sábado, 20 de julho de 2013

ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO



Ana Paula Natividade
Fernanda Santana Gomes
Raquel Teles Yehezkel








ADOLESCÊNCIA

ESTUDO DE CASO




Trabalho requisitado pela disciplina
Psicologia da Educação, ministrada
pela professora Raquel Martins.








Belo Horizonte 27 de novembro de 2007
Faculdade de Educação – UFMG

1   INTRODUÇÃO


         Este estudo de caso pretende abordar a adolescência sob os aspectos sociológico, psicológico e educacional, pois a considera como uma fase do desenvolvimento bastante complexa e de essencial importância para a formação ética e social do ser humano.          
         A escolha pelo tema decorreu das discussões realizadas ao longo da disciplina Psicologia da Educação com o propósito de promover uma reflexão mais ampla a respeito da adolescência, de como ela interfere nos estados psico-emocional e cognitivo dos jovens, de como eles se colocam frente às peculiaridades e aos entraves advindos da fase da adolescência, de como exteriorizam e/ou internalizam seus sentimentos, anseios e desejos durante o processo de descoberta de si mesmo e do encontro como o outro, entre outros aspectos relacionados a essa fase.
         Como educadoras, deparamo-nos freqüentemente com jovens adolescentes que apresentam e manifestam os mais variáveis e difusos comportamentos no contexto educacional, trazendo questionamentos e desafios constantes ao longo dos processos educativo e de ensino-aprendizagem. Dessa forma, ressalta-se a necessidade e a importância da realização de estudos reflexivos que discutam e analisem a adolescência e suas influências nos processos de desenvolvimentos psico-emocional, cognitivo e social dos jovens.
         Pretendemos confirmar a verdade da acepção de que durante a fase da adolescência faz-se importante a existência de redes de apoio social e afetivo, composta de pessoas significativas; o estabelecimento de elos de relacionamento; as oportunidades de desempenhar novos papéis, que promovem novas fontes de satisfação pessoal, bem estar e saúde mental, realizando um estudo de caso com um jovem com necessidades especiais, aluno de ensino fundamental, que freqüenta uma escola inclusiva.
         A expectativa é de que este estudo de caso possa fornecer subsídios científicos para a nossa formação como futuros professores, pois a pesquisa abrange o caráter educativo, comportamental (biológico e cognitivo) e histórico do jovem adolescente. Os dados levantados, juntamente com a base teórica abordada poderão nos servir como referência e auxiliar em nossas futuras atividades profissionais.



2   OBJETIVOS


2.1   GERAL

                    Conhecer como a fase da adolescência pode interferir nos âmbitos psicológico, sociológico e cognitivo do jovem.

2.2   ESPECÍFICOS

                        Compreender a fase da adolescência;
                        Apontar a receptividade do jovem frente a essa fase;
                        Compreender as visões e posturas do jovem em relação à adolescência e suas conseqüências ao seu desenvolvimento global.


3    PROCEDIMENTOS  METODOLÓGICOS


         A metodologia da pesquisa pauta-se em uma análise qualitativa, que visa a preocupação com a compreensão, análise e interpretação do fenômeno que é apresentado ao longo da pesquisa.
         A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas e de um roteiro de observação. Tendo como sujeito da pesquisa um jovem com necessidades especiais (que apresenta uma pequena lesão cerebral (linguagem mais lenta) e disfunção locomotora, de 18 anos, do Ensino Fundamental de uma escola regular localizada em Belo Horizonte. Foram realizadas a observação do jovem em seu contexto escolar e as entrevistas semi-estruturadas com ele e com sua mãe.

         A metodologia da pesquisa pauta-se em uma análise qualitativa, que visa a preocupação com a compreensão, análise e interpretação do fenômeno que é apresentado ao longo da pesquisa.
         A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas e de um roteiro de observação. Tendo como sujeito da pesquisa um jovem com necessidades especiais, de 18 anos, do Ensino Fundamental de uma escola regular localizada em Belo Horizonte. Foram realizadas a observação do jovem em seu contexto escolar e as entrevistas semi-estruturadas com ele e com sua mãe.
         Nosso informante classifica-se como um caso de educação inclusiva, pois o mesmo teve uma lesão cerebral advinda de convulsão sofrida na hora do parto, o que causou um atraso na coordenação motora, dificuldade na fala, dificuldade motora e atraso no aprendizado.
         Antes de estudar em uma escola regular, nosso entrevistado estudou em uma escola especial, na qual todos os alunos tinham alguma deficiência física e/ou mental. O primeiro contato de nosso sujeito com a escola foi aos quatro anos em um jardim de infância, porém, o mesmo foi para um jardim regular onde ele encontrou muita dificuldade de socialização uma vez que as outras crianças o rejeitavam, segundo palavras da mãe.
         Após esse difícil início, os pais o matricularam em uma escola especial na qual cursou o ensino fundamental, e mais tarde recebeu alta para ir para uma escola regular para cursar o ensino médio. O aluno aqui citado está em seu terceiro ano na escola atual, já cursou a 5ª e a 6ª série sem repetir, e passou com notas regulares, com média de 70% de aproveitamento. Ele mora na Zona Noroeste da cidade, com sua família, constituída pelo pai, mãe, irmão mais velho e avó materna. Moram em uma casa própria na qual o informante divide o quarto com o irmão.
         A observação teve como objetivo a análise das condutas do jovem no ambiente da sala de aula diante dos colegas, dos professores e dos conteúdos pragmáticos e durante suas interações nos momentos de entretenimento social.
         A entrevista semi-estruturada dirigida ao jovem teve a pretensão de ser fonte de dados relevantes a respeito da dimensão biopsicossocial, salientando aspectos sócio-afetivo, educacional e cultural. A entrevista com a mãe do jovem teve como pretensão colher dados importantes sobre o perfil do jovem no contexto familiar e social.
         Dessa forma, foram realizadas a pesquisa de campo e a revisão de literatura, visando fundamentar a pesquisa e buscar as informações diretamente com o sujeito-chave do estudo.

         A observação teve como objetivo a análise das condutas do jovem no ambiente da sala de aula diante dos colegas, dos professores e dos conteúdos pragmáticos e durante suas interações nos momentos de entretenimento social.
         A entrevista semi-estruturada dirigida ao jovem teve a pretensão de ser fonte de dados relevantes a respeito da dimensão biopsicossocial, salientando aspectos sócio-afetivo, educacional e cultural. A entrevista com a mãe do jovem teve como pretensão colher dados importantes sobre o perfil do jovem no contexto familiar e social.
         Dessa forma, foram realizadas a pesquisa de campo e a revisão de literatura, visando fundamentar a pesquisa e buscar as informações diretamente com o sujeito-chave do estudo.


4   REFERENCIAIS   TEÓRICOS 


         Os referenciais teóricos em que se baseiam este estudo, reportam às leituras e discussões realizadas durante o curso sobre psicologia do desenvolvimento humano e da educação. Este estudopretende relacionar os dados colhidos junto ao adolescente com as concepções de Piaget (construção do conhecimento), Vygotsky (processo de aprendizagem), Santos (adolescência), Freud (adolescência e desenvolvimento sócio-afetivo) e Lima (inclusão).
         A adolescência é a fase da vida em que a pessoa se descobre como indivíduo separado dos pais. Isso gera um sentimento de curiosidade e euforia, porém também gera sentimentos de medo e inadequação. Um adolescente está descobrindo o que é ser adulto, mas não está plenamente pronto para exercer as atividades e assumir as responsabilidades de ser adulto. Assim sendo, procura exemplos, de pessoas próximas ou não – ídolos artísticos ou esportivos, entre outros – para construir seu caráter e seu comportamento.
         Também é visível a necessidade do adolescente de contrariar a vontade ou as idéias dos pais. Esse comportamento opositor aos pais acontece em decorrência da necessidade do adolescente de separar-se simbolicamente dos pais, ser diferente deles, para construir sua própria identidade como pessoa. Ao mesmo tempo, o adolescente pode não se ver capaz ainda de separar-se dos pais, gerando nele um sentimento de medo. De um lado a necessidade de separar-se dos pais para ser um indivíduo diferente e de outro lado a dificuldade de assumir a posição adulta (com suas responsabilidades e desejos) levam o adolescente a uma fase de intensa confusão de sentimentos, com uma constante mudança de opiniões e metas, e com um comportamento bastante impulsivo. Além do fato de ter que lidar com um novo corpo e novos papéis sociais.
         A adolescência e, especificamente, a entrada na adolescência por volta dos treze anos de idade, traz ao jovem, aos pais e professores momentos angustiantes de “choques” entre gerações. É uma fase em que o futuro adulto já deseja demonstrar sua pretensa capacidade de gerir as suas ações.
         Pais e professores, ao longo da adolescência dos jovens, os orientam e exercem influências sobre suas condutas e posturas a fim de que os ajustes comportamentais que ainda sejam necessários efetivem-se para serem assumidos na vida e em todos momentos de complexidade. Logo, vislumbram-se os confrontos entre gerações. Confrontos necessários e vitais para a interação, trocas de experiências e então, amadurecimento, ajustes e condições para a vida adulta.
         Os adolescentes, naturalmente, enfrentam problemas relacionados a sua auto-imagem e a sua aceitação em grupos. Podem também apresentar condutas opositoras às regras e normas da sociedade e constantes questionamentos. Tudo isso faz parte de um ciclo natural de crescimento e
amadurecimento do indivíduo, através dessa fase ele deixa a infância para assumir a vida adulta. Entretanto, cabe refletir que alguns adolescentes podem exacerbar tais comportamentos e atingir um comportamento anti-social que pode potencializar ocorrências e experiências que os coloquem em risco, além de trazer enormes dissabores para seus familiares.
         Percebe-se que, muitas vezes, a incapacidade de tolerar frustração que alguns adolescentes experimentam geram discussões e confrontos constantes. Outras tantas, a impulsividade é interpretada como desrespeito.
         Essa fase de desenvolvimento é caracterizada por uma oposição natural às regras, através da qual o adolescente anseia tornar-se autônomo e demonstrar independência. Ele deseja deixar o lugar da criança para tornar-se adulto. Para tanto, busca desafiar normas e estabelecer outras; pretende com esse comportamento dizer a todos que tem condições de se responsabilizar por sua vida.
         Naturalmente, o adolescente ainda não está totalmente pronto para assumir tamanha responsabilidade. Vive-se um ritual de passagem, uma preparação. Então, ocorre-se o choque entre as gerações. De um lado, os pais, professores e demais representantes da geração anterior a do adolescente estão sempre a lembrar-lhe de que normas e regras existem e que às vezes são imutáveis e que a vida na sociedade prescinde delas. Por outro lado, procura experimentar e testar as regras para verificar se são imutáveis e necessárias. O adolescente vivencia densamente essas nuances. A falta de concentração traz uma dificuldade em refletir sobre o que se é certo ou errado; sobre o que é necessário ou não. A impulsividade exacerba ainda mais o desafio às convenções sociais.
         De acordo com Santos (2004, p. 30): “A adolescência é uma etapa do desenvolvimento humano, parte do ciclo vital, que tende a uma universalização, mas ao mesmo tempo, mantém suas particularidades em cada pessoa e em cada contexto onde ela está inserida e sendo experienciada”.
         Conforme salienta Santos, entre as Ciências Sociais e a Psicologia, começa a existir um consenso de que:

a adolescência não pode ser definida somente em termos de mudanças biológicas, mas sim como um complexo processo de desenvolvimento psicossocial, caracterizado por importantes mudanças nos mais diversos níveis, desde a socialização até a inserção em âmbitos característicos da vida adulta, pautados sobre novas responsabilidades sociais, culturais e afetivas. (....) Por esse motivo, as fronteiras da adolescência nem sempre podem ser claramente definidas: ela pode começar antes das mudanças da puberdade e se estender para além da segunda década de vida, tendo cada vez mais uma tendência a se expandir, acompanhando mudanças sociais e de configuração familiar nas diversas populações.
                                                   [...]
Há, na adolescência, um movimento que parte da infância rumo a idade adulta, caracterizando-se como intenso período de transição, repleto de mudanças nos níveis biológico, cognitivo e social, que podem ser melhor compreendidas levando-se em conta o ambiente social e de interação dos adolescentes na família, no bairro, nas amizades e nos mais variados contextos de desenvolvimento. (SANTOS, 2004. p. 30-31).




         Retratando essa distinção entre adolescência e juventude, Waiselfisz (1998, p. 17) citado por Santos (2004, p. 32) coloca que, segundo a Organização Mundial de Saúde:


(...) a adolescência constituiria um processo fundamentalmente biológico durante o qual se acelerariam o desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade. Abrangeria a as idades de 10 a 19 anos, divididas nas etapas pré-adolescência (de 10 a 14 anos) e adolescência propriamente dita (de 15 a 19 anos). Já o conceito de juventude resumiria uma categoria essencialmente sociológica, que indicaria o processo de preparação para os indivíduos assumirem o papel de adultos na sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional, estendendo-se dos 15 aos 24 anos.


         Nos termos legais do Estatuto da Adolescência (1990) a adolescência brasileira é postulada entre os 12 e os 18 anos. Silva e Hutz (2002) criticam essa fundamentação etária e enfatizam que:

(...) a adolescência é um período de fronteiras nem sempre demarcadas com o rigor que se espera. Ela existe em uma tênue rede de experiências e processos que varia de pessoa para pessoa, cada qual constituindo o seu processo de formação nas interações com os contextos de desenvolvimento disponíveis (p.155).


         Santos (2004, p.44) assume a adolescência como: “(...) construção psicossocial subjetiva, pessoal, tendendo a uma concepção múltipla do termo, identificando as diferenciações e as características individuais e contextuais como formuladoras de uma síntese, cujo termo mais apropriado e aproximativo poderia indicar a existência de adolescências”.
         Durante a fase da adolescência faz-se importante a existência de redes de apoio social e afetivo, composta de pessoas significativas, o estabelecimento de elos de relacionamento, as oportunidades de desempenhar novos papéis, que promovem novas fontes de satisfação pessoal, bem estar e saúde mental. A respeito da exclusão social Santos (2004, p. 55) assevera que:

Enquanto fenômeno multidimensional, a exclusão social pode levar a diversas formas de trajetórias de desvinculação no mundo do trabalho e das relações sociais, como a fragilização dos vínculos com a família, comunidade, vizinhança e instituições, produzindo rupturas que conduzem ao isolamento social e à solidão.


         Freud, segundo Miranda (2001, p. 21-22) coloca que:

[...] o “mal-estar do ser humano na civilização” é originário de três fontes: o corpo, as relações com os outros e o mundo exterior. Na adolescência, esses três pontos convergem, e o jovem vivencia uma angústia em dose tripla: o corpo que vê no espelho lhe é estranho, desconhece a si mesmo na relação com os outros; e o mundo é atraente e ameaçador ao mesmo tempo. Aprendeu a amar com os pais, mas o que é da ordem do sensual, assegura Freud, deverá ganhar outro destino fora do enredo familiar. Aos pais resta a quota de ternura, tão difícil de expressar nesse momento confuso. Buscando fugir do real avassalador, o adolescente tenta encontrar a perfeição e a complementaridade na parceria amorosa.


         Em relação aos processos de desenvolvimento e de aquisição de conhecimentos, Piaget citado por Soares (2005), argumenta que não há “erros”, mas tentativas de compreender o mundo por meio de perguntas e respostas baseadas na experimentação, estabelecendo hipóteses e princípios, e reelaborando-os progressivamente.
         De acordo com Bee (1984), Piaget, em seus estudos, argumentou que no decorrer do funcionamento intelectual do ser humano há processos fundamentais que ocorrem o tempo todo, sendo estes a adaptação e a organização. Segundo Piaget, é da natureza humana organizar suas experiências e adaptá-las ao que foi experimentado. A adaptação consiste em um processo de ajustamento ao meio ambiente. Já a organização da experiência inclui processos como a combinação das informações provenientes dos diferentes sentidos.
         Para sistematizar esses processos, Piaget expôs e explorou densamente três principais conceitos: assimilação, acomodação e esquema.
         A assimilação é o processo de incorporação das novas experiências ou informações; a acomodação consiste no processo de modificação de suas idéias ou estratégias em função da nova experiência; e, os esquemas são padrões organizados de comportamento.
         Os esquemas podem consistir em ações visíveis, como agarrar uma bola ou olhar para um rosto; ou podem se constituir de padrões ou de estratégias internas, como: classificar em conjuntos objetos, compará-los, somá-los, ou subtraí-los. Piaget utilizou o termo operação para descrever estes esquemas internos mais complexos.
         Um aspecto importante do conceito de esquema é que os processos de assimilação e acomodação são os mecanismos pelos quais ele se modifica. A criança assimila as experiências às estruturas existentes.
         Piaget postulou estágios para o desenvolvimento cognitivo, no qual a criança passa em seu progresso gradual do raciocínio infantil ao raciocínio adulto.
         A teoria construtivista de Piaget auxilia na compreensão de que o processo de aprendizagem efetiva do aluno ocorre na interação entre o conhecimento, o professor e os colegas de sala. Dentro dessa configuração, o processo do desenvolvimento cognitivo caracteriza-se por ser contínuo na direção de patamares de conhecimento cada vez mais elevados, através de equilíbrios-desequilíbrios-reequilíbrios das estruturas assimilativas. 
         Salientando a respeito do processo de aprendizagem, Vygotsky citado por Gomes (2005), destaca que a aprendizagem é um processo mediado, individual e coletivo, o qual faz despertar processos internos de desenvolvimento que envolvem memória, consciência e emoção, aos quais se somam o próprio desenvolvimento, a linguagem e o papel da cultura; com ênfase para o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal: distância entre o que o aprendiz é capaz de resolver com autonomia e o nível potencial que ele pode atingir com a mediação de um adulto ou companheiros mais capazes.
         Kohl (1997), argumenta que para Vygotsky, desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento, e é “ um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas.” (Vygotsky, p.101). Através dessa visão, ele frisa que é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos do indivíduo, que liga o desenvolvimento da pessoa a sua relação com o ambiente sócio-cultural em que vive e a sua situação de organismo, que não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie.
         Ao versar sobre O conceito de zona de desenvolvimento proximal, a autora apresenta dois níveis de desenvolvimento denominados por Vygotsky como real e potencial, os quais são imprescindíveis para a constituição e compreensão do seu conceito de zona de desenvolvimento proximal.
         Vygotsky denomina a capacidade de realizar tarefas de forma independente, de nível de desenvolvimento real. O nível de desenvolvimento real da criança caracteriza o desenvolvimento de forma retrospectiva, referindo-se a etapas já alcançadas e/ou conquistadas pela criança. As funções psicológicas que fazem parte do nível de desenvolvimento real da criança em determinado momento de sua vida são aquelas já bem estabelecidas naquele momento. Já a capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou de companheiros mais capazes, é denominada por ele de nível de desenvolvimento potencial. Muitas vezes, uma criança não é capaz de realizar tarefas sozinha, mas se alguém lhe der instruções, fizer uma demonstração, fornecer pistas, ou der assistência durante o processo, ela se torna capaz de realizá-las. Essa possibilidade de modificar o desempenho de uma pessoa pela interferência de outra é fundamental em sua teoria.
         A pedagoga Kohl (1997) lembra da importância extrema que Vygotsky atribui à interação social no processo de construção das funções psicológicas humanas. Contudo, ela relata que é a partir da postulação da existência desses dois níveis de desenvolvimento – real e potencial – que Vygotsky define a zona de desenvolvimento proximal como “a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.” (Vygotsky, p.97)
         A escola tem um papel primordial na construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas. Mas para Vygotsky, de acordo com Kohl (1997), o desempenho desse papel só se manifestará com êxito quando, conhecendo o nível de desenvolvimento dos alunos, a escola dirigir o ensino não para as etapas intelectuais já alcançadas, mas para os estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos, possibilitando a ocorrência de novas conquistas psicológicas.
         O processo de ensino aprendizado na escola deve ser construído, então, tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança e, posteriormente ligando ao nível de desenvolvimento potencial. A escola tem o papel de fazer a criança avançar em sua compreensão e análise do mundo, a partir de seu desenvolvimento já consolidado, e tendo como meta etapas posteriores, ainda não alcançadas.
         A autora ressalta que para Vygotsky, “o único bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento”. Para ele, o professor tem que interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente.
         Ao versar sobre a inclusão, Lima (2006) coloca que:

Nós, seres humanos, estamos incluídos na sociedade por uma relação de pertencimento, baseada no princípio da igualdade: há algo que nos aproxima, que nos identifica como pessoas. Estamos incluídos nesta sociedade humana pelo princípio da identidade, mas podemos ser excluídos pelo princípio da diversidade. Aí reside a nossa contradição. Temos de discutir a inclusão, porque há uma sociedade excludente, que dicotomiza  identidade e diversidade (LIMA, 2006. p. 19).


         Além disso, a autora, problematizando a igualdade, a diversidade e a proposta de uma educação inclusiva, acrescenta que:

A proposta de inclusão de todos como participantes da produção social, cultural e econômica enfatiza a igualdade concreta entre sujeitos, com reconhecimento das diferenças no aspecto físico, psicológico e cultural. A diversidade não se opõe à igualdade. A desigualdade socialmente construída é que se opõe à igualdade, pois supõe que uns valem menos do que os outros. O enfrentamento e a superação dessa contradição são tarefas cotidianas em uma proposta de Educação Inclusiva (LIMA, 2006. p. 20).


5    ANÁLISE   DOS   DADOS



         Através da análise das entrevistas, pode-se perceber que o adolescente demonstra ser um jovem bastante autônomo e crítico, ciente do contexto sócio-político e cultural em que vive. Ao argumentar a respeito da influência da mídia sob a sociedade e do preconceito frente à diversidade, o jovem mantém um posicionamento reflexivo diante da realidade, demonstrando que consegue perceber o plano real de forma ampla, estabelecer boas associações e fazer julgamentos pontuais e pertinentes, articulando dados de caráter macro e micro do sistema social, desvelando as mazelas e os estigmas que perpassam o discurso sócio-político e ético da sociedade.
         Nas questões 29 e 30 da entrevista com o jovem pode-se perceber esse olhar crítico e analítico sobre a realidade:

29- Quais as coisas em sua vida que o fazem se sentir triste ou preocupado?
De certa forma, a mídia. Pela influência que ela exerce sobre as pessoas e inibe um pouco suas próprias opiniões. Isso eu não acho muito legal, porque eu acho que as pessoas tem que ter um senso crítico.


30- Quando você fica chateado, o que você faz?
Ah, ás vezes eu escrevo algumas coisas, acho que de certa forma ajuda, não que seja a solução, mas de certa forma dá uma ajuda. Aí eu escrevo poesia.


         Diante do discurso do aluno X, foi possível constatar que a família exerce um papel relevante e indispensável para a configuração e constituição de sua personalidade. A estrutura familiar estável (mãe-pai-irmão-familiares próximos) juntamente ao bom ambiente encontrado no convívio familiar (afeto, confiança e respeito) refletem na postura que ele demonstra frente ao valor que atribui à família, à responsabilidade que tem com os estudos, à importância que dota aos laços de amizade, aos princípios éticos (sinceridade, respeito, confiança).
         As suas confidências, por exemplo, são feitas à mãe e aos amigos mais próximos. Faz-se interessante perceber que o adolescente, em situações mais complexas de tomada de decisões, recorre a sua rede de apoio (amigos-pais-familiares).

Procuro ter calma, dependendo do assunto peço opinião dos amigos, dos meus pais e do meu irmão, e tento fazer a melhor coisa, não que seja a certa, mas tento né, ver qual seria o melhor caminho (em anexo). 



         Em relação ao seu desenvolvimento social e emocional, percebe-se que ele é bastante equilibrado e consegue manter a autenticidade de seus pensamentos. Ele reforça que a família e os amigos são muito importantes em sua vida, e que o afeto é essencial para uma boa convivência. Ele não sai muito, assim, para ele a Internet é um bom meio para se encontrar pessoas de interesses semelhantes,  mas salienta que também, fora da Internet, na escola, no curso de Inglês, na Academia, têm pessoas legais para se relacionar. Ele acrescenta que, um dos valores importantes para ele nos relacionamentos interpessoais, trata da sinceridade. “Saber dar opiniões sinceras, mesmo que não seja aquilo que você queira ouvir” (anexo).
         Analisando as colocações subseqüentes, a respeito do que é liberdade e com quais pessoas ele consegue aprender mais, nota-se que suas idéias são bastante autênticas e revelam o estabelecimento de redes de apoio interpessoal, onde as pessoas são valorizadas e importantes para sua projeção no contexto social.

“Ter escolhas próprias, saber o que quer, agir por conta própria, isso é ter liberdade. Ir em lugares que eu quero com pessoas que eu gosto”.  (liberdade)
“Com os próprios amigos, educadores, professores que querem realmente ensinar. Com essas pessoas eu sempre aprendo mais” (melhor aprendizado) (ver anexo).


         Outro aspecto a ser salientado é que em nenhum momento o jovem colocou em foco sua deficiência física e/ou dificuldades em relação à linguagem (uma comunicação mais lenta) como um entrave para sua inserção na sociedade. O silenciamento e/ou esquecimento sobre esse aspecto ao longo da entrevista pode ser considerado como uma superação ou como uma postura de defesa frente ao julgamento da sociedade. Pode-se inferir isso, devido ao receio que ele próprio havia manifestado quando mudara da escola especial para uma escola regular inclusiva. O trecho subseqüente ilustra essa questão:

“Antes de entrar na escola Y eu estudava no curso W, escola especial que lida com deficientes físicos e mentais. Fiquei um vasto período, muito grande, até porque eu tinha um certo medo de sair de lá e enfrentar de certa forma o mundo aqui fora” (em anexo).


         Ao versar sobre a prática docente, o jovem reforça os aspectos citados e coloca como fundamental a prática de um trabalho coletivo, dinâmico, interativo. Segundo ele é fundamental: “A dinâmica nas aulas. O professor querer entender o lado do aluno, ver qual é a opinião dele. Fazer uma dinâmica que todos participam, não apenas um grupo, mas a sala inteira” (anexo). Assim, além de nos mostrar que, conforme Piaget, a questão de erros e acertos não é relevante, mas sim o processo de experiência que se vive, o jovem demonstra que para ele é importante a inclusão, a valorização das pessoas, o ato de ouvir, a compreensão, o acolhimento.
         Em relação ao processo de aprendizagem, o adolescente fala que não se dá muito bem com a disciplina de matemática, devido ao fato de ter muito cálculo. Frente a esse aspecto, é importante considerar as necessidades especiais do aluno juntamente a fase pela qual passa, que remete justamente à formação do pensamento formal, ao desenvolvimento aguçado das operações abstratas (Piaget). Dessa forma, é possível compreender porque suas maiores dificuldades decorrem diante de situações em que necessita explorar o caráter abstrato.
         Segundo Piaget citado por Bee (1984), um fato importante na mudança das operações concretas para as operações formais refere-se à passagem de uma lógica indutiva para uma lógica dedutiva. Os adolescentes podem ser capazes de abordar os problemas científicos usando um método dedutivo, partindo de uma teoria para um experimento que teste alguma parte da teoria. Eles são competentes para pensar em coisas completamente abstratas, sem necessitar da relação direta com o concreto. Os adolescentes freqüentemente levantam hipóteses sobre o mundo, dessa forma, constroem e ampliam seus conhecimentos.
         As disciplinas que ele mais gosta são inglês, português, ciências e artes. A professora favorita é a Ana Paula (inglês), com a qual mantém uma relação bastante aberta e amigável. E destaca que gosta muito do professor de artes Geraldo, pois segundo ele, é bastante atencioso e procura sempre conversar e preocupar-se com seu desenvolvimento educacional e emocional. O envolvimento e a receptividade que o adolescente tem com os professores de inglês e de artes são fatores que interferem na forma como se dá seu aprendizado, sendo mais efetivo, mais satisfatório e prazeroso.
         Atualmente, o jovem estuda em uma escola pública inclusiva. Antes de entrar nesta escola, ele estudava em uma escola especial, onde ficou por um longo período, pois tinha um certo medo de sair dessa escola e enfrentar “o mundo aqui fora”.
         Em relação ao preconceito que sofre pelo fato de ser uma pessoa com necessidades especiais, o aluno X destaca:

“O preconceito é muito errado. Hoje em dia não muito, antigamente era mais. Hoje em dia é uma coisa disfarçada, mas você nota que algumas pessoas ainda têm um preconceito pra determinados assuntos” (anexo).


         O adolescente importa-se que valorizarem seu estilo de vida e, principalmente, como ele é. Assim, nota-se que para ele faz-se muito importante sentir incluso, querido no grupo de relacionamentos como explicita a teoria de Lima (2006).



CONSIDERAÇÕES  FINAIS


         A importância da atenção e preocupação que os educadores demandam aos alunos e a forma como eles conduzem o processo de ensino-aprendizagem foram fatores que o jovem fez questão de enfatizar no transcorrer da entrevista, confirmando a concepção de Vygotsky que vê na mediação dos adultos um papel preponderante para o desenvolvimento do jovem. A conduta da família e dos profissionais se mostraram bastante importantes para ele, o estabelecimento de vínculos com os professores e colegas repercute na forma como se envolve com o ensino e com a significância que a educação tem em sua vida.
         No caso do adolescente estudado, as acepções de Santos parecem se comprovar ao constatarmos a importância da rede de proteção familiar e escolar à volta do sujeito da pesquisa, confirmando a assertiva de que durante a fase da adolescência faz-se importante a existência de redes de apoio social e afetivo, composta de pessoas significativas, o estabelecimento de elos de relacionamento, as oportunidades de desempenhar novos papéis, que promovem novas fontes de satisfação pessoal, bem estar e saúde mental.




REFERÊNCIAS


BEE, Helen. A Criança em Desenvolvimento. Tradução: Rosane Amador Pereira. 3. ed. São Paulo: HARBRA, 1984. 421p.

GOMES, Maria de Fátima; MONTEIRO, Sara Mourão. A aprendizagem e o ensino da linguagem escrita. Belo Horizonte: Ceale, FAE, UFMG, 2005.

LIMA, P.A. “Contexto e Pressupostos”; “Definindo Educação Inclusiva e Educação Especial”. In.: LIMA, P. A. Educação Inclusiva e Igualdade Social. São Paulo: avercamp, 2006.

MIRANDA, M.P. “O namoro na escola – Violência na escola”. In.: MIRANDA, M.P. Adolescência na escola – soltar a corda e segurar a ponta. Belo Horizonte: Formato, 2001.

OLIVEIRA, Martha Kohl de. Desenvolvimento e aprendizado. In: Vygotsky – Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio – histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1997. cap.4. p. 55-80.

PIAGET, J. “Gênese e estrutura na psicologia da inteligência – O desenvolvimento mental da criança”. In.: PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

REGO, T.C. “Ensino e constituição do sujeito”. In.: Viver: mente e cérebroLev Semenovich Vigotsky: uma educação dialética. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Segmento-dueto, 2005.

SANTOS, J.E.F. “A adolescência brasileira: entre o risco e o desconhecimento”. In.: SANTOS, J.E.F. Travessias – adolescência em Novos Alagados: trajetórias pessoais e estruturas de oportunidade em um contexto de risco psicossocial. Bauru: Edusc, 2005.

SOARES,Magda  Becker; BATISTA, Antônio Augusto Gomes. “Como aprendemos a linguagem. In.: Alfabetizanção e Letramento. Belo Horizonte: Ceale, FAE, UFMG, 2005.

VIGOTSKY, L.S. “Interação entre aprendizado e desenvolvimento”. In.: VIGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2003.




ANEXO



ENTREVISTA COM O ALUNO SOBRE CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO:

A CASA/ FAMÍLIA:
1 – Quantos anos você tem?
“Dezoito anos.”
2 – Com que você mora?
“Com meus pais, meu irmão e minha avó.”
3 – Como que você descreve a sua relação com a sua família?
“Bom, a relação é boa, como toda família tem um pouco de conflito, mas no geral é muito bom. Dinâmica.”
4– Fale um pouco da sua relação com sua mãe.
“Bom, minha mãe é bem compreensiva, procura entender os dois lados da situação e procura sempre a melhor situação prum determinado assunto.”
5 – Fale um pouco da sua relação com seu pai.
“Bom, meu pai, ele é muito legal e um pouquinho menos paciente do que minha mãe, mas muito legal. Sempre que eu preciso dele ele ta pronto pra me ajudar e tudo.”
6- Fale um pouco da sua relação com seu irmão.
“O meu irmão é bem bacana (risos). Antigamente, a gente brigava muito, mas hoje em dia é tranqüilo.”
7- Brigava por que?
“Ah, briguinha de irmão, por causa de jogos, de brinquedo.”
8- Qual é a diferença de idade de vocês?
“Dois anos e meio”.

ESCOLA
9 – Como você descreveria sua escola para um estudante que quisesse vir estudar nela?
“Hum, bom, uma escola boa, por ser estadual (ééé ), ficam algumas coisas a desejar, mas no geral é uma escola muito boa por ser estadual né?! Tem gente que quer estudar, tem gente que está ali mais por obrigação, mas no geral é uma escola boa.”
10- Quantos alunos tem na sua sala?
“Tem uns trinta e cinco alunos.”
11- Qual a idade dos seus colegas de sala?
“Varia de treze a quinze anos. Eu, por ter saído de uma escola especial, tô com dezoito e na sétima [série] ainda.”
12- De que você gosta mais na escola que  freqüenta?
“Ah, dos meus amigos que tenho mais contato, de algumas matérias em especiais inglês, português, ciências e artes.”
13- Do que você gosta menos na escola que freqüenta?
“Eu não gosto muito de geografia. (risos)”
14- E os professores, o que você pode dizer sobre eles? Você tem algum professor favorito?
“Eu tenho a professora de inglês. [Professora da escola de idiomas] Na escola, gosto muito do professor de artes, é muito bom conversar com ele. O que eu mais converso é com o professor de artes mesmo.”
15- Por que? O que você acha que faz um bom professor?
“A dinâmica das aulas, querer entender o lado do aluno, ver qual que é a opinião deles. Fazer uma dinâmica, que aí todos participam, não apenas um grupo, mas sim a sala inteira.”
16- Tem algum professor que você não gosta?
“Não, me dou bem com todos.”

OS COLEGAS
17- Quem você considera que é o seu melhor colega de sala?
“Bom, tem o T, porque quando eu entrei nesta escola, eu cheguei lá e não conhecia ninguém porque eu vim de outra escola, então o T. foi o primeiro cara que eu comecei a conversar. E converso com ele até hoje e ele é bem bacana.
18- Como era a outra escola que você estudava?
“É uma escola especial, que lida com deficientes físicos, mentais, onde eu passei um período muito grande, até mesmo por ter um pouco de medo de sair de lá e enfrentar, de certa forma, o mundo aqui fora.”

COMUNIDADE
19- Você participa de alguma atividade em sua comunidade?
“Não.”
20- Você faz alguma atividade extra escolar?
“Seria academia e o inglês.”
21- Você pratica esporte?
“Eu já fiz hipismo durante quatro anos, porém, hoje em dia eu não pratico mais.”

OUTRAS INFORMAÇÕES
22- Você acha que você age ou se sente de maneira diferente em lugares diferentes? Por exemplo, você acha que você age ou se sente de maneira diferente em casa ou na escola?
“Bom, em casa, sempre a gente é mais natural né? Quando nós estamos fora, dependendo do local e das pessoas, eu fico um pouco tímido.”
23- Qual o lugar que você fica tímido?
“(risos) Ah... Mais é... Eu não sei assim...Xô vê...
24- Você gosta de passear?
“Gosto. Eu saio com meus amigos.”
25- Onde você vai com seus amigos?
“Geralmente, nós vamos na praça da liberdade, ver algum show.”

DESENVOLVIMENTO SOCIAL E EMOCIONAL
26- O que faz de uma pessoa um bom amigo?
“Sinceridade, saber dar opiniões sinceras mesmo que não seja aquilo que você quer ouvir. É mais a sinceridade que prevalece.”
27- Quais são as ocasiões e/ou lugares em que você tem mais oportunidade de encontrar amigos?
“Bom, eu não saio muito. Então a internet eu acho que é um bom local porque você encontra pessoas com mesmos interesses que os seus. Mas fora da internet, na escola, no inglês, na academia, onde também tem pessoas muito legais.”
28- Quais são as pessoa que o fazem realmente feliz em sua vida nesse momento?
“Bom, eu acho que são os meus familiares mais próximos e meus amigos.”
29- Quais as coisas em sua vida que o fazem se sentir triste ou preocupado?
“De certa forma, a mídia. Pela influência que ela exerce sobre as pessoas e inibe um pouco suas próprias opiniões. Isso eu não acho muito legal, porque eu acho que as pessoas tem que ter um senso crítico.”
30- Quando você fica chateado, o que você faz?
“Ah, ás vezes eu escrevo algumas coisas, acho que de certa forma ajuda, não que seja a solução, mas de certa forma dá uma ajuda. Aí eu escrevo poesia”
 
DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE
31- Se você tivesse que descrever para uma pessoa que você não conhece como você é, por exemplo, em uma carta, quais são as cinco coisas mais importantes que você gostaria que essa pessoa soubesse sobre você?
“Bom eu acho que as coisas que eu gosto, lugares que eu freqüento, sobre o meu estilo de vida, como eu sou.”
32- Você já pensou no que gostaria de fazer depois de terminar o ensino médio?
“Ainda não, não tenho nada em mente, de qual faculdade nem nada.
33- Mas você gostaria de ir para faculdade?
“Gostaria muito, só não sei o curso ainda.”
34- Quando você pode realmente decidir o que você mais gosta de fazer?
“Bom, acho que é uma coisa de opinião própria, a pessoa tem que saber realmente o que ela quer, e o que deseja para a sua vida, e não ser muito influenciada pelo meio.”
35- Alguns jovens se preocupam com coisas como a aparência física e as roupas que usam. Essas coisas te preocupam?
“Bom, de certa forma sim, porque a sociedade te impõe isso, você tem que ter a roupa que ta na moda, ééé... Porém, eu não me sinto muito preocupado, vai depender dos lugares. Isso influencia sim.”
36- Você se considera um adolescente ou um adulto?
“(risos) Depende da situação. Em certos lugares, tipo show, você tem que ser mais adulto. Se for uma coisa de família, mais casual, você tem um estilo mais descontraído, mais jovem mesmo.”

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
37- Como você acha que você aprende melhor?
“Acho que com os próprios amigos, educadores, professores que realmente querem ensinar. Com essas pessoas eu sempre aprendo mais.”
38- Como você estuda para provas?
“Eu não estudo para provas (risos). Eu não consigo estudar em casa”.
39- Qual a sua matéria preferida na escola?
“Inglês e português.”
40- Por que você gosta mais dessas matérias?
“Eu não sei exatamente o porque, mas o inglês, por ser uma outra língua, é bem interessante você ter o conhecimento de outra língua, assim...”
41- Você acha que o professor faz você gostar da matéria?
“Com certeza, se a pessoa sabe dar aula, com certeza o aluno, eu, fico mais interessado e mais envolvido com a matéria.”
42- Há alguma matéria de que você não gosta de jeito nenhum?
“Não. Eu não me dou muito bem com matemática, mas eu gosto, não é a minha preferida, mas...”
43- Porque você acha que matemática e a matéria que você menos gosta?
“Não sei. Muito cálculo...”
44- Como é o professor de matemática?
“Ele é legal. Antigamente a turma não gostava muito dele, mas hoje em dia ele é super bacana com a gente, explica tudo direitinho, quando pode, né? Porque a sala conversa muito e acaba que, quem quer aprender fica prejudicado.”
45- Qual o tipo de coisa que você aprende com mais dificuldade? O que você faz quando uma coisa é realmente difícil de aprender?
“Eu estudo com mais intensidade.”

DESENVOLVIMENTO MORAL
46- Quais são os valores mais importantes em que você acredita?
“Acho que no sentimento um ser humano pode ter por outro. Sentimento de afeto, carinho ou o próprio amor.”
47- É fácil para você seguir esses valores? Quais são os valores que a sua família tem? O que você acredita que é importante?
“Acho que é o afeto de uma família, a união é base para a vida.”
48- Tem alguma coisa que você acha muito errada, que você não aceita que as pessoas façam com você?
“Acho que o preconceito.”
49- Você sofre algum tipo de preconceito?
“Hoje em dia não muito, antigamente era mais. Hoje em dia é uma coisa bem disfarçada, mas você nota que algumas pessoas ainda tem o preconceito, pra determinados assunto...”
50- Quando você está em uma situação complicada – na qual não está claro como exatamente você deveria agir – o que você utiliza como seu guia de ação? (por exemplo, você pede opinião de alguém, ou você de age de acordo com algum valor da escola?)
“Eu procuro ter calma, dependendo do assunto, peço opinião dos amigos, do meu pai, mãe ou irmão e tento fazer a melhor coisa. Não que seja a certa, mas tentar, né? Ver qual seria o melhor caminho.”
51- Qual é a pessoa mais próxima de você?
“Bom, tem meu amigo L., e tem o J.”
52- Qual é idade deles?
“Ambos têm dezessete anos”
53- Para você, o quê é a liberdade nesse momento da sua vida?
“Bom, ter escolhas próprias, saber o que quer, agir por contas própria. Isso é liberdade”.


ENTREVISTA COM A MÃE

1- Quantos anos você tem?
“Quarenta e dois”
2- Fale um pouco sobre o problema do seu filho.
“Ele teve uma lesão cerebral, quando nasceu por falta de oxigênio. Na hora do parto ele aspirou o líquido, então teve uma convulsão quando nasceu e isso causou uma pequena lesão cerebral.”
3- Qual foi a conseqüência dessa pequena lesão?
“Houve um atraso na coordenação motora e com isso atrasa em geral, tanto os movimentos, como também na parte de aprender as coisas, foi tudo mais lento.”
4- Com que idade ele foi para escola?
“Especial, sete anos. Mas quando ele tinha quatro anos ele foi para uma escola regular mesmo, num jardim, né!? Ele fez primeiro período, segundo período, só que ele não consegui acompanhar as crianças. E aí a gente viu a necessidade dele ir para uma escola especial. Ele tinha sete anos quando foi para escola especial e ficou lá, ah eu já esqueci.... Mais ou menos ele ficou uns seis anos na escola especial, aí ele foi para a regular novamente na quinta série. Então ele fez de primeira a quarta na escola especial.”
5- E como era a relação dele com os colegas nas duas escolas?
“Muito boa a relação na escola especial. Foi excelente, porque nós passamos por muitas dificuldades no jardim de infância, vou dizer assim, né? Porque as crianças para aceitarem uma criança diferente, quando as crianças são pequenininhas, é difícil, né? Porque elas não tem maturidade para entender nada daquele problema. Então meu filho se sentia rejeitado porque as crianças colocavam apelidos, não tinham uma boa aceitação. Por parte da escola sim, mas a convivência com os coleguinhas era difícil. Depois que ele passou para escola especial foi como se fosse assim um... Uma tranqüilidade, foi uma tranqüilidade muito grande pra ele e pra nós porque ele estava no meio de pessoas que entendiam o problema dele, então foi muito bom. Agora eu fiquei muito apreensiva a partir do momento em que liberaram meu filho da escola especial para ir para a escola regular.”
6- Como foi essa passagem? Como foi essa decisão?
“Foi muito difícil. A diretora da escola especial, ela queria que ele, até antes queria liberar ele, e eu que não queria eu falei com ela assim: não ele não tá maduro o suficiente para isso, não vai dar certo. Aí ela aceitou e deixou ele mais um ano na escola especial. Aí ela falou de novo: ta na hora. Aí eu concordei com ela, eu tinha medo do que ia acontecer pelo fato das coisas que já tinha acontecido antes porque a primeira experiência não tinha sido boa. Mas foi tão tranqüilo (a passagem). Não teve nenhuma rejeição por parte dos colegas, inclusive todos de lá gostam demais dele. Esse período que ele ficou na escola especial foi muito bom porque ele amadureceu né? E ficou pronto pra poder encarar uma escola regular, junto com alunos diferentes dele. E, tanto a escola, não sei se porque os alunos são maiores, não sei se é por esse motivo, quando ele foi para o jardim os meninos eram todos pequenininhos, então os alunos gostam demais dele.”
7- Como é o cotidiano dele?
“Ele é super tranqüilo, ele gosta muito de computador, ele gosta muito de focar dentro de casa, ele não gosta muito de sair, ele se comunica muito bem com as pessoas, mas ele tem receio do que vai encontrar fora de casa. Ele se sente diferente. Ele sai, mas com colegas.”
8- O que ele gosta de fazer?
“Ele adorava fazer eco terapia, ele adorava os cavalos.”
9- Por que ele parou?
“Porque não tem mais a parte esportiva. Era o que atraia ele mais. Ele ficou desmotivado quando cortaram as competições. Mas ele ficou muito tempo lá, ficou mais ou menos uns sete anos.”
10- O que ele não gosta de fazer?
“Ai... Não sei.”
11- É difícil para ele fazer amizades?
“Pelo computador não, ele tem muita amizade pelo computador. Agora pessoalmente, é difícil, ele é mais fechado, mas quando ele é amigo da pessoa ele é amigo mesmo. Mas ele tem poucos amigos.”
12- Como é o relacionamento dele com irmão mais velho?
“Excelente. Ele se espelha no irmão. Eu até falo com o F.: você tem uma responsabilidade muito grande porque o [nome aluno] imita você. Então os dois tem uma amizade muito bonita, muito bom o relacionamento com os dois.”
13- Como é o relacionamento dele com o seu marido?
“Muito bom também, os dois são bastante amigos, apesar de que, ele quando tem que contar um segredinho, ele conta para mim.” (risos)
14- E o seu relacionamento com o seu filho em questão?
“A gente sempre foi muito ligado, porque desde pequenininho, além dos cuidados normais que uma mãe tem com o filho, ele precisou de cuidados especiais. Então agente ficava junto era vinte e quatros horas por dia, agarradinho um no outro. A gente tem uma cumplicidade muito grande.”



 A FAMÍLIA

O aluno X é um jovem de 18 anos que mora no bairro Novo Progresso com os pais, o irmão mais velho e a avó. Ele está na sétima série em uma escola pública inclusiva.
A sua relação com a família é boa, mas, segundo ele, “como toda família tem conflitos”. Sua mãe é muito compreensiva, procura sempre entender os dois lados da situação.

Sobre o pai, ele diz ser muito legal e um pouquinho menos paciente do que minha mãe. Sempre que precisa dele, o pai está pronto para ajudá-lo.

A respeito do irmão (dois anos de diferença), o aluno X salienta que é “bem bacana”.  Antigamente eles brigavam muito, mas atualmente a relação é bem tranqüila.

ESCOLA

Atualmente, o aluno X estuda em uma escola pública inclusiva. Antes de entrar nesta escola, ele estudava em uma escola especial, onde ficou por um longo período, pois tinha um certo medo de sair dessa escola e enfrentar “o mundo aqui fora”.

Ele gosta de estudar na escola pública inclusiva, argumenta que é uma escola boa. De acordo com ele é “(...) uma escola boa, porque é estadual. E, porque é estadual fica alguma coisa a deseja. Tem gente que quer estudar, gente que ta ali por obrigação, mas no geral é uma escola boa”.



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