ensino médio?
“Ainda não,
não tenho nada em mente, de qual faculdade nem nada.
33- Mas
você gostaria de ir para faculdade?
“Gostaria
muito, só não sei o curso ainda.”
34- Quando
você pode realmente decidir o que você mais gosta de fazer?
“Bom, acho
que é uma coisa de opinião própria, a pessoa tem que saber realmente o que ela
quer, e o que deseja para a sua vida, e não ser muito influenciada pelo meio.”
35- Alguns
jovens se preocupam com coisas como a aparência física e as roupas que usam.
Essas coisas te preocupam?
“Bom, de
certa forma sim, porque a sociedade te impõe isso, você tem que ter a roupa que
ta na moda, ééé... Porém, eu não me sinto muito preocupado, vai depender dos
lugares. Isso influencia sim.”
36- Você se
considera um adolescente ou um adulto?
“(risos)
Depende da situação. Em certos lugares, tipo show, você tem que ser mais
adulto. Se for uma coisa de família, mais casual, você tem um estilo mais
descontraído, mais jovem mesmo.”
DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO
37- Como
você acha que você aprende melhor?
“Acho que
com os próprios amigos, educadores, professores que realmente querem ensinar.
Com essas pessoas eu sempre aprendo mais.”
38- Como
você estuda para provas?
“Eu não
estudo para provas (risos). Eu não consigo estudar em casa”.
39- Qual a
sua matéria preferida na escola?
“Inglês e
português.”
40- Por que
você gosta mais dessas matérias?
“Eu não sei
exatamente o porque, mas o inglês, por ser uma outra língua, é bem interessante
você ter o conhecimento de outra língua, assim...”
41- Você
acha que o professor faz você gostar da matéria?
“Com
certeza, se a pessoa sabe dar aula, com certeza o aluno, eu, fico mais
interessado e mais envolvido com a matéria.”
42- Há
alguma matéria de que você não gosta de jeito nenhum?
“Não. Eu
não me dou muito bem com matemática, mas eu gosto, não é a minha preferida,
mas...”
43- Porque
você acha que matemática e a matéria que você menos gosta?
“Não sei.
Muito cálculo...”
44- Como é
o professor de matemática?
“Ele é
legal. Antigamente a turma não gostava muito dele, mas hoje em dia ele é super
bacana com a gente, explica tudo direitinho, quando pode, né? Porque a sala
conversa muito e acaba que, quem quer aprender fica prejudicado.”
45- Qual o
tipo de coisa que você aprende com mais dificuldade? O que você faz quando uma
coisa é realmente difícil de aprender?
“Eu estudo
com mais intensidade.”
DESENVOLVIMENTO
MORAL
46- Quais
são os valores mais importantes em que você acredita?
“Acho que
no sentimento um ser humano pode ter por outro. Sentimento de afeto, carinho ou
o próprio amor.”
47- É fácil
para você seguir esses valores? Quais são os valores que a sua família tem? O
que você acredita que é importante?
“Acho que é
o afeto de uma família, a união é base para a vida.”
48- Tem
alguma coisa que você acha muito errada, que você não aceita que as pessoas
façam com você?
“Acho que o
preconceito.”
49- Você sofre
algum tipo de preconceito?
“Hoje em
dia não muito, antigamente era mais. Hoje em dia é uma coisa bem disfarçada,
mas você nota que algumas pessoas ainda tem o preconceito, pra determinados
assunto...”
50- Quando
você está em uma situação complicada – na qual não está claro como exatamente
você deveria agir – o que você utiliza como seu guia de ação? (por exemplo,
você pede opinião de alguém, ou você de age de acordo com algum valor da
escola?)
“Eu procuro
ter calma, dependendo do assunto, peço opinião dos amigos, do meu pai, mãe ou
irmão e tento fazer a melhor coisa. Não que seja a certa, mas tentar, né? Ver
qual seria o melhor caminho.”
51- Qual é
a pessoa mais próxima de você?
“Bom, tem
meu amigo L., e tem o J.”
52- Qual é
idade deles?
“Ambos têm
dezessete anos”
53- Para
você, o quê é a liberdade nesse momento da sua vida?
“Bom, ter
escolhas próprias, saber o que quer, agir por contas própria. Isso é
liberdade”.
ENTREVISTA
COM A MÃE
1- Quantos
anos você tem?
“Quarenta e
dois”
2- Fale um
pouco sobre o problema do seu filho.
“Ele teve
uma lesão cerebral, quando nasceu por falta de oxigênio. Na hora do parto ele
aspirou o líquido, então teve uma convulsão quando nasceu e isso causou uma
pequena lesão cerebral.”
3- Qual foi
a conseqüência dessa pequena lesão?
“Houve um
atraso na coordenação motora e com isso atrasa em geral, tanto os movimentos,
como também na parte de aprender as coisas, foi tudo mais lento.”
4- Com que
idade ele foi para escola?
“Especial,
sete anos. Mas quando ele tinha quatro anos ele foi para uma escola regular
mesmo, num jardim, né!? Ele fez primeiro período, segundo período, só que ele
não consegui acompanhar as crianças. E aí a gente viu a necessidade dele ir
para uma escola especial. Ele tinha sete anos quando foi para escola especial e
ficou lá, ah eu já esqueci.... Mais ou menos ele ficou uns seis anos na escola
especial, aí ele foi para a regular novamente na quinta série. Então ele fez de
primeira a quarta na escola especial.”
5- E como
era a relação dele com os colegas nas duas escolas?
“Muito boa
a relação na escola especial. Foi excelente, porque nós passamos por muitas
dificuldades no jardim de infância, vou dizer assim, né? Porque as crianças
para aceitarem uma criança diferente, quando as crianças são pequenininhas, é
difícil, né? Porque elas não tem maturidade para entender nada daquele
problema. Então meu filho se sentia rejeitado porque as crianças colocavam
apelidos, não tinham uma boa aceitação. Por parte da escola sim, mas a
convivência com os coleguinhas era difícil. Depois que ele passou para escola
especial foi como se fosse assim um... Uma tranqüilidade, foi uma tranqüilidade
muito grande pra ele e pra nós porque ele estava no meio de pessoas que
entendiam o problema dele, então foi muito bom. Agora eu fiquei muito
apreensiva a partir do momento em que liberaram meu filho da escola especial
para ir para a escola regular.”
6- Como foi
essa passagem? Como foi essa decisão?
“Foi muito
difícil. A diretora da escola especial, ela queria que ele, até antes queria
liberar ele, e eu que não queria eu falei com ela assim: não ele não tá maduro
o suficiente para isso, não vai dar certo. Aí ela aceitou e deixou ele mais um
ano na escola especial. Aí ela falou de novo: ta na hora. Aí eu concordei com
ela, eu tinha medo do que ia acontecer pelo fato das coisas que já tinha
acontecido antes porque a primeira experiência não tinha sido boa. Mas foi tão
tranqüilo (a passagem). Não teve nenhuma rejeição por parte dos colegas,
inclusive todos de lá gostam demais dele. Esse período que ele ficou na escola
especial foi muito bom porque ele amadureceu né? E ficou pronto pra poder
encarar uma escola regular, junto com alunos diferentes dele. E, tanto a
escola, não sei se porque os alunos são maiores, não sei se é por esse motivo,
quando ele foi para o jardim os meninos eram todos pequenininhos, então os
alunos gostam demais dele.”
7- Como é o
cotidiano dele?
“Ele é
super tranqüilo, ele gosta muito de computador, ele gosta muito de focar dentro
de casa, ele não gosta muito de sair, ele se comunica muito bem com as pessoas,
mas ele tem receio do que vai encontrar fora de casa. Ele se sente diferente.
Ele sai, mas com colegas.”
8- O que
ele gosta de fazer?
“Ele
adorava fazer eco terapia, ele adorava os cavalos.”
9- Por que
ele parou?
“Porque não
tem mais a parte esportiva. Era o que atraia ele mais. Ele ficou desmotivado
quando cortaram as competições. Mas ele ficou muito tempo lá, ficou mais ou
menos uns sete anos.”
10- O que
ele não gosta de fazer?
“Ai... Não
sei.”
11- É
difícil para ele fazer amizades?
“Pelo
computador não, ele tem muita amizade pelo computador. Agora pessoalmente, é
difícil, ele é mais fechado, mas quando ele é amigo da pessoa ele é amigo
mesmo. Mas ele tem poucos amigos.”
12- Como é
o relacionamento dele com irmão mais velho?
“Excelente.
Ele se espelha no irmão. Eu até falo com o F.: você tem uma responsabilidade
muito grande porque o [nome aluno] imita
você. Então os dois tem uma amizade muito bonita, muito bom o relacionamento
com os dois.”
13- Como é
o relacionamento dele com o seu marido?
“Muito bom
também, os dois são bastante amigos, apesar de que, ele quando tem que contar
um segredinho, ele conta para mim.” (risos)
14- E o seu
relacionamento com o seu filho em questão?
“A gente
sempre foi muito ligado, porque desde pequenininho, além dos cuidados normais
que uma mãe tem com o filho, ele precisou de cuidados especiais. Então agente
ficava junto era vinte e quatros horas por dia, agarradinho um no outro. A
gente tem uma cumplicidade muito grande.”
A FAMÍLIA
O aluno X é um
jovem de 18 anos que mora no bairro Novo Progresso com os pais, o irmão mais
velho e a avó. Ele está na sétima série em uma escola pública inclusiva.
A sua relação
com a família é boa, mas, segundo ele, “como toda família tem conflitos”. Sua
mãe é muito compreensiva, procura sempre entender os dois lados da situação.
Sobre o pai, ele
diz ser muito legal e um pouquinho menos paciente do que minha mãe. Sempre que
precisa dele, o pai está pronto para ajudá-lo.
A respeito do
irmão (dois anos de diferença), o aluno X salienta que é “bem bacana”. Antigamente eles brigavam muito, mas
atualmente a relação é bem tranqüila.
ESCOLA
Atualmente, o
aluno X estuda em uma escola pública inclusiva. Antes de entrar nesta escola,
ele estudava em uma escola especial, onde ficou por um longo período, pois
tinha um certo medo de sair dessa escola e enfrentar “o mundo aqui fora”.
Ele gosta de
estudar na escola pública inclusiva, argumenta que é uma escola boa. De acordo
com ele é “(...) uma escola boa, porque é estadual. E, porque é estadual fica
alguma coisa a deseja. Tem gente que quer estudar, gente que ta ali por
obrigação, mas no geral é uma escola boa”.
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