sábado, 20 de julho de 2013

MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO



Raquel Teles Yehezkel









 

MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO





Trabalho requisitado pela disciplina “Tópicos em
Prática de Ensino: Alfabetização e Letramento”,
ministrada pela profa. Carla Coscarelli.










Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
Belo Horizonte 16 de abril de 2007



O critério de classificação de métodos mais difundido é o divulgado na XII Conferência Internacional de Educação (UNESCO) promovida em convênio como o “Internacional Bureau of Education” que os dividiu em 02 grandes grupos:
·               1º grupo - Sintéticos: aqueles cuja metodologia leva o aluno a combinar elementos  isolados da língua, sons, letras, sílabas, em todos maiores, palavras e frases. Nesse grupo estão os métodos Alfabético, Fônico e Silábico.
·               2º grupo - Analíticos: aqueles que levam o aluno a destacar de unidades lingüísticas maiores, palavras ou frases, os elementos menores. Nesse grupo estão os métodos de Palavração, de Sentenciação, Global de Contos, Natural e de Imersão.

 

 MÉTODO ALFABÉTICO



            Esse método deu origem ao termo “alfabetizar”, tornou-se universalmente aceito e foi empregado desde os tempos da Grécia e Roma antigas até o fim da Idade Média e no século XIX persistiu em uso, com maior ou menor duração, em alguns países. A sua familiaridade de formas com os nomes de letras ajudava o aluno, através da repetição de sons reconhecidos nas letras, a soletrar as palavras (“gê” com “a” = “gá”, “tê” com “o” = “tó” – gá – tó – gato) embora não identificasse o significado das mesmas.
            No inglês era conhecido como o spelling-method. Na América do Norte foi longamente difundida durante todo um século (1783-1890) e a capacidade empresarial (edição – distribuição e venda) dos Estados Unidos foi um fator indiscutível da difusão do método Alfabético durante um período de tempo muito grande. No Brasil, adotou-se as Cartas de ABC e os silabários.


FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO

            Uma vez que prioriza a relação do nome da letra com o som, ensinava-se primeiramente aos alunos o nome das letras e suas formas – maiúsculas e minúsculas, em sua seqüência alfabética.
            O segundo passo era apresentar aos alunos combinações de letras, 2 a 2 (ab e ba; ib e bi, etc), que deveriam ser pronunciadas de forma simultânea ao reconhecimento de sua forma gráfica. As combinações ampliavam-se em grupos de 3, 4 e 5 letras formando grupos maiores, depois eram treinadas as sílabas e, no final, eram apresentadas formando a palavras. A escrita era ensinada paralelamente e a caligrafia das letras era muito valorizada.
            A aprendizagem tinha como base a repetição e, só depois de muito tempo e repetição de pedaços (sem significado ideativo), a leitura real começava, enfatizando-se muito mais o reconhecimento dos sons da  palavra, que a apreensão de seu significado.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

            Como ponto vantajoso desse método, pode-se citar o fato que o próprio nome das letras do alfabeto (com algumas exceções) remete a pelo menos um dos fonemas que elas representam.
            Como pontos negativos, Menzel considera que “a ajuda que este método presta ao ensino da leitura é incidental e ineficiente.” [1]Já Anderson e Dearbon[2] criticam o método alfabético porque consideram que:
  • A compreensão do significado inerente ao agrupamento de letras (palavras) só vem após a leitura e pronúncia feita pelo professor,
  • As primeiras lições afastam o aluno do texto pelo seu árduo e desinteressante exercício e terminam por estabelecer um desinteresse pela leitura,
  • Quanto mais treinado o aluno ficar no reconhecimento de nomes de letras, menos apto ficará para aplicá-lo em leituras eficientes.
A abstração necessária para que o aluno conseguisse retirar o excesso de sons na palavra soletrada, por exemplo, “banana” – “bê-a-ba, ene-a-na, ene-a-na = banana”, também é um ponto negativo do método Alfabético. Uma hipótese que pode ser levantada para tentar ajudar a aluno à eliminar essas “sobras” de sons é a criação de outros alfabetos (por exemplo, o alfabeto popular de regiões nordestinas: a, bê, cê, dê, etc.)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Como processos evolutivos do método Alfabético, cita-se, sugerido por Huey[3], o emprego de blocos e tábuas com letras desenhadas para tornar mais “concreto” o aprendizado de suas formas. Já Basedow, sugeriu, por acreditar que as crianças aprendiam melhor através do brinquedo, a apresentação das letras como biscoitos (massa doce) para que as mesmas as “degludissem” por completo. Estas depois seriam imediatamente associadas à figuras de palavras que começassem pela letra comida, que depois seriam combinadas com outras (também comidas) para formar as sílabas, as palavras e o texto.
            Apesar da simplicidade e facilidade de sua aplicação, o método Alfabético foi gradativamente sendo abolido e suplantado por outros métodos de alfabetização mais efetivos, uma vez que os exercícios de soletração erram considerados abstratos, fastidioso, memorísticos e não respeitavam o sincretismo infantil, e nos dias atuais é raramente utilizado.



MÉTODO FÔNICO



O método fônico é um método sintético – que vai das partes para o todo – cujo princípio é ensinar as relações entre sons e letras para que se relacione a palavra falada com a escrita. Assim, sua unidade mínima de análise é o som.
Passou a ser adotado em lugar do alfabético na tentativa de superar a dificuldade deste em relação à diferença entre o nome da letra e o som que a representa.

FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO


SOM/LETRA Ð SÍLABA Ð PALAVRA Ð FRASE


  • Primeiramente ensina-se a forma e os sons das vogais. O método insiste numa forte repetição até que esta associação se estabeleça e o aluno a pronuncie automaticamente.
  • Depois ensina-se cada consoante isoladamente, e seu som é combinado com cada vogal. Cada letra é aprendida com um som que, junto a outro som, pode formar sílabas.
  • Ao ensinar os sons e suas representações gráficas (grafemas), há uma seqüência que deve ser respeitada, indo-se de relações diretas entre fonemas e grafemas (como: p/b, v/f, t/d) para relações mais complexas (como as variações de letras para o fonema /s/ sapeca, cenoura, laço, assar, descer, excelente ou as variações pronúncia de o e e como em menino, tomate).
  • As sílabas são reunidas em conjunto maiores formando as palavras.
  • Com as palavras conhecidas formam-se pequenas frases.

Técnicas facilitadoras

  • Identificação das letras, repetição de seu nome e de seu som característico.
  • Identificação de fonemas em palavras ditas pelo professor ou criação de palavra a partir de um som.
  • Ênfase nos sons correspondentes a figuras com letra inicial destacada (gravura que evoque o som inicial a ser pronunciado).
  • Identificação do som final e inicial das palavras. Assim os alunos identificam o som, pensam na letra que o representa e acham palavras que começam com o mesmo som.
  • Apoio visual (gravuras) ou auditivo (gravações) para indicar sons onomatopéicos, como vozes de animais, gritos de surpresa, de dor: auau – óóó/ááá – ai.
  • Desenho sobreposto à primeira letra, visando tornar mais concreta a evocação do som (Ex: a letra p desenhada com dedos em forma de um pé).

VANTAGENS


  • Uso do som da letra no reconhecimento da palavra (diferente do alfabético).
  • Organização lógica, facilmente graduado em etapas precisas que possibilitam o controle do conteúdo do que já foi “dado” ou não e da aplicação de exercícios em séries pré-estabelecidas.
  • Econômico, pois exige pouco material específico.
  • Fácil de ser aplicado, mesmo por leigos, pelas qualidades lógicas e econômicas.

DESVANTAGENS

·        A dificuldade na percepção do som da consoante, que permanece ligado ao das vogais, provoca dificuldades em reconhecê-lo dentro de combinações mais complexas, provocando a troca de letras na fase de formação de palavras.
·        Não é praticável num grande número de línguas, já que é mais eficiente quando a língua tem formas e sons invariavelmente correspondentes (no caso do português os sons e as formas p/b, v/f, t/d).
·        Necessidade de inclusão de análise da estrutura sonora da palavra para superar as deficiências (do método sintético) produzidas pelo conhecimento restrito a combinações de consoante e vogal.
·        Necessidade de se estabelecer o pronto reconhecimento da palavra pelo seu perfil visual, já que a palavra não é apenas uma mera soma de sinais isolados (letras). O método interfere na habilidade em apreender a idéia contida nas palavras, nas frases e no texto.
·        Quando a criança está ocupada em decodificar cada som da palavra (análise fonológica), não prioriza o sentido dos textos e nem o uso social da escrita.
·        Procedimentos formais, que consistem em repetições, isolados de contexto e de conteúdo reais, criam desinteresse pela leitura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda hoje, na organização do ensino, a aprendizagem da relação fonema/grafema é o principal objetivo desse método, permanecendo a preocupação primordial em trabalhar os sons e as letras numa ordem determinada pela complexidade da relação entre fonemas e gramas no sistema de escrita.
Apesar das desvantagens apresentadas, é ainda largamente difundido, por ser um método econômico e de fácil aplicação.



MÉTODO SILÁBICO



O ponto de partida para o ensino da leitura, de acordo com esse método, é a unidade fonética da sílaba. Segundo Isabel Cristina Frade (2005, p.22), o método silábico está inserido em um grupo mais amplo: o dos métodos sintéticos. Nos sintéticos, além do silábico, estariam inclusos os métodos alfabéticos e fônicos. Todos três teriam como prioridade o aspecto fonográfico da palavra, seja pelo estudo da letra (alfabético), pela unidade do fonema (fônico), ou pela análise da sílaba (silábico). Ainda, segundo a autora, esses métodos baseiam-se na idéia que para compreender o todo se deve partir de unidades menores. Posteriormente essas unidades seriam agrupadas e analisadas para que se fizesse a relação entre o que se fala e sua representação gráfica, a escrita.
Dessa forma, as sílabas são agrupadas uma após outra e essa seqüência dá origem à palavra em sua totalidade. De acordo com Gilda Rizo (1986, p.14), os lingüistas que criaram esse método argumentam que uma consoante só pode ser emitida apoiada em uma vogal, e por esse motivo o ponto de partida para o ensino da leitura seria a sílaba e não as letras.

FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO


O método silábico parte do princípio que se deve ir do “mais fácil” para o “mais difícil”. No início, as sílabas estudadas são semelhantes à “ba-be-bi-bo-bu” e evita-se sílabas mais complexas como, por exemplo, as que tenham encontros consonantais, ou que as consoantes são duplicadas como rr ou ss.
O aluno tem um primeiro contato com as vogais a, e, i, o, u, e logo em seguida com as consoantes. Após esse primeiro contato passa-se à fase seguinte, que é a de formação de sílabas pelo agrupamento entre consoantes e vogais. O passo seguinte consiste em agrupar as sílabas formadas dando origem às palavras. Com as palavras formadas tenta-se criar sentenças, ou então um pequeno agrupamento de palavras soltas.
Uma facilidade didática que o método silábico proporciona é que há muitas possibilidades de ensinar novas palavras com sílabas já conhecidas pelos alunos.

VANTAGENS


  • Facilidade na aprendizagem, uma vez que ao falarmos pronunciamos sílabas e não sons separados. Em relação a esse quesito o método silábico é de melhor apreensão pelo aluno se comparado ao método alfabético.
  • O material didático para a aprendizagem é mínimo.
  • Há correspondências entre a cognição requerida pelo método e a organização mental necessária para a aprendizagem.
  • O conhecimento de palavras novas se dá em pouco tempo.
  • Ótimo método para a aprendizagem de adultos, devido à relação do método com a semelhança do raciocínio lógico que esses possuem.
  • Não é necessário conhecimento profundo da língua. O método é fácil e qualquer pessoa alfabetizada pode ensinar a uma outra qualquer.

DESVANTAGENS


  • Na fase de formação de sentenças as palavras normalmente não guardam relação entre si. Isto, às vezes, gera frases sem sentido.
  • É um método calcado na repetição, o que o torna cansativo.
  • Há demora em compreender o que se está lendo devido à importância que se dá ao conhecimento de palavras novas.
  • O professor que é alfabetizado por esse método tende a ser refratário a outros métodos de ensino.
  • Nos estágios iniciais há uma sobrecarga de memorização sobre o aluno.
  • Possibilidade de se formar um aluno que seja “leitor mecânico” de palavras.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


            Como pôde ser observado, assim como os outros métodos, o silábico possui aspectos positivos e negativos para o ensino de alfabetização e prática da leitura.
            As autoras Isabel Cristina Frade e Gilda Rizzo consideram que o método silábico atualmente possui técnicas variantes que o tornam mais “avançado”, mais "inteligente."A primeira destaca técnicas adotadas por Paulo Freire que mesmo utilizando o método silábico priorizou “o sentido e a compreensão crítica do mundo”.(2005 p.30). O educador escolhia o que chamava “palavra geradora” e a partir dela analisava e sistematizava as famílias silábicas. A “palavra geradora” seria, normalmente, uma palavra que estaria conectada ao cotidiano e a vivência do aluno.
            Gilda Rizzo considera “evolução” uma adaptação feita ao método silábico em que o “som das letras e das sílabas são retirados de palavras conhecidas através de uma análise comparativa”. Essa adaptação leva o nome de psico-fonêmica. Veja o exemplo abaixo.
            CA – CHORRO                     
            CA – VALO                            TA – TU
            CA - BRITO                            TA – MANCO

Ao se pegar as primeiras sílabas de todas as cinco diferentes palavras (CA – TA) damos origem a um novo e diferente vocábulo: CATA.


 

MÉTODO DE PALAVRAÇÃO E SENTENCIAÇÃO



PALAVRAÇÃO

            A palavração surgiu a partir da revolta contra outros métodos de alfabetização. Ela foi introduzida por Commenius na obra Orbis Pictus em 1967, no qual defende a idéia “contra tediosas soletrações, que nada mais são que métodos de tortura da mente”.
As vantagens deste método são a seguinte:



             A palavra é simultaneamente unidade da língua e do pensamento.

  • O enfoque da leitura deve ser dado ao significado do que está escrito, para que se possam desenvolver métodos inteligentes de leitura que desperta o interesse e prazer em aprender.
  • A aprendizagem de palavras como um todo corresponde à forma como adulto e criança percebem idéias, formas e aprendem.

FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO

Neste método as palavras são apresentadas em agrupamentos e os alunos aprendem a reconhecê-la através da visualização. Cada palavra pode ser memorizada pelo seu perfil, e muitos recursos são utilizados para facilitar este reconhecimento. Um desses recursos é a palavra acompanhada por uma figura, e repetição seu reconhecimento estabelece a memorização.

Ex:
     = CASA = MARTELO

O método da palavração é uma adaptação no qual as palavras memorizadas contêm todos os sons da língua e onde os processos de análise-síntese são empregados simultaneamente.

DESVANTAGENS

  • Falhas no desenvolvimento de habilidade em enfrentar palavras novas necessárias à autonomia do leitor.
  • Lentidão no processo que ocorre quando se estabelecem as falhas já citadas.

SENTENCIAÇÃO

Esse método parte da frase para depois dividi-la em palavras, de onde são extraídas os elementos mais simples: as sílabas;
Do ponto de vista mental, o método da palavração, trabalhando com elementos isolados, não favorece a compreensão de um texto e, sob o aspecto fisiológico, é cansativo e não desenvolve a amplificação da área visual.
Do ponto de vista mental, o método da sentenciação falha quanto ao desenvolvimento da compreensão, pois trabalha com frases isoladas. Descuidada também do processo fisiológico, pois a criança aprende a “recitar” as frases sem acompanhá-las com movimentos de olhos adequados e fazendo dessa forma associações incorretas entre o que diz e o símbolo que olha.

VANTAGENS

  • Atender aos princípios ou leis da percepção e modernos conceitos estruturalistas de aprendizagem.
  • Cultivar hábitos e atitudes inteligentes de leitura.
  • Enfatizar o conteúdo ideativo – mensagem.
  • O reconhecimento do som dentro da palavra estabelece, desenvolve e aperfeiçoa os mecanismos corretos de leitura.

DESVANTAGENS

  • Dificuldades, em manter relacionados os assuntos do interesse da turma e o vocabulário a ser estudado.
  • Dificuldade em dar atenção necessária à análise das palavras pelo excesso de tempo gasto com a memorização de sentenças.

Logo o método de senteciação é realmente bem empregado, ela desenvolve diversos hábitos e atitudes necessárias a uma leitura inteligente e completa.

  • Atitudes do leitor ativo
  • Habilidades em extrair as idéias básicas do texto.
  • Atitude reflexiva de leitura.
  • Habilidade de pensamento, leitura e crítica.
  • Habilidade de aplicação inteligente do conteúdo lido.
  • Atitude de interesse e prazer na leitura.

MÉTODO GLOBAL DE CONTOS



            Do ponto de vista histórico que cerca os métodos de alfabetização, apareceu, mais tardiamente, o método global de contos e historietas. Neste método, o ponto de partida é a tomada de um texto. Divulgado em vários estados brasileiros, o método global foi aderido oficialmente nas primeiras décadas do séc. XX.
            Para trabalhar com esse método, eram produzidos os chamados pré-livros, nos quais poderiam conter um texto já conhecido (como foi o caso do pré-livro As mais belas histórias, de Lúcia Casassanta) ou um texto desconhecido, como foi o caso do célebre    O Livro de Lili, de Anita Fonseca.

FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO

            O método de contos apresenta seqüência de sentenças organizadas em forma de história, atendendo aos princípios de interesse e apelo da criança. Isso foi decorrente do resultado da avaliação do conteúdo (ideativo) das sentenças e os interesses, atividades e experiências da vida infantil. Tomando como foco o sentido do texto, o professor encaminhava o processo utilizando-se de textos completos das várias lições seguidas, e, somente após um convívio maior com o texto é que viriam as formas de decomposição,, tomando primeiro a sentença e depois a palavra. Por exemplo, se um livro constasse de 10 lições, o recomendado seria que somente após a 4ª lição se fizesse a fragmentação em sentenças da 1ª lição aprendida. E, quando se estivesse na 6ª lição, se faria a palavração da 1ª lição, e assim por diante.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

      Embora o método global de contos e historietas treine os alunos na habilidade de antecipar e seguir uma seqüência lógica de idéias e relacioná-las entre si, a apresentação fixa das sentenças da cartilha leva o aluno a “adivinhar” as frases seguintes à primeira. Assim, reduz a possibilidade de desenvolver a habilidade de enfrentar textos, sentenças e palavras novas. Torna-se obscuro para o professor se o aluno está de fato decodificando as palavras ou recitando de cor as frases que já conhece.
Ainda: os pré-livros, como O Livro de Lili, possuem textos que não manifestam a mesma linguagem presente em textos autênticos, como o das histórias infantis. Observa-se certa desarticulação entre as frases que o compõe:

" Olhem para mim. / Eu me chamo Lili. / Eu comi muito doce. /
Vocês gostam de doce? / Eu gosto tanto de doce!"         
(FONSECA, Anita.  O Livro de Lili. Cartilha; São Paulo:Editora do Brasil.)


CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Segundo Teberosky[4], a memorização tem um papel importante dentro dos interesses da criança, e é por esse motivo que sempre querem que as histórias sejam contadas repetidas vezes, podendo, assim, participar das frases que já memorizaram. Assim, a criança vai se tornando capaz de narrar por si só as histórias e, mais para a frente, facilitam-lhes a escrita, já que o fato de poder antecipar o texto lhes dá maior fluência na hora de escrever.
            Eglê Pontes[5] sugere uma transformação dos textos das cartilhas, uma vez que os analisa e os caracteriza por ser muito pobres, “elaborados sob critérios puramente “didáticos” sobre um feixe de frases soltas, dificilmente relacionadas entre si”. As crianças, habituadas a manifestar-se livremente, queriam muito mais além do contexto narrado pelos pré-livros, e daí começou, sob a orientação da psicopedagoga, o trabalho de reconstrução do texto. Através de palavras previamente selecionadas pela professora, e colocadas em um flanelógrafo, as crianças liam interessadamente as palavras até então desconhecidas através da escrita e reconstruíam os textos da cartilha.
            Gilda Rizzo[6] ressalta que o método historiado é mais capaz de desenvolver habilidades necessárias à leitura inteligente, como apreender idéias básicas e relaciona-las entre si, além de despertar o interesse pela leitura como fonte de prazer e informação. No entanto, considera as falhas no tocante à negligência em atacar palavras novas.
            Ainda de acordo com Rizzo, hoje, no mundo inteiro, tentam-se combinações dos vários processos, sendo muito raro encontrar uma cartilha ou um método “puro”. No Brasil ainda é, também, muito difícil encontrá-la, dada a penetração e permanência do método silábico (influências sócio-culturais associadas ao baixo nível de formação do professor). De um modo geral, as cartilhas brasileiras apresentam variações sobre a constituição do vocabulário, bem como na seqüência de apresentação das sílabas, sons ou letras. Variam, também, o custo do material impresso e a quantidade e aqualidade do material de apoio. 


 

MÉTODO NATURAL OU DE IMERSÃO



A alfabetização natural é fruto do trabalho realizado primeiramente por Heloísa Marinho, professora e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Pedagógicas (INEP) a partir de pesquisas sobre a linguagem e o vocabulário de crianças nas primeiras séries do ensino de leitura e escrita, sendo mais tarde elaborado e finalizado como metodologia pela pedagoga Gilda Rizzo Soares.

FUNCIONAMENTO E PROCEDIMENTO DIDÁTICO

Este método parte de estímulos sócio-ambientais que visam à construção natural e espontânea de um esquema de leitura, que segundo Soares é “inato no ser humano”. A estimulação desse potencial parte da idéia de que, independente da metodologia adotada os alunos só concretizavam a leitura após relacionar os sons das letras a um vocabulário pré-determinado e de conhecimento do aluno.
Na alfabetização natural o aluno escolhe o vocabulário que quer utilizar e as atividades que quer realizar. Em um primeiro momento esse vocabulário é escolhido através de votação, caso a alfabetização seja grupal. As palavras devem refletir diretamente as vivencias do grupo e suas particularidades. Substantivos, ações conjugadas no presente do indicativo devem ser priorizados nesta fase. O vocabulário vai crescendo e os alunos são motivados a trabalhar com composição das frases incluindo letras maiúsculas no começo de frase e ponto final.
O desenvolvimento da escrita pode ocorrer simultaneamente ou não, com ênfase nos movimentos da escrita, para que favoreça o reconhecimento de qualquer tipo de material impresso. Num segundo momento o aluno é introduzido a aspectos fonéticos estruturais das palavras já memorizadas. Um exercício como a “caçada” estimula a reconhecer sonoramente letras já memorizadas visualmente. A partir daí a criança é capaz de formar novas palavras, tendo aprendido a funcionalidade do som. E na última fase é introduzido o livro de leitura, onde o vocabulário já não se restringe somente ao escolhido no começo do processo de alfabetização. Neste momento o aluno já deve ser capaz de ler e reconhecer sons, conseqüentemente formando palavras livremente.

Algumas das ferramentas desta metodologia são:

  • Vocabulário de apoio: cerca de 35 palavras escolhidas e ilustradas pela turma, todas as letras do alfabeto tem que estar representadas.
  • O sentenciador: será ai que o aluno juntara as palavras e formará frases. As palavras que não conhecem serão representadas por desenho até serem substituídas por palavras.
  • Jogos de leitura: jogos que estimulem e facilitem a memorização das palavras do vocabulário escolhido.
  • A caçada: um procedimento que envolve o reconhecimento fonético de uma palavra segundo semelhança do som inicial com o de uma palavra já memorizada visualmente.



VANTAGENS E DESVANTAGENS

Um aspecto negativo desta metodologia envolve a restrição do vocabulário de leitura e escrita. Os sons e as letras vão sendo introduzidos aleatoriamente o que pode causar uma deficiência em um ou outro aspecto de aquisição. A escrita não é muito estimulada até que se introduza o livro de leitura.
O ponto positivo da alfabetização natural é que ele se dá dentro do contexto pessoal do aluno e de suas vivencias. O tempo de cada um e de sua construção mental de aquisição de leitura pode ser mais respeitado e direcionado de acordo com as necessidades particulares.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




FRADE, Isabel Cristina. Métodos e didáticas de alfabetização – história, características e modos de fazer de professores. Caderno do formador. Coleção Alfabetização e Letramento. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005.

FRANCHI, Eglê Pontes. Pedagogia da Alfabetização – da oralidade à escrita. São Paulo: Cortez, 1988.

SOARES, Gilda Rizzo. Estudo comparativo dos métodos de ensino da leitura e da escrita. 4 ed. Rio de Janeiro: Papelaria América Editora, 1986.

TEBEROSKY, Ana e CARDOSO, Beatriz. Reflexões Sobre o Ensino da Língua Escrita. Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1990.

SITES CONSULTADOS

Métodos de alfabetização:


[1] Menzel, Emil W. “Suggestions for Teaching of Reading in India” Oxford University, 1944.
[2] Anderson, Irving H. e Dearbon, Walter “The psychology of Teaching Reading” – New York, 1952.
[3] Huey, Edmund “The psychology and Pedagogy of Reading” – New York, 1952
[4] TEBEROSKY, Ana, CARDOSO, Beatriz. Reflexões Sobre o Ensino da Língua Escrita.. ed. Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas; 1990.
[5] FRANCHI, Eglê Pontes. Titulo:, Pedagogia da Alfabetização - Da oralidade a escrita- . São Paulo, Cortez, 1988.
[6] SOARES, Gilda Rizzo. Estudo comparativo dos métodos de ensino da leitura e da escrita. 4 ed. Rio de Janeiro: Papelaria América Editora, 1986.

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