Tópicos em Lingüística Aplicada: Gêneros
Textuais
Professora: Regina Peret Dell´Isola
Fonte: QUINTILIANO SILVA, Jane. Gênero
Discursivo e Tipo Textual.
Belo Horizonte: Scripta, 1999.
p.87-105
Alunas: Eli
Ribeiro dos Santos / Liane Mª Cardoso / Raquel
Teles Yehezkel
ESTUDO DIRIGIDO
1-
Há uma
confusão terminológica entre “tipo textual” e “gênero discursivo”, usadas
indistintivamente para designar textos produzidos na e pela sociedade e ao
mesmo tempo para referir-se aos modos de organização discursivos nele atualizados.
A autora defende a diferenciação conceitual das duas formas.
2-
A autora
se propõe a fazer uma reflexão sobre o funcionamento das noções “tipo textual”
e “gênero discursivo”, apresentando uma distinção de natureza
teórico-metodológica por considerar-se que cada uma delas categoriza realidades
diferentes do funcionamento do discurso.
3-
O objetivo
da autora é mostrar que o mais importante não é o nome atribuído à noção “tipo
textual” ou “gênero discursivo”, mas sim, a possibilidade de identificá-los,
apreendendo seu funcionamento no processo de análise.
4-
A noção de
“tipo textual” comporta uma rede de significações que pressupõem diversas
formas de apreensão do funcionamento da linguagem, o que concede a ela um tom
escorregadio e camaleônico. “Gênero discursivo” reporta-se ao funcionamento da
língua em práticas comunicativas reais e concretas, constituídas por sujeitos
que interagem nas esferas das relações humanas e da comunicação.
5-
As
dimensões definidoras da natureza dos princípios tipológicos:
·
as propriedades
internas à constituição do texto (plano microestrutural).
·
modelos
cognitivos culturalmente adquiridos em relação com a macroestrutura textual
(esquema global ou superestruturas).
·
os tipos
de seqüências (macro) proposicionais.
·
atitude
enunciativa que o locutor assume em relação ao seu objeto de dizer e ao
interlocutor (modos de organização discursivos).
·
os
domínios institucionais ou as formações discursivas em que se inscrevem o
discurso.
6-
Funciona
como um termo que cobre e designa fenômenos bastante diversos quanto à natureza
e ao funcionamento do texto, um generalizador usado por vários autores, que
certamente não operam com a mesma noção de tipo textual.
7-
A noção de
tipo textual parece construir-se sobre parâmetros das condições objetivas de
uso e função pragmática dos textos. Os tipos textuais se manifestariam dentro
dos gêneros discursivos narração e carta, por exemplo, representam fenômenos da
linguagem que, do ponto de vista teórico-metodológico, possuem natureza
heterogênea, cujos princípios de organização impõem delimitações no interior do
objeto de estudo. A autora considera a narração, a argumentação e/ou a
injunção, etc., como tipos de operações textual-discursivas que podem se
atualizar no texto da carta, entrevista, etc., estes representativos de
práticas correntes sócio-comunicativas da sociedade.
8-
As
práticas correntes sócio-comunicativas (gêneros discursivas) de nossa sociedade
provocariam um redimensionamento devido à delimitação, a extensão e a natureza
do objeto de estudo, por pressupor que tais fenômenos se organizam em um mesmo
quadro por estarem implicados e não mais por serem conjugados.
9-
Para
Bakhtin a heterogeneidade dos gêneros são aqueles produzidos por e em uma
sociedade, dada a diversidade das esferas da atividade e da comunicação humana,
as quais refletem a diversidade das relações (inter e intra) sócio-culturais
dos grupos sociais, gêneros discursivos, cujas extremidades estariam a
conversação espontânea e do outro, os artigos de vulgarização científica.
10-
Gênero para reporta ao funcionamento da língua
em práticas comunicativas reais e concretas, construídas por sujeitos que
interagem nas esferas das relações humanas e da comunicação, num sistema
continuo de situações discursivas. Cada esfera do uso da língua potencializa os
seus próprios gêneros, determinando as formas genéricas e relativamente
estáveis de manifestação dos discursos, no que tange aos aspectos temático,
estilístico e composicional.
11-
Se submetem aos seus processos de produção e
de recepção e ao seu circuito de difusão, a saber: a instância social de uso da
linguagem (pública ou privada); os interlocutores (locutor e destinatário); o
lugar e o papel que cada um desses sujeitos representa no processo
interlocutivo, que sofrem injunções do lugar social que cada um ocupa na
sociedade; a relação de formalidade ou não entre eles; o jogo de imagem ali
presente e o jogo de vozes socialmente situadas, orientando o que pode ou não
ser dito e como fazê-lo; a atitude enunciativa do locutor (intuito discursivo) em
relação ao seu objeto de dizer e ao seu destinatário; as expectativas e
finalidades deste aliadas à sua atitude responsiva; o registro e a modalidade
lingüística e o veículo de circulação.
12-
Relações intersubjetivas dizem respeito ao
intuito discursivo do locutor (o querer dizer) e à atitude responsiva do
destinatário. Segundo Bakhtin “o índice constitutivo do enunciado é o fato de
dirigir-se a alguém, de estar voltado para o destinatário. (...) Elabora-se (o
enunciado) em função da eventual reação-resposta (...) As diversas formas
típicas de dirigir-se a alguém e as diversas concepções típicas do destinatário
são as particularidades constitutivas que determinam a diversidade dos gêneros
discursivos”.
13-
Gêneros primários: discursos que se
constituem em instâncias privadas, em esferas vinculadas às atividades
cotidianas e/ou íntimas (conversações no âmbito familiar, entre amigos, cartas
pessoais, bilhetes, diário, etc).
Gêneros secundários: discursos que se
constituem em instâncias públicas, em esferas vinculadas às atividades
socioculturais, com caráter relativamente mais formal (conferências,
biografias, documentos, sermões, ritos jurídicos, reportagens, teses, etc).
14- A transmutação de um gênero ocorre quando este
é absorvido por outro. Isso acontece em situações comunicativas da vida
cotidiana, quando o gênero é deliberadamente alterado pelo sujeito. Exemplo:
ao usar a agenda particular, o sujeito redimensiona seu uso e função
pragmático-social (anotar compromissos e horários) para diário pessoal, em que
anota impressões pessoais, momentos felizes ou tristes, etc.
15- Os
textos, por possuírem um alto grau de estereotipia, por exibirem formas
estáveis de manifestação no discurso, trazem, muitas vezes, na superfície
textual, algumas marcas lingüísticas previsíveis e identificáveis. A escolha,
por parte do sujeito, de determinado recurso lingüístico, dentre outros
disponíveis ou virtualmente possíveis, reflete a ação individualizada
desse sujeito sobre os processos existentes. Ao gênero a ser utilizado, leva em
conta seu projeto discursivo, o seu destinatário e a instância de uso da
linguagem.
16- "Tipo
textual" é uma noção que remete ao funcionamento da constituição
estrutural do texto, ou seja, um texto pertencente a um dado gênero
discursivo que pode trazer na sua configuração vários tipos textuais como a
narração, descrição, dissertação/argumentação e injunção, que confeccionam a
tessitura do texto, que constituem a estrutura composicional do texto segundo
os padrões do gênero.
17- É uma noção que se define pela determinação
das relações internas da organização estrutural do discurso concretizadas no
texto, as quais se dimensionam à luz do projeto discursivo do locutor.
Categoria que se presta a pensar e caracterizar o funcionamento de um dos
planos constitutivos do texto – a estrutura interna da configuração textual.
18- As operações textual-discursivas, construídas
pelo locutor em função de sua atitude discursiva em relação ao seu objeto do
dizer ao seu interlocutor. o que se busca é o fazer e o agir do outro, após a
ação de quem enuncia.
19- Os “objetos” escolhidos para montar os
enunciados já possuem dentro da estrutura do texto uma função, relacionando uns
aos outros, formamos um dado texto. O resultado dessas relações forma uma
estrutura maior, os enunciados, o texto em si, mas cada um possui um papel
único e específico.
20-
Os variados modos discursivos ou tipos
textuais assumem formas e funções variáveis e específicas, dada a natureza do
gênero a que pertence o texto. A autora avalia que proposta feita não é pronta
e acabada e cabe a casa pesquisar identificar qual linha teórica está seguindo,
para assim identificar-se qual a melhor nomenclatura. Volta a frisar que o
importante é voltar a atenção mais para a conceituação e menos para os nomes em
si.
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