Raquel Teles Yehezkel
MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO
Trabalho requisitado pela disciplina “Tópicos em
Prática de Ensino: Alfabetização e Letramento”,
ministrada pela profa. Carla Coscarelli.
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
Belo Horizonte 16 de abril de 2007
O critério
de classificação de métodos mais difundido é o divulgado na XII Conferência
Internacional de Educação (UNESCO) promovida em convênio como o “Internacional
Bureau of Education” que os dividiu em 02 grandes grupos:
·
1º grupo -
Sintéticos: aqueles cuja metodologia leva o aluno a combinar
elementos isolados da língua, sons,
letras, sílabas, em todos maiores, palavras e frases. Nesse grupo estão os
métodos Alfabético, Fônico e Silábico.
·
2º grupo -
Analíticos: aqueles que levam o aluno a destacar de unidades
lingüísticas maiores, palavras ou frases, os elementos menores. Nesse grupo
estão os métodos de Palavração, de Sentenciação, Global de Contos, Natural e de
Imersão.
MÉTODO ALFABÉTICO
Esse método deu
origem ao termo “alfabetizar”, tornou-se universalmente aceito e foi empregado
desde os tempos da Grécia e Roma antigas até o fim da Idade Média e no século
XIX persistiu em uso, com maior ou menor duração, em alguns países. A sua
familiaridade de formas com os nomes de letras ajudava o aluno, através da
repetição de sons reconhecidos nas letras, a soletrar as palavras (“gê” com “a”
= “gá”, “tê” com “o” = “tó” – gá – tó – gato) embora não identificasse o significado
das mesmas.
No inglês era conhecido como o spelling-method.
Na América do Norte foi longamente difundida durante todo um século (1783-1890)
e a capacidade empresarial (edição – distribuição e venda) dos Estados Unidos
foi um fator indiscutível da difusão do método Alfabético durante um período de
tempo muito grande. No Brasil, adotou-se as Cartas de ABC e os silabários.
FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO
Uma vez que
prioriza a relação do nome da letra com o som, ensinava-se primeiramente aos
alunos o nome das letras e suas formas – maiúsculas e minúsculas, em sua
seqüência alfabética.
O segundo passo era
apresentar aos alunos combinações de letras, 2 a 2 (ab e ba; ib e bi, etc), que
deveriam ser pronunciadas de forma simultânea ao reconhecimento de sua forma
gráfica. As combinações ampliavam-se em grupos de 3, 4 e 5 letras formando
grupos maiores, depois eram treinadas as sílabas e, no final, eram apresentadas
formando a palavras. A escrita era ensinada paralelamente e a caligrafia das letras
era muito valorizada.
A aprendizagem
tinha como base a repetição e, só depois de muito tempo e repetição de pedaços
(sem significado ideativo), a leitura real começava, enfatizando-se muito mais
o reconhecimento dos sons da palavra,
que a apreensão de seu significado.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Como ponto
vantajoso desse método, pode-se citar o fato que o próprio nome das letras do
alfabeto (com algumas exceções) remete a pelo menos um dos fonemas que elas
representam.
Como pontos
negativos, Menzel considera que “a ajuda que este método presta ao ensino da
leitura é incidental e ineficiente.” [1]Já
Anderson e Dearbon[2]
criticam o método alfabético porque consideram que:
- A compreensão do significado inerente ao agrupamento de letras (palavras) só vem após a leitura e pronúncia feita pelo professor,
- As primeiras lições afastam o aluno do texto pelo seu árduo e desinteressante exercício e terminam por estabelecer um desinteresse pela leitura,
- Quanto mais treinado o aluno ficar no reconhecimento de nomes de letras, menos apto ficará para aplicá-lo em leituras eficientes.
A abstração necessária para que o aluno conseguisse
retirar o excesso de sons na palavra soletrada, por exemplo, “banana” –
“bê-a-ba, ene-a-na, ene-a-na = banana”, também é um ponto negativo do método
Alfabético. Uma hipótese que pode ser levantada para tentar ajudar a aluno à
eliminar essas “sobras” de sons é a criação de outros alfabetos (por exemplo, o
alfabeto popular de regiões nordestinas: a, bê, cê, dê, etc.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como processos
evolutivos do método Alfabético, cita-se, sugerido por Huey[3],
o emprego de blocos e tábuas com letras desenhadas para tornar mais “concreto”
o aprendizado de suas formas. Já Basedow, sugeriu, por acreditar que as
crianças aprendiam melhor através do brinquedo, a apresentação das letras como
biscoitos (massa doce) para que as mesmas as “degludissem” por completo. Estas
depois seriam imediatamente associadas à figuras de palavras que começassem
pela letra comida, que depois seriam combinadas com outras (também comidas)
para formar as sílabas, as palavras e o texto.
Apesar da
simplicidade e facilidade de sua aplicação, o método Alfabético foi
gradativamente sendo abolido e suplantado por outros métodos de alfabetização
mais efetivos, uma vez que os exercícios de soletração erram considerados
abstratos, fastidioso, memorísticos e não respeitavam o sincretismo infantil, e
nos dias atuais é raramente utilizado.
MÉTODO FÔNICO
O método fônico é um método sintético – que vai das
partes para o todo – cujo princípio é ensinar as relações entre sons e letras
para que se relacione a palavra falada com a escrita. Assim, sua unidade mínima
de análise é o som.
Passou a ser adotado em lugar do alfabético na tentativa
de superar a dificuldade deste em relação à diferença entre o nome da letra e o
som que a representa.
FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO
SOM/LETRA Ð SÍLABA Ð PALAVRA Ð FRASE
- Primeiramente ensina-se a forma e os sons das vogais. O método insiste numa forte repetição até que esta associação se estabeleça e o aluno a pronuncie automaticamente.
- Depois ensina-se cada consoante isoladamente, e seu som é combinado com cada vogal. Cada letra é aprendida com um som que, junto a outro som, pode formar sílabas.
- Ao ensinar os sons e suas representações gráficas (grafemas), há uma seqüência que deve ser respeitada, indo-se de relações diretas entre fonemas e grafemas (como: p/b, v/f, t/d) para relações mais complexas (como as variações de letras para o fonema /s/ sapeca, cenoura, laço, assar, descer, excelente ou as variações pronúncia de o e e como em menino, tomate).
- As sílabas são reunidas em conjunto maiores formando as palavras.
- Com as palavras conhecidas formam-se pequenas frases.
Técnicas facilitadoras
- Identificação das letras, repetição de seu nome e de seu som característico.
- Identificação de fonemas em palavras ditas pelo professor ou criação de palavra a partir de um som.
- Ênfase nos sons correspondentes a figuras com letra inicial destacada (gravura que evoque o som inicial a ser pronunciado).
- Identificação do som final e inicial das palavras. Assim os alunos identificam o som, pensam na letra que o representa e acham palavras que começam com o mesmo som.
- Apoio visual (gravuras) ou auditivo (gravações) para indicar sons onomatopéicos, como vozes de animais, gritos de surpresa, de dor: auau – óóó/ááá – ai.
- Desenho sobreposto à primeira letra, visando tornar mais concreta a evocação do som (Ex: a letra p desenhada com dedos em forma de um pé).
VANTAGENS
- Uso do som da letra no reconhecimento da palavra (diferente do alfabético).
- Organização lógica, facilmente graduado em etapas precisas que possibilitam o controle do conteúdo do que já foi “dado” ou não e da aplicação de exercícios em séries pré-estabelecidas.
- Econômico, pois exige pouco material específico.
- Fácil de ser aplicado, mesmo por leigos, pelas qualidades lógicas e econômicas.
DESVANTAGENS
·
A
dificuldade na percepção do som da consoante, que permanece ligado ao das
vogais, provoca dificuldades em reconhecê-lo dentro de combinações mais complexas,
provocando a troca de letras na fase de formação de palavras.
·
Não é
praticável num grande número de línguas, já que é mais eficiente quando a
língua tem formas e sons invariavelmente correspondentes (no caso do português
os sons e as formas p/b, v/f, t/d).
·
Necessidade
de inclusão de análise da estrutura sonora da palavra para superar as
deficiências (do método sintético) produzidas pelo conhecimento restrito a
combinações de consoante e vogal.
·
Necessidade
de se estabelecer o pronto reconhecimento da palavra pelo seu perfil visual, já
que a palavra não é apenas uma mera soma de sinais isolados (letras). O método
interfere na habilidade em apreender a idéia contida nas palavras, nas frases e
no texto.
·
Quando a
criança está ocupada em decodificar cada som da palavra (análise fonológica),
não prioriza o sentido dos textos e nem o uso social da escrita.
·
Procedimentos
formais, que consistem em repetições, isolados de contexto e de conteúdo reais,
criam desinteresse pela leitura.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Ainda hoje, na organização do ensino, a aprendizagem da relação
fonema/grafema é o principal objetivo desse método, permanecendo a preocupação
primordial em trabalhar os sons e as letras numa ordem determinada pela
complexidade da relação entre fonemas e gramas no sistema de escrita.
Apesar das desvantagens apresentadas, é ainda largamente difundido,
por ser um método econômico e de fácil aplicação.
MÉTODO SILÁBICO
O ponto de partida para o ensino da leitura, de acordo
com esse método, é a unidade fonética da sílaba. Segundo Isabel Cristina Frade
(2005, p.22), o método silábico está inserido em um grupo mais amplo: o dos
métodos sintéticos. Nos sintéticos, além do silábico, estariam inclusos os
métodos alfabéticos e fônicos. Todos três teriam como prioridade o aspecto
fonográfico da palavra, seja pelo estudo da letra (alfabético), pela unidade do
fonema (fônico), ou pela análise da sílaba (silábico). Ainda, segundo a autora,
esses métodos baseiam-se na idéia que para compreender o todo se deve partir de
unidades menores. Posteriormente essas unidades seriam agrupadas e analisadas
para que se fizesse a relação entre o que se fala e sua representação gráfica,
a escrita.
Dessa forma, as sílabas são agrupadas uma após outra e
essa seqüência dá origem à palavra em sua totalidade. De acordo com Gilda Rizo
(1986, p.14), os lingüistas que criaram esse método argumentam que uma
consoante só pode ser emitida apoiada em uma vogal, e por esse motivo o ponto
de partida para o ensino da leitura seria a sílaba e não as letras.
FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO
O método silábico parte do princípio que se deve ir do
“mais fácil” para o “mais difícil”. No início, as sílabas estudadas são
semelhantes à “ba-be-bi-bo-bu” e evita-se sílabas mais complexas como, por
exemplo, as que tenham encontros consonantais, ou que as consoantes são
duplicadas como rr ou ss.
O aluno tem um primeiro contato com as vogais a, e, i,
o, u, e logo em seguida com as consoantes. Após esse primeiro contato passa-se
à fase seguinte, que é a de formação de sílabas pelo agrupamento entre
consoantes e vogais. O passo seguinte consiste em agrupar as sílabas formadas
dando origem às palavras. Com as palavras formadas tenta-se criar sentenças, ou
então um pequeno agrupamento de palavras soltas.
Uma facilidade didática que o método silábico
proporciona é que há muitas possibilidades de ensinar novas palavras com
sílabas já conhecidas pelos alunos.
VANTAGENS
- Facilidade na aprendizagem, uma vez que ao falarmos pronunciamos sílabas e não sons separados. Em relação a esse quesito o método silábico é de melhor apreensão pelo aluno se comparado ao método alfabético.
- O material didático para a aprendizagem é mínimo.
- Há correspondências entre a cognição requerida pelo método e a organização mental necessária para a aprendizagem.
- O conhecimento de palavras novas se dá em pouco tempo.
- Ótimo método para a aprendizagem de adultos, devido à relação do método com a semelhança do raciocínio lógico que esses possuem.
- Não é necessário conhecimento profundo da língua. O método é fácil e qualquer pessoa alfabetizada pode ensinar a uma outra qualquer.
DESVANTAGENS
- Na fase de formação de sentenças as palavras normalmente não guardam relação entre si. Isto, às vezes, gera frases sem sentido.
- É um método calcado na repetição, o que o torna cansativo.
- Há demora em compreender o que se está lendo devido à importância que se dá ao conhecimento de palavras novas.
- O professor que é alfabetizado por esse método tende a ser refratário a outros métodos de ensino.
- Nos estágios iniciais há uma sobrecarga de memorização sobre o aluno.
- Possibilidade de se formar um aluno que seja “leitor mecânico” de palavras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pôde ser
observado, assim como os outros métodos, o silábico possui aspectos positivos e
negativos para o ensino de alfabetização e prática da leitura.
As autoras Isabel
Cristina Frade e Gilda Rizzo consideram que o método silábico atualmente possui
técnicas variantes que o tornam mais “avançado”, mais "inteligente."A
primeira destaca técnicas adotadas por Paulo Freire que mesmo utilizando o
método silábico priorizou “o sentido e a compreensão crítica do mundo”.(2005
p.30). O educador escolhia o que chamava “palavra geradora” e a partir dela
analisava e sistematizava as famílias silábicas. A “palavra geradora” seria,
normalmente, uma palavra que estaria conectada ao cotidiano e a vivência do
aluno.
Gilda Rizzo
considera “evolução” uma adaptação feita ao método silábico em que o “som das
letras e das sílabas são retirados de palavras conhecidas através de uma
análise comparativa”. Essa adaptação leva o nome de psico-fonêmica. Veja o
exemplo abaixo.
CA – CHORRO
CA – VALO TA – TU
CA - BRITO TA – MANCO
Ao se pegar as primeiras sílabas de todas as cinco
diferentes palavras (CA – TA) damos origem a um novo e diferente vocábulo:
CATA.
MÉTODO DE PALAVRAÇÃO E SENTENCIAÇÃO
PALAVRAÇÃO
A palavração surgiu a partir da revolta contra outros métodos de
alfabetização. Ela foi introduzida por Commenius na obra Orbis Pictus em 1967, no qual defende a idéia “contra tediosas
soletrações, que nada mais são que métodos de tortura da mente”.
As vantagens deste método são a seguinte:
A palavra é
simultaneamente unidade da língua e do pensamento.
- O enfoque da leitura deve ser dado ao significado do que está escrito, para que se possam desenvolver métodos inteligentes de leitura que desperta o interesse e prazer em aprender.
- A aprendizagem de palavras como um todo corresponde à forma como adulto e criança percebem idéias, formas e aprendem.
FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO
Neste método as palavras são apresentadas em
agrupamentos e os alunos aprendem a reconhecê-la através da visualização. Cada
palavra pode ser memorizada pelo seu perfil, e muitos recursos são utilizados
para facilitar este reconhecimento. Um desses recursos é a palavra acompanhada
por uma figura, e repetição seu reconhecimento estabelece a memorização.
Ex:


O método da palavração é uma adaptação no qual as
palavras memorizadas contêm todos os sons da língua e onde os processos de
análise-síntese são empregados simultaneamente.
DESVANTAGENS
- Falhas no desenvolvimento de habilidade em enfrentar palavras novas necessárias à autonomia do leitor.
- Lentidão no processo que ocorre quando se estabelecem as falhas já citadas.
SENTENCIAÇÃO
Esse método parte da frase para depois dividi-la em
palavras, de onde são extraídas os elementos mais simples: as sílabas;
Do ponto de vista mental, o método da palavração,
trabalhando com elementos isolados, não
favorece a compreensão de um texto e, sob o aspecto fisiológico, é
cansativo e não desenvolve a amplificação da área visual.
Do ponto de vista mental, o método da sentenciação falha
quanto ao desenvolvimento da compreensão, pois trabalha com frases isoladas.
Descuidada também do processo fisiológico, pois a criança aprende a “recitar” as frases sem acompanhá-las
com movimentos de olhos adequados e fazendo dessa forma associações incorretas
entre o que diz e o símbolo que olha.
VANTAGENS
- Atender aos princípios ou leis da percepção e modernos conceitos estruturalistas de aprendizagem.
- Cultivar hábitos e atitudes inteligentes de leitura.
- Enfatizar o conteúdo ideativo – mensagem.
- O reconhecimento do som dentro da palavra estabelece, desenvolve e aperfeiçoa os mecanismos corretos de leitura.
DESVANTAGENS
- Dificuldades, em manter relacionados os assuntos do interesse da turma e o vocabulário a ser estudado.
- Dificuldade em dar atenção necessária à análise das palavras pelo excesso de tempo gasto com a memorização de sentenças.
Logo o método de senteciação é realmente bem empregado,
ela desenvolve diversos hábitos e atitudes necessárias a uma leitura
inteligente e completa.
- Atitudes do leitor ativo
- Habilidades em extrair as idéias básicas do texto.
- Atitude reflexiva de leitura.
- Habilidade de pensamento, leitura e crítica.
- Habilidade de aplicação inteligente do conteúdo lido.
- Atitude de interesse e prazer na leitura.
MÉTODO GLOBAL DE CONTOS
Do ponto de vista histórico que
cerca os métodos de alfabetização, apareceu, mais tardiamente, o método global
de contos e historietas. Neste método, o ponto de partida é a tomada de um
texto. Divulgado em vários estados brasileiros, o método global foi aderido
oficialmente nas primeiras décadas do séc. XX.
Para trabalhar com esse método, eram
produzidos os chamados pré-livros, nos quais poderiam conter um texto já
conhecido (como foi o caso do pré-livro As
mais belas histórias, de Lúcia Casassanta) ou um texto desconhecido, como
foi o caso do célebre O Livro de Lili, de Anita Fonseca.
FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO
O método de contos
apresenta seqüência de sentenças organizadas em forma de história, atendendo
aos princípios de interesse e apelo da criança. Isso foi decorrente do
resultado da avaliação do conteúdo (ideativo) das sentenças e os interesses,
atividades e experiências da vida infantil. Tomando como foco o sentido do
texto, o professor encaminhava o processo utilizando-se de textos completos das
várias lições seguidas, e, somente após um convívio maior com o texto é que
viriam as formas de decomposição,, tomando primeiro a sentença e depois a
palavra. Por exemplo, se um livro constasse de 10 lições, o recomendado seria
que somente após a 4ª lição se fizesse a fragmentação em sentenças da 1ª lição
aprendida. E, quando se estivesse na 6ª lição, se faria a palavração da 1ª
lição, e assim por diante.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Embora o
método global de contos e historietas treine os alunos na habilidade de
antecipar e seguir uma seqüência lógica de idéias e relacioná-las entre si, a
apresentação fixa das sentenças da cartilha leva o aluno a “adivinhar” as
frases seguintes à primeira. Assim, reduz a possibilidade de desenvolver a
habilidade de enfrentar textos, sentenças e palavras novas. Torna-se obscuro
para o professor se o aluno está de fato decodificando as palavras ou recitando
de cor as frases que já conhece.
Ainda: os pré-livros, como O Livro de Lili, possuem textos que não manifestam a mesma
linguagem presente em textos autênticos, como o das histórias infantis. Observa-se
certa desarticulação entre as frases que o compõe:
"
Olhem para mim. / Eu me chamo Lili. / Eu comi muito doce. /
Vocês
gostam de doce? / Eu gosto tanto de doce!"
(FONSECA,
Anita. O Livro de Lili. Cartilha; São
Paulo:Editora do Brasil.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Teberosky[4],
a memorização tem um papel importante dentro dos interesses da criança, e é por
esse motivo que sempre querem que as histórias sejam contadas repetidas vezes,
podendo, assim, participar das frases que já memorizaram. Assim, a criança vai
se tornando capaz de narrar por si só as histórias e, mais para a frente,
facilitam-lhes a escrita, já que o fato de poder antecipar o texto lhes dá
maior fluência na hora de escrever.
Eglê Pontes[5]
sugere uma transformação dos textos das cartilhas, uma vez que os analisa e os
caracteriza por ser muito pobres, “elaborados sob critérios puramente
“didáticos” sobre um feixe de frases soltas, dificilmente relacionadas entre
si”. As crianças, habituadas a manifestar-se livremente, queriam muito mais
além do contexto narrado pelos pré-livros, e daí começou, sob a orientação da
psicopedagoga, o trabalho de reconstrução do texto. Através de palavras
previamente selecionadas pela professora, e colocadas em um flanelógrafo, as
crianças liam interessadamente as palavras até então desconhecidas através da
escrita e reconstruíam os textos da cartilha.
Gilda Rizzo[6]
ressalta que o método historiado é mais capaz de desenvolver habilidades
necessárias à leitura inteligente, como apreender idéias básicas e
relaciona-las entre si, além de despertar o interesse pela leitura como fonte
de prazer e informação. No entanto, considera as falhas no tocante à
negligência em atacar palavras novas.
Ainda de acordo com
Rizzo, hoje, no mundo inteiro, tentam-se combinações dos vários processos,
sendo muito raro encontrar uma cartilha ou um método “puro”. No Brasil ainda é,
também, muito difícil encontrá-la, dada a penetração e permanência do método
silábico (influências sócio-culturais associadas ao baixo nível de formação do
professor). De um modo geral, as cartilhas brasileiras apresentam variações
sobre a constituição do vocabulário, bem como na seqüência de apresentação das
sílabas, sons ou letras. Variam, também, o custo do material impresso e a
quantidade e aqualidade do material de apoio.
MÉTODO NATURAL OU DE IMERSÃO
A alfabetização natural é fruto do
trabalho realizado primeiramente por Heloísa Marinho, professora e pesquisadora
do Instituto Nacional de Pesquisas Pedagógicas (INEP) a partir de pesquisas
sobre a linguagem e o vocabulário de crianças nas primeiras séries do ensino de
leitura e escrita, sendo mais tarde elaborado e finalizado como metodologia
pela pedagoga Gilda Rizzo Soares.
FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO
Este método parte de estímulos sócio-ambientais que
visam à construção natural e espontânea de um esquema de leitura, que segundo
Soares é “inato no ser humano”. A estimulação desse potencial parte da idéia de
que, independente da metodologia adotada os alunos só concretizavam a leitura
após relacionar os sons das letras a um vocabulário pré-determinado e de
conhecimento do aluno.
Na alfabetização natural o aluno escolhe o vocabulário
que quer utilizar e as atividades que quer realizar. Em um primeiro momento
esse vocabulário é escolhido através de votação, caso a alfabetização seja
grupal. As palavras devem refletir diretamente as vivencias do grupo e suas
particularidades. Substantivos, ações conjugadas no presente do indicativo
devem ser priorizados nesta fase. O vocabulário vai crescendo e os alunos são
motivados a trabalhar com composição das frases incluindo letras maiúsculas no
começo de frase e ponto final.
O desenvolvimento da escrita pode ocorrer
simultaneamente ou não, com ênfase nos movimentos da escrita, para que favoreça
o reconhecimento de qualquer tipo de material impresso. Num segundo momento o
aluno é introduzido a aspectos fonéticos estruturais das palavras já
memorizadas. Um exercício como a “caçada” estimula a reconhecer sonoramente
letras já memorizadas visualmente. A partir daí a criança é capaz de formar
novas palavras, tendo aprendido a funcionalidade do som. E na última fase é
introduzido o livro de leitura, onde o vocabulário já não se restringe somente
ao escolhido no começo do processo de alfabetização. Neste momento o aluno já
deve ser capaz de ler e reconhecer sons, conseqüentemente formando palavras
livremente.
Algumas das ferramentas desta metodologia são:
- Vocabulário de apoio: cerca de 35 palavras escolhidas e ilustradas pela turma, todas as letras do alfabeto tem que estar representadas.
- O sentenciador: será ai que o aluno juntara as palavras e formará frases. As palavras que não conhecem serão representadas por desenho até serem substituídas por palavras.
- Jogos de leitura: jogos que estimulem e facilitem a memorização das palavras do vocabulário escolhido.
- A caçada: um procedimento que envolve o reconhecimento fonético de uma palavra segundo semelhança do som inicial com o de uma palavra já memorizada visualmente.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Um aspecto negativo desta metodologia envolve a
restrição do vocabulário de leitura e escrita. Os sons e as letras vão sendo
introduzidos aleatoriamente o que pode causar uma deficiência em um ou outro
aspecto de aquisição. A escrita não é muito estimulada até que se introduza o
livro de leitura.
O ponto positivo da alfabetização natural é que ele se
dá dentro do contexto pessoal do aluno e de suas vivencias. O tempo de cada um
e de sua construção mental de aquisição de leitura pode ser mais respeitado e direcionado
de acordo com as necessidades particulares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRADE, Isabel Cristina. Métodos e didáticas de alfabetização
– história, características e modos de fazer de professores. Caderno do
formador. Coleção Alfabetização e Letramento. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG,
2005.
FRANCHI, Eglê
Pontes. Pedagogia da Alfabetização – da oralidade à escrita. São Paulo: Cortez, 1988.
SOARES, Gilda Rizzo. Estudo comparativo dos métodos de ensino da
leitura e da escrita. 4 ed. Rio de Janeiro: Papelaria América Editora,
1986.
TEBEROSKY, Ana
e CARDOSO, Beatriz. Reflexões Sobre o Ensino
da Língua Escrita. Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1990.
SITES CONSULTADOS
Métodos de alfabetização:
- Disponível em www.http://sisifo.ul.pt/?r=1&p=94> acesso em 23 mar 2007.
- Disponível em http://www.ines.org.br/paginas/publicacoes/FORUM/FORUM%209.pdf acesso em 27/03/2007.
- Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf acessado em 30 de março de 2007.
[1] Menzel, Emil W. “Suggestions for Teaching of
Reading in India” Oxford University, 1944.
[2] Anderson, Irving H. e Dearbon, Walter “The
psychology of Teaching Reading” – New York, 1952.
[3] Huey, Edmund “The psychology and Pedagogy of
Reading” – New York, 1952
[4] TEBEROSKY, Ana, CARDOSO, Beatriz.
Reflexões Sobre o Ensino da Língua Escrita.. ed. Campinas, SP: Editora da
Universidade Estadual de Campinas; 1990.
[5] FRANCHI, Eglê Pontes. Titulo:, Pedagogia da
Alfabetização - Da oralidade a escrita- . São Paulo,
Cortez, 1988.
[6] SOARES,
Gilda Rizzo. Estudo comparativo dos métodos de ensino da leitura e da
escrita. 4 ed. Rio de Janeiro: Papelaria América Editora, 1986.
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