Raquel Teles Yehezkel
FICHAMENTO
FONTE:
GOLDSTEIN, Norma. Versos,
sons, ritmos.
São Paulo: Ática, 2004.
(Princípios, vol. 6)
Requesito
do curso de Teoria da Literatura II,
ministrado
pela doutora em Letras Marli Fantini.
Faculdade
de Letras da
Universidade
Federal de Minas Gerais.
Belo Horizonte 15 de maio de 2005
Norma
Goldstein, autora do livro Versos, Sons e Ritmos, é doutora em Letras e
professora do Ensino Superior em São Paulo.
VERSOS, SONS E RITMOS / FICHAMENTO
1. A UNIDADE
DO POEMA
A obra não
pretende dar a “palavra final” sobre a interpretação de poemas, mas uma
contribuição no campo das “técnicas” de análises. Ressalta: a fragmentação de
um texto literário é um “processo artificial e provisório”, devendo o leitor,
ao final, buscar enxergar o poema como uma unidade e não crer que a
análise de uma única pessoa possa esgotar as interpretações do mesmo, já que
o “tecido de palavras” possui múltiplas interpretações.
- Especifidades do texto literário: seleção e combinação de palavras não apenas pela significação, mas também por critérios como a sonorização ® gerando certo grau de tensão ou ambigüidade, produzindo mais de um sentido ® plurissignificação.
- Objetivo da obra - contribuir para a análise do aspecto formal e rítmico do poema, sem servir como “receituário”, dado o caráter particular e específico de cada criação. ® Que leitor passe a ler com os olhos e os ouvidos, percebendo o poema como organização visual e sonora: enquanto o leitor comum percebe o ritmo poético isolado do significado, o leitor treinado pode captar o ritmo e o significado como uma unidade indissolúvel.
2. O RITMO DO
POEMA
Toda
atividade humana desenvolve-se dentro de um ritmo:
coração, respiração, movimentos, atividades industriais, esportistas, etc.
Poema - composto de versos; para ser recitado;
musicalidade, sonoridade. Em leituras rítmicas e análise cuidadosa, o ouvido
capta as articulações das palavras, o que possibilita descobrir novos
significados.
Compasso - análise do poema “A Banda”, de Chico
Buarque de Holanda, no qual a musicalidade apóia-se no ritmo simples, curto,
repetitivo que facilita a memorização e contagia. Efeitos sonoros -Além da cadência - alternância entre sílabas fortes e
fracas, há a repetição de letras (t,m), alternância entre vogais
longas e breves (A,Ô). As repetições lembram o som das percussões da
banda, marcam o compasso da marcha: ritmo musical que percorre todo
o poema, quebrando a rotina das pessoas que se transformam, alegram-se ao ouvir
a banda, mas ao mesmo tempo mostra a efemeridade do momento.
Palavra-chave e jogo de sons - análise do poema “José”, de Carlos
Drumond, em que a conjunção “se” repetida no início dos versos, valoriza,
por uma espécie de eco, a mesma sílaba que se repete no interior em “você”
e nos finais dos versos, em “gritasse, gemesse, cantasse”, ampliando o
sentido do texto. Alternância entre as sílabas fortes e fracas: Se
vo-CÊ gri- TAS (se) / Se vo-CÊ ge-MÊS (se), sugerem hipóteses não só
pelo sentido, mas também pelas rimas, pela sonoridade, pelo ritmo do poema.
Daí o contraste dos dois versos finais, pois o “Mas” opõe-se às
alternativas dadas até então, produzindo uma ruptura do sentido e da
seqüência sonora.
O ritmo como criação do poeta - Leis de metrificação ou
versificação apresentam normas a serem seguidas, que subdividem os
versos em pés ou segmentos compostos de sílabas longas e sílabas breves.
As normas métricas foram usadas de
maneira diferente em casa período literário, ora
preferia-se determinado esquema rítmico, ora mesclava-se diferentes tipos de
metro, mas até o início do séc. XX valorizava-se sobretudo a contagem
silábica dos versos
® atualmente a nova posição
crítica permite analisar o ritmo do verso livre modernista, que não segue
nenhuma regra métrica, apresentando ritmo novo, liberado e imprevisível.
O verso já se destaca a partir da disposição gráfica na página. E uma vez que a
prosa se imprime em linhas ininterruptas, a organização do poema em versos já é
o traço distintivo. A métrica é exterior ao poema. Ao compor, o poeta decide se
vai ou não obedecer às leis métricas que servem apenas como suporte ou ponto de
apoio, pois, graças à criatividade do artista, o poema tem um ritmo que lhe
é próprio. O ritmo pode resultar da métrica escolhida pelo poeta ou de uma
série de efeitos sonoros ou jogo de repetições.
3. RITMOS
Cada época tem seu ritmo - arte / etimologia: sentido de
atividade transformadora realizada pelo homem. Atividade esta que possui as
marcas das condições concretas em que foi efetuada. Daí o ritmo,
componente do poema, manter relação com a época ou com a situação em que é
produzido. Exemplo: há uma relação entre a regularidade da vida do
séc. XIX e o ritmo poético mais simétrico e regular que prevaleceu até inícios
do séc. XX e entre a vida mais imprevisível e mais liberta de padrões e o ritmo
mais solto, mais livre e menos simétrico dos poemas a partir da segunda década
do séc. XX.
Simetria - Escansão, escandir significa
dividir o verso em sílabas poéticas, nem sempre correspondem às sílabas
gramaticais. Para-se a contagem na última sílaba tônica, se houver outras
depois, para efeito métrico, não são contadas. Escreve-se em maiúsculas as
sílabas fortes ou acentuadas. Exemplo: “Remorso” de Olavo Bilac, p.14 - Sin- to o – que es- per- di- CEI- na- ju- ven- TU (de).
Descrição do esquema rítmico deste verso de 10 sílabas ou decassílabo,
sendo a sexta e a décima acentuadas: E.R. 10(6-10). Compõe-se de dois
segmentos rítmicos ® bipartição:
o primeiro até a sexta sílaba e o segundo até a décima. Por- ti- mi- DEZ- o-
que- so- FRER- não- PU (de): tripartição, E.R. 10(4-8-10). Percebe-se além
da alternância de sílabas fortes e fracas, efeitos sonoros como a repetição de
letras ou palavras e também a rima ® repetição de sons semelhantes no final de versos diferentes:
juventUDE / pUDE. Fechando o poema, o metro apóia a famosa “chave de ouro”
que fecha o poema: E- por- pu- dor- os- VER- sos- que eu- não- DIS(se), E.R.
10(6-10).
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